5.02.2008

Fórmula Sui Generis

.
Atenção:
este texto foi escrito sob forte influência emocional da música de quem ele trata.





Faz algum tempo que tenho tentado escrever um post sobre o Sui Generis, primeira banda de Charly García, ícone do rock argentino. Coloquei um vídeo neste post algumas semanas atrás, "Confesiones de Invierno" tocada ao vivo no Luna Park, histórico palco de shows da capital argentina há 76 anos.

Desde então, o Sui Generis tem sido a trilha sonora de praticamente todos os meus dias. Chego até a sentir falta quando não escuto. Menos mal que a falta faz bem ao meu julgamento sobre a banda, que melhora proporcionalmente aos dias que deixo de escutá-la.

Dá até para fazer uma equação - J=2.D.
J é o meu julgamento da banda. D é os dias que eu não escuto.

O brabo é que, quanto mais escuto e melhor fica meu julgamento, mais difícil é ficar mais dias sem escutar Sui Generis. Meu único precedente desse tipo de relação na música foi os Beatles; fiquei muitos dias sem escutar, e quando voltei tive de buscar tudo que tinha na rede sobre eles para aplacar minha vontade. Só me contentei quando escutei todos os discos "oficiais" e os 6 CDs do Anthology novamente, o que demorou algum tempo.

Com essa relação, de, digamos, "necessidade auditiva", dá para fazer outra equação - N=2.J.
N
é a 'necessidade auditiva' e J é o já conhecido julgamento.

Ou seja, a questão vai tomando proporções gigantescas, na medida que, quanto mais dias fico sem escutar a banda, mais fico gostando - meu julgamento sobre ela vai melhorando; e, quanto maior é meu julgamento, maior é a necessidade de escutar a banda novamente. Se for unir as duas fórmulas, substituindo o 'J' pelo 'N' divido por 2, que é o processo lógico da união das duas equações, têm-se N=4.d

Isto significa que quanto mais dias ficar sem escutar, mais terei necessidade de escutar a banda - ou seja, maior a "necessidade auditiva".

Pois bem. Agora me lembrei que com os Beatles fiz o mesmo processo lógico destas equações. E o resultado foi óbvio - e lógico também: a minha necessidade de escutar fica tão grande que se criou um número absurdo, comprovando que, em música e em diversas outras relações culturais, não dá para botar matemática no meio.

Pelo menos não com o conhecimento em matemática que tenho.

****

Ainda farei um post sobre o Sui Generis, que não é uma banda que se compare aos Beatles em nenhum sentido - só o pseudomatemático, talvez - mas, como disse um amigo meu, se tivesse talento para fazer música e, principalmente, letra, gostaria de fazer como o Sui Generis.

Por enquanto, coloco outro vídeo da banda, "Canción para mi muerte", do primeiro disco Vida, de 1972, mais folk e menos experimental que os que se seguiriam à este. Repare no clima "paz e amor" da juventude argentina atirada pelos gramados do parque. Charly García é o que toca piano "ao estilo John Lennon" e Nito Mestre é rapazito de violão em punhos.


.

5 comentários:

Anônimo disse...

Acompanho, sempre que posso, o teu blog, Leonardo. Constitui uma referência musical, dentre outras, muito boa pra mim.
Não conhecia Sui Generis até acessar o teu blog nessa semana. Depois que você e seu blog o apresentaram a mim me tornei uma apreciadora compulsiva dessa banda. Assim que entendo cada uma das suas equações... Sui Generis tem sido uma experiência latinamente sui generis nos meus dias. Mais do que Bob Dylan até. (hehe)
Abraço e continue "alimentando" seu blog com coisas boas, mundanas, mágicas, loucas. Enfim, com música que é mais do que música.
Rubia Wegner

Anônimo disse...

Maravilha, Leonardo, ler novamente sobre a banda Sui Generis. Impressionante o quanto essa composições são poéticas. Há vezes que só ouço a letra e fico saboreando a sensibilidade do compositor. Noutras eu me pego pela melodia. E a sensação é de movimento, de estar num caminho agradável. O mais comum, porém, é eu sentir poder de uma canção sui generis. E a letra ganha seus significados mais profundos com a parte musical, uma parte colada na outra - nem sei como me atrevo a separar essas aí!

Eu fico, como você, numa necessidade auditiva danada. "Confesiones de Invierno" não me sai do pensamento há muito tempo. De repente me escapa "el televisor inútil...". E logo cantarolo "y la radio a todo volumen". Não dá para evitar.

Gostei da tua criativa abordagem matemática. Por misturar lógica matemática com emoção. Aliás, não é diferente do músico que prepara a métrica de um verso para adequar ao compasso. E esse sujeito vai lá e dá suas soluções que extrapolam nossos conhecimentos argumentativos e lógicos. Organiza tanto que nos confunde de um modo soberbo. Aguardamos por futuros posts sui generis, meu caro!

Ben-Hur

Leonardo disse...

Bah, é por essas e outras que eu estudo, faço e defendo blogs.
Muito obrigado pelo comentário, Rúbia. Tu não faz idéia de como é bom saber que aquilo que faço no blog tem alguma importância para outras pessoas.

E Ben-Hur, te respondo em detlahes pessoalmente, mas te aviso que terá mais posts sobre o Sui Generis sim - até porque os que fiz até aqui foram somente de dicas, nenhum mais aprofundado.

Augusto Paim disse...

Che, com tantos comentários qualificados, acho que o meu não vem pra acrescentar... eheheheh.

Como tu tava inspirado quando escreveu esse texto! Realmente uma bela maneira de apresentar a banda (eu fiquei louco para baixar um disco, mas não tem o link...).

E o curioso é que comecei a ler o Homem que Calculava... Ando com matemática na cabeça, e esse texto só vem ao encontro!

Muito legal mesmo, Léo.

É por essas e outras que tem que se defender o bloguismo mesmo! Parabéns!

Anônimo disse...

Estás certo em defender, em perseverar no teu trabalho como blogueiro.
E quem tem que agradecer sou eu pelos teus posts aqui!
Abraço!