10.28.2006

Castelhanos melódicos (2)

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O Callejeros tenta se reerguer depois de ser protagonista de uma das maiores tragédias da história do rock argentino



Noite de 30 de dezembro de 2004, Buenos Aires, Argentina. Para comemorar o seu excelente ano, a banda de rock Callejeros, que ainda colhia os louros do sucesso do seu terceiro disco, Rocanroles sem destino, organiza um show na conhecida boate República Cromañon. O público lota o local, quatro mil pessoas na expectativa de ver uma banda que há menos de seis meses tocava para pequenas platéias e hoje lota estádios para 15 mil pessoas. Envolto de um aparato pirotécnico com fogos de artifícios e muitas luzes, o Callejeros adentra ao palco. Os gritos de delírio dos fãs não chegam a ter como resposta a música da banda, porque antes disso um dos foguetes lançados atinge o teto da boate, que pega fogo, desaba e corta a energia elétrica de todo o local. As saídas de emergência não funcionam como deveriam, as quatro mil pessoas espremidas não conseguem se mover direito, o resgate demora a chegar. Algumas horas depois, começa a inevitável contagem dos mortos e feridos: 193 mortos, e mais outros tantos feridos.


Um dos inúmeros protestos dos parentes das vítimas do incêndio em Cromañon, que matou 193 pessoas


Por motivos nada musicais, o Callejeros se torna capa das principais revistas e jornais argentinos; alguns acusam a banda de irresponsabilidade, outros acusam os donos da boate de negligência, já que há muito tempo o local apresentava diversas falhas na parte da segurança. Em meio a depoimentos e esclarecimentos, e ainda sendo alvos da ira dos pais das vítimas, os integrantes da banda não tem outra solução se não a de dar um tempo.



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Corta para este ano, mais precisamente na primeira metade dele. Ainda sendo investigados como cúmplices das mortes pela justiça argentina, o grupo decide voltar. Sem alarde, lança o quarto álbum, “Señales” , na mesma linha de antes (uma mistura bem sucedida do rock’roll tradicional com o ska e o pop) e aos poucos prepara a sua volta. Em 21 de setembro deste ano, organizam o primeiro show oficial depois da tragédia de Cromañon num estádio de Córdoba, região central da Argentina. Vinte mil pessoas vão ao estádio, e dessa vez o show é tranqüilo, sem pirotecnia, e com os sobreviventes da tragédia em lugares gratuitos, na frente do palco.Seria mais fácil – e ao mesmo tempo deprimente – uma banda de qualidade acabar em depois de uma tragédia, mas não é o que Christián Torrejón (baixo) Eduardo Vazquez (bateria), Elio Delgado (guitarra), Juan Carbone (sax), Maximiliano Djerfy (guitarra e vocais) e Pato Fontanet (vocal), os seis integrantes do Callejeros quiseram.





Quatro dos seis Callejeros em atividade, no show da volta da banda, em Córdoba, no final de setembro.



- Jornal A Razão, 26 de Outubro de 2006 -




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Quem quiser conhecer um pouco mais da banda pode acessar o site oficial . Ou então ver o clipe de "uma Nueva noche fria", talvez o maior hit dos Callejeros.


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10.26.2006

Notas(5): Novidades na programação radiofônica da cidade

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Boa parte da juventude de Santa Maria que escuta seguidamente rádios sente falta de um programa musical realmente de qualidade, que também passe informações e, principalmente, não trate o ouvinte com gírias modernosas e imbecilizantes. A Rádio Universidade (800 AM), de uns tempos pra cá, vem sendo a única a tentar reverter esse caminho, mesmo que seja em esparsos programas como por exemplo o “Atitude Rock”, comandado pelo jornalista Homero Pivotto Júnior, no ar toda quarta-feira das 21h às 23h.
Uma outra opção que surgiu recentemente (precisamente um mês atrás) é o programa Pró-Música, produzido e apresentado pelos estudantes de jornalismo da UFSM Raero Monteiro, William Araújo e Jefferson Dornelles, que vai ao também nas quartas, logo depois do Atitude Rock, das 23 às 24h.


Apaixonados por música e rádio, os três estudantes abordam em cada programa um estilo musical, trazendo informações, entrevistas e, obviamente, muita música. No de ontem, foi a vez do Manguebeat, e a entrevista foi com o vocalista e líder do Mundo Livre S.A, Fred Zero Quatro.
Na semana que vem, o pessoal falará sobre o samba-canção, contando com a presença (pelo telefone) dos saudosos Cauby Peixoto e Agnaldo Rayol. Quem não puder acessar a rádio no horário do programa pode fazer o download dos arquivos completos no blog www.promusica800am.blogspot.com, que também funciona como o canal de comunicação com os três estudantes. Também dá para achá-los no Orkut, na comunidade “Pró-Música”.


- Jornal A Razão, 26 de Outubro de 2006-



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10.23.2006

Review (3): I Want it Loud!

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Coletânea de 12 nomes do rock independente mostra o que todo mundo já sabia: se o mainstream brasileiro anda cada vez pior, o circuito independente é cada vez melhor



Wonkavision, Netunos, Nervoso e os Calmantes, Canastra, Eddie, The Feitos e Nelson e os Gonçalves são nomes relativamente conhecidos no underground nacional. Poderiam tocar em rádios pop, ter discos em lojas conhecidas, fazer shows nos mais variados lugares do país - enfim, deixar de ser conhecidos apenas pelo "mundinho" alternativo - se o nosso mainstream não fosse tão pobre, sempre à procura do próximo fantoche de cara bonita a ser manipulado e que se adeque a maquininha de músicas pré-programadas que toda grande gravadora parece ter. Enquanto isso não acontece (e sabe-se lá se esse futuro deixará de ser uma utopia algum dia), o que resta a essas bandas é se juntar, dividir os custos e gravar uma coletânea da melhor qualidade.

O disco começa com os gaúchos do Wonkavision, que fazem um power-pop na melhor linha dos britânicos Teenage Fanclub e dos grandes pais do estilo, o Big Star, de Alex Chilton. Seguem depois o rock'roll sessentista e jovem-guardista dos Netunos, com a bela faixa "Nosso dia" (que lembra bastante a finada Video Hits), os cariocas do Nervoso e os Calmantes e a deliciosa "Candidato a amigo", que conseguem a proeza de fazer um som de teclado de churrascaria casar perfeitamente com a letra assumidamente cafona.





O Canastra vem com "Diabo apaixonado", um rock/surf music pra lá de dançante, com umas pitadas do jazz Dixieland, um dos primeiros estilos musicais surgidos neste século e influência assumida do grupo. A quarta faixa é de Maurício Negão, "Madalena", um pouco mais rock que as anteriores, mas ainda com um espírito divertido e irônico, que parecem ser a tônica de todo o álbum. Os pernambucanos do Eddie, veteranos na cena alternativa nordestina, trazem o único samba do disco (e uma das melhores faixas da coletânea), "Pode me chamar", um samba que consegue ser moderno e clássico ao mesmo tempo, sem prejuízos de nenhum dos lados. Os cariocas do The Feitos vem com o pujante rock'roll "Pombas" , do divertido refrão " Ela me falou pra não largá-la, mas eu não me liguei por não amá-la, então ela fez macumba/ a vida não podia estar pior". Fechando o disco vem a faixa mais estranha, o eletro-rock "Viciado em Rock and Roll" , do Taw, outra banda carioca.

Organizada pela finada revista de quadrinhos Mosh! e pelo pessoal da tradicional festa carioca "Loud", o belo encarte do disco ainda consegue reunir o melhor dos dois mundos: tem 5 histórias em quadrinhos que tem como cenário a festa Loud!



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Quem quiser conhecer mais as bandas, ou escutar algumas músicas de cada uma, pode acessar os sites (oficiais ou não) das bandas:

Eddie
Wonkavision
Nervoso e os Calmantes
Canastra
The Feitos
Nelson e os Gonçalves

Ou então a parte do site da gravadroa Rastropop que fala do disco.



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10.19.2006

Ô coisa boa!

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Chegou por aqui a Rolling Stone Brasil.

Muitas páginas, muitos textos legais, muitas fotos, muitas resenhas, muita música (mas também política, moda, cinema...). Não lembro quando pensei no "o que vou fazer quando crescer" e escolhi jornalismo, mas tenho convicção que a Rolling Stone - e o filme Quase Famosos, que me apresentou à revista - tem alguma parte de culpa por isso.

E a Rolling Stone Brasil é tudo aquilo que se espera: tem muito jornalismo literário (por vezes, até demais), grandes entrevistas (Bob Dylan, Jack Nicholson - que é autor de uma já clássica frase: "Minha reação ao 11 de setembro foi a seguinte: vou passar um tempo fazendo comédias" - e , acima de tudo, personalidade, opinião própria, ousadia, algo que anda em falta por aqui. E vem com adesivos ainda.

Comprem, porque é o que diz o lendário editor da revista, Jan Winner: "opinião é o que importa, filho".



p.S: Desculpa a empolgação, mas é difícil segurar...



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10.17.2006

Os castelhanos e suas belas melodias (e letras)

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É sabido que, infelizmente, o brasileiro médio conhece muito pouco do rock argentino. Não tão sabido é que o argentino - e o uruguaio, chileno, colombiano... - conhece o nosso rock e a nossa música em geral muito mais do que conhecemos a deles. A ponto de novo álbum do Chico Buarque ter uma resenha na edição deste mês da Rolling Stone Latino América. Tudo bem, Chico Buarque é quase uma unanimidade por aqui, e em toda a América Latina são poucas as unanimidades no mundo da música. Mas o que faz a diferença é o tom da resenha, que trata o novo álbum do artista, Carioca, como um "velho conhecido", usando termos e informações que muitos de nós brasileiros nem sabemos - e olha que o Chico constanstemente é citado como o "maior" brasileiro vivo, o "grande artista nacional", entre outros exageros (?) que usam para designar o compositor.


Outro exemplo: o Los Hermanos recentemente esteve fazendo show em Buenos Aires. No dia do show, quinta-feira 5 de outubro, saiu uma bela matéria sobre a banda no Clarín, o mais vendido jornal argentino. Bela matéria mesmo, explicativa, contando toda a história da banda até então, desde as polêmicas com "Anna Júlia" até o recente álbum, 4. Quando que se viu algo desse tipo sobre uma banda argentina em qualquer jornal brasileiro? Pelo menos aqui no sul, há algum tempo que rock argentino - e castelhano, por tabela - é o Fito Paez, e, em menor escala, o Charly García . (Esses dois são monstros sagrados na Argentina, desde o final dos anos 70 e início dos 80 na ativa). Só duns tempos pra cá que o Jorge Drexler, que é mais próximo da nossa mpb que do rock, vem ganhando algum destaque por aqui - mas, convém realçar, que esse destaque é mundial, e ele só ganhou espaço no Brasil porque ganhou espaço no mundo inteiro também.







Mas, enfim, essa é apenas a introdução, o assunto principal é a banda argentina Estelares. Formada no início da década de 90 pelos platenses (da cidade de La Plata, perto de Buenos Aires) Manuel Moretti (guitarra, voz e a maioria das composições) e Víctor Bertamoni (guitarra), os Estalares pertencem a uma tradição bastante forte na Argentina, o rock de guitarras possantes, melodías pop e letras de amores perdidos/conquistados. Algo como o power-pop - de bandas como Big Star e a sua afiliada mais direta, a escocesa Teenage Fanclub -, onde as melodias parecem sempre querer ficar na cabeça de quem escuta. É um "estilo" que teve como grande expoente os Beatles em sua fase inicial, 63-66, onde as letras versavam exclusivamente sobre o amor, e as melodias eram, na falta de termo melhor, o epíteto do "pop" - belas, grudentas, bem feitas, guitarras, bateria, baixo e principalmente vocais harmoniosamente encaixados de modo a provocar um bem-estar em quem escuta.


Os Estelares se filiam a essa tradição com louvor, mas também, como argentinos que são, vão além, misturando influências dos grandes poetas tangueiros nas letras, que por vezes lembram narrativas boemias de um beatnik apaixonado. No quarto álbum da banda, o recém-lançado Sistema Nervioso Central, o vocalista Moretti abusa da primeira pessoa, por vezes até se citando nas canções, como em "Ella dijo", que conta a história de uma mulher que só quer ir para cama com o vocalista, e nada mais que isso. A letra, auxiliada pela bela melodia levada no violão, funciona como um conto de amor nos tempos modernos, onde Moretti explode - vagarosamente, diga-se - no refrão cantando, agora em 3º pessoa, "eu disse que tu não és o meu amor", como se fizesse um desabafo depois de um bom tempo de conversa recheada de uma absurda tensão sexual.


Outra canção marcante do disco é "Um día perfecto". Como nos melhores momentos das melodias power-pop, ela anima, dá esperança até mesmo para aquele depressivo no mais melancólico dos dias - ou, então, cria esperança mesmo para o sujeito depois de mais um fora da sua tão amada e desejada musa.

Em "El corazón sobre tudo", a letra é tão romântica que, para nós brasileiros, destoa para o brega. Não que isso seja um problema: mesmo por aqui, os retratos mais fiéis dos apaixonados talvez tenham sido produzidos pelos compositores da dita canção popular, ou brega até: Roberto e Erasmo Carlos, Odair José, Bruno e Marrone, dentre outros. Nada mais natural, pois as situações de desencontros amorosos acontecem em um ambiente imerso de referências ao brega, e o exagero, que talvez seja uma das principais características do estilo, ganha ares de normalidade nestes casos.


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Para escutar algumas músicas dos outros discos da banda, entre no site da banda.


Ou então baixe as três abaixo:

"Ardimos"

"Un día perfecto"

"Ella dijo".



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10.13.2006

Notas (4)

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Boate do DCE aos sábados



A tradicional boate do DCE, que costuma rolar toda a sexta-feira, está atualmente fechada devido ao período de férias do pessoal da graduação da UFSM. Ainda assim, nos sábados o local vem sendo sede de alguns eventos especiais, que nada tem a ver com a organização da boate. Um desses eventos foi o Ocidente Hard Festival, que aconteceu no dia 23 de setembro. Promovido pelo pessoal do programa Pantha Rei - que mistura filosofia, música e poesia e está a mais de três anos no ar na Rádio Universidade –, o festival contou com a participação das bandas Hard West, Galaxie Blue e Scarpast, de Santa Maria, e mais a Elite Rock Band, de São Pedro, e a Infinity, de Ibirubá.

Mesmo sendo num sábado, a boate praticamente lotou, não ficando atrás do que normalmente acontece nas sextas-feiras, quando a boate é organizada pela entidade estudantil. Um desavisado que não soubesse que a UFSM está em férias e entrasse na boate poderia até achar que fosse uma sexta-feira tradicional, se não fosse um detalhe: o público. Talvez tenha sido a maior concentração de camisetas pretas e cabelos longos em muito tempo em Santa Maria.





O próximo evento especial de sábado na boate está marcado para amanhã, e promete igualmente uma reunião de camisetas pretas e cabeludos: o Obscure Faith Festival II. Auto-intitulado o “maior evento de metal extremo do estado”, o festival contará com apresentações das bandas santa-marienses Soul’s Gallery (death metal) e Envoutment (black metal) e mais quatro outras do Estado: Tiwaz (black metal), Hateworks (death metal), Mental Horror (death metal) e Pilatus (black metal). Os ingressos custam R$ 7,00 antecipado na Exclusive discos e R$10,00 na hora. Estudantes universitários com carterinha não pagam nada. Mais informações sobre o festival com o Zé, que é quem está organizando o evento, pelo telefone 81117152 ou o email thesorrowsoul@gmail.com. A foto acima é a do belo cartaz do festival.


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10.05.2006

Rock sem frescura

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A Los Vatos, banda porto-alegrense de rock-punk, toca amanhã em Santa Maria junto dos locais da Three Little Pigs


A melhor frase para definir o som da banda Los Vatos é uma que eles mesmos criaram: “A atitude é punk, o rock é básico”. Criado em 1998, a banda vem amanhã à Santa Maria lançar o segundo Cd oficial e o primeiro DVD ao vivo, gravado no ano passado no histórico bar Garagem Hermética, em Porto Alegre. O show vai rolar no Macondo bar, e também terá a presença da Three Little Pigs, banda de hardcore daqui de Santa Maria.

Formada por Nery (baixo e vocal), Sérgio (guitarra) e Luiz (bateria), a Los Vatos é conhecida no país por suas apresentações explosivas e cheias de vigor, sendo que no último Ruído Festival, um dos festivais mais importantes do underground nacional, a revista de música Dynamite considerou o show da banda como um dos melhores do festival. O som da banda é um rock’roll básico, beirando o punk rock e o hardcore, com letras simples e diretas, tudo sem muita frescura, rápido e rasteiro. Quem quiser conhecer mais a banda pode acessar o site deles, www.losvatos.com.br, e o www.tramavirtual/losvatos. Nos dois dá para escutar músicas da banda.

Abaixo o cartaz dos shows:






- Jornal A Razão, 5 de outubro de 2006 -

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