3.29.2007

Capítulo final da Casa Verde?

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De maneira inusitada, banda santa-mariense anuncia seu último show para hoje à noite no Macondo, na festa “Lost Generation


É uma situação atípica desde o seu princípio: uma banda que raramente faz show será entrevistada quando, anuncia-se, fará a sua última apresentação. As perguntas inevitáveis sobre o futuro da banda, quais os próximos projetos, etc, são trocadas pelas “mas, afinal, porque vocês vão acabar?”. Marcelo Cabala, percussão e voz, explica que Jackson (Xinico, como é conhecido), guitarra, voz e líder da banda, não quer mais tocar com a banda. “Ele tem pouco tempo para ensaiar”, diz Cabala. Para completar o inusitado da situação, Xinico teve de sair mais cedo na entrevista e não teve tempo para dar a sua versão. Alexsandro, baixista da Casa (e que também toca na TSF), confirma a opinião de Cabala, e a resposta fica, por falta de outra melhor, dessa forma: “a banda vai acabar porque o Xinico não tem mais tempo para tocar”.

Criada em 2000, a Casa Verde já passou por inúmeras formações, com variações que iam desde duas guitarras e teclado até a atual, um quarteto de baixo, guitarra, voz, bateria e percussão. Os únicos remanescentes em todas as formações são Xinico e seu irmão, Chiquinho, que toca bateria. A banda tem um CD demo gravado com 12 músicas próprias, que passeiam por um “pop-rock alternativo”, como define Cabala, com referências que vão de Legião Urbana e Pato Fu à Weezer e Raul Seixas. As canções tem nomes como “Apague a luz”, “Ficar aqui”, “Perto de alguém”, “Amanheço e Anoiteço”, todas composições do vocalista/guitarrista. Merece destaque ainda a faixa intitulada “Casa Verde”, uma homenagem à mãe do vocalista.


Alexsandro, Cabala, Chiquinho (na bateria, escondido por Cabala), e Xinico em show no Seattle.


Pelas músicas contidas nesse CD, já dá para se lamentar o término da banda. Em tempos que pop-rock é quase sinônimo de música exclusivamente comercial e “fabricada”, é interessante ver canções pop honestas, sem excessos de melosidade ou apenas uma mera repetição de fórmulas batidas. Apesar de Alexssandro e Cabala confirmarem que esse é o último show da Casa Verde, fica o recado para Xinico: é o último mesmo?

-Jornal A Razão, 29 de março de 2007-

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3.27.2007

Os melhores álbuns do século XX (9)

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O penúltimo da lista dos 10 melhores discos do século XX escolhidos pela Rolling Stone é o segundo de Dylan na lista: Blonde on Blonde





Blonde on Blonde é o 6º album de estúdio de Dylan, gravado no período que vai de outubro de 1965 até março de 1966 e lançado em maio deste mesmo ano, logo depois daquele que é considerado o seu melhor disco, Highway 61 Revisited (que já foi apresentado aqui).

Considerado o primeiro disco duplo da história gravado em estúdio, "Blonde on Blonde" é fruto da época mais criativa de Dylan, onde ele, em intervalos de menos de um ano, conseguiu compor boa parte dos maiores clássicos da música americana do século passado.

O disco foi gravado em Nashville, a capital americana do country, e foi produzido por Bob Johnston, também produtor dos seus primeiros álbuns. Logo que lançado, foi alçado a 9º lugar na parada da Billboard americana, e em 3º na inglesa.

Sem mais detalhes técnicos, deixo o lado emocional (e ao mesmo tempo informativo) para o texto abaixo, escrito novamente pela excelente Ana Maria Bahiana, retirado da seção Discoteca Básica, da Revista Bizz.

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Tente imaginar o seguinte: você tem 25 anos; nos últimos cinco anos de sua vida, você se tornou, primeiro, um campeão dos direitos humanos, herói da política estudantil, trovador querido dos universitários e de todas as colorações da esquerda. Depois, numa velocidade que lhe parece absolutamente alucinante, você se viu no trono do estrelado pop, adorado agora por multidões de jovens. Só alguém foi tão famoso em seu país, os Estados Unidos: Elvis Presley era um bronco, um ingênuo, uma criatura de seu empresário. E você, não: você sofre de lucidez crônica, muitas vezes paranóica, um lirismo brotando pôr todos os poros, uma consciência crítica que não o deixa dormir. Você leu, foi ao cinema, gosta de poesia. Mas, hoje, na América ninguém é mais famoso do que você.

Foi nesse contexto que Bob Dylan criou "Blonde on Blonde", um álbum duplo vital, obsessivo e transformador, capítulo derradeiro no livro número um de sua biografia. "Blonde" foi lançado em maio de 66. Em julho, Dylan foi cuspido fora de sua moto Triumph 500, nas cercanias de Woodstock e, com várias costelas quebradas, suspeita de fratura de crânio e lesão cerebral, viu-se confinado a uma cama de hospital pôr três meses, seguidos de mais um ano de afastamento da vida artística - começava aí o livro dois de sua vida. Mas voltemos atrás.

Voltemos ao jovem Dylan pop star, recém-casado com Sarah Lowndes - artista plástica, poetisa, adepta do zen-budismo -, consumidor de anfetaminas, excursionando sem cessar de uma costa à outra da América e, nos intervalos, ainda achando tempo para sessões de gravação nos estúdios da Columbia, em Nashville. O jovem Dylan que, no ano anterior, chocara o mundo careta e bem-pensante do festival folk de Newport, subindo ao palco com uma guitarra elétrica ao pescoço, e que, na seqüência, colocara no topo das paradas de sucesso uma longa diatribe sobre os rigores da vida errante, "Like a Rolling Stone".

Todos e cada um desses elementos, características de um momento rico mas tenso de sua vida, estão na música mercurial de "Blonde on Blonde", um álbum duplo mas não muito - o lado D é inteirinho ocupado por "Sad Eyed Lady of the Lowlands", uma pungente balada de adoração a Sarah onde Dylan atinge o auge de sua capacidade poética de expressar amor.

"Sad Eyed" acaba sendo um dos raros momentos de serenidade num álbum que respira a energia nervosa da anfetamina. Outro instante de doçura é também uma balada de amor - "Visions of Johanna"; no caso, um adeus sentido mas terno a um grande ex-amor, Joan Baez. Muitos vêem em "Sad Eyed" quanto em "Johanna" as primeiras manifestações de sentimento realmente religioso em Bylan, a busca de uma dimensão metafísica, espiritual, para a existência.

A maioria dos músicos de Blonde... é de feras de Nashville, do country & western, portanto. Para afiar o gume cortante, ele acrescenta o grande guitarrista de blues, Al Kooper, e seus amigos canadenses e rockers, Levon e Robbie Robertson, do grupo que viria a ser The Band. Órgão, guitarra e harmônica formam o coração elétrico da sonoridade e o disco todo é puxado nos agudos, um som nervoso, quase diáfano. Nos textos, atrás de uma bateria de metáforas, Dylan despeja rancores, paranóias e um insistente pedido de trégua. Ele tem raiva dos hipócritas em "Leopard-Skin Pillbox Hat", das amantes mentirosas em "Just Like a Woman", das situações irremediáveis em "Memphis Blues Again". Não há solução, diz a voz mercurial, ou melhor, a solução é "todo mundo ficar chapado" (ou "ser apedrejado", os dois sentido de "get stoned", refrão crucial da faixa de abertura, "Rainy Day Women 12 & 35").

Ana Maria Bahiana

Faixas:

Lado 1

  1. "Rainy Day Women #12 & 35" – 4:36
  2. "Pledging My Time" – 3:50
  3. "Visions of Johanna" – 7:33
  4. "One of Us Must Know (Sooner or Later)" – 4:54

Lado 2

  1. "I Want You" – 3:07
  2. "Stuck Inside of Mobile with the Memphis Blues Again" – 7:05
  3. "Leopard-Skin Pill-Box Hat" – 3:58
  4. "Just Like a Woman" – 4:53

Lado 3

  1. "Most Likely You'll Go Your Way (And I'll Go Mine)" – 3:30
  2. "Temporary Like Achilles" – 5:02
  3. "Absolutely Sweet Marie" – 4:57
  4. "4th Time Around" – 4:35
  5. "Obviously 5 Believers" – 3:35

Lado 4

  1. "Sad Eyed Lady of the Lowlands" – 11:19

Para baixar o disco, clique Aqui.


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3.20.2007

Curtas férias

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A partir de hoje, e até terça-feira dia 27, 0 Cenabeatnik entra de férias forçadas pelas diversas ocasiões acumuladas durante esses últimos meses.

Ele promete voltar com algumas melhorias e novidades, fora a que já pode ser antecipada hoje: o blog, a partir desta última sexta-feira, é produzido por um formado em Comunicação Social - Habilitação Jornalismo, pela Universidade Federal de Santa Maria, e não mais por um formando.

Por um um jornalista, pode se dizer, um comunicólogo, ou, ainda, por um bacharel em Comunicação Social - Hab. Jornalismo, como fica mais oficial. Ainda mais enquanto não se tem um emprego fixo.



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3.14.2007

Graforréia Xilarmônica em SM

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Sete anos depois do encerramento, uma das bandas mais influentes do rock gaúcho volta às atividades e faz show em Santa Maria neste sábado.


No rock gaúcho recente, do final da década de 1980 até hoje, não existe banda que mais influenciou outras do que a Graforréia Xilarmônica. A mistura de sonoridades (rock’roll, jovem guarda, surf music, música nativista, tropicalismo, dentre outras), as mudanças de andamento bruscas, que lembram uma música erudita desconstruída, as letras de um bom humor tosco e pra lá de irônico, a linguagem urbana típica do gaúcho de Porto Alegre: são todos elementos que, através da Graforréia Xilarmônica, tornaram-se símbolo do que o país inteiro chama de “rock gaúcho”. De tanta gente que influenciou, a Graforréia se tornou um daqueles casos de banda mais reconhecida por outras bandas e músicos do que pelo próprio público. Ou, como também se diz, “uma banda à frente do seu tempo”.

Formada em 1987 por Frank Jorge (baixo e vocal), Marcelo Birck (guitarra e vocal), Carlo Pianta (guitarra) e Alexandre Ograndi (bateria), a Graforréia lançou o seu primeiro disco somente em 1995, o “Coisa de Louco II”, considerado por muita gente da crítica musical como um dos vinte melhores do rock nacional de todos os tempos. É dele um dos grandes clássicos da música produzida aqui no estado, “Amigo punk”, dos inesquecíveis versos:

"Amigo punk, escute este meu desabafo
a esta altura da manhã já não importa o nosso bafo
pega a chinoca, monta no cavalo e desbrava essa coxilha
atravessa a Osvaldo Aranha, entra no parque Farroupilha”

Três anos depois, veio o segundo disco, “Chapinhas de Ouro”, não tão bom quanto o primeiro, mas ainda assim uma excelente coleção de canções das mais diversas sonoridades, com destaque para a faixa “Eu”, regravada pela banda mineira Pato Fu.

Já sem Marcelo Birck, um dos dois compositores principais (o outro é Frank Jorge), a banda decide encerrar “oficialmente” as atividades em 2000. “Oficialmente” entre aspas mesmo porque, de vez em quando, os três integrantes remanescentes ainda tocavam juntos, em shows esparsos em Porto Alegre. Mas cinco anos depois, eles decidem voltar “oficialmente” e gravam o seu terceiro Cd, “Ao vivo”, lançado pela gravadora Senhor F discos no final do ano passado e produzido por Kassin (Los Hermanos, Caetano Veloso) e Berna Ceppas.




É na tour deste Cd que Santa Maria recebe a Graforréia neste sábado, no Macondo Bar (veja o cartaz aqui), a partir das 22h, em festa que comemora os dois anos do bar.
Os ingressos custam R$ 10,00 e estão à venda na loja anexa ao Macondo, a Sick Machine. Na hora, sai R$ 12,00. Boa chance para ver uma das bandas mais criativas já nascidas no RS, e, de quebra, entender que diabos é esse tal rótulo de “rock gaúcho”.

Blog da banda:
http://ranchodealvorada.blogspot.com
Site: http://www.graforreiaxilarmonica.com.br


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3.13.2007

Os melhores álbuns do século XX (8)

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Escolhido como o oitavo lugar na lista dos 10 melhores álbuns do século passado pela Rolling Stone está London Calling, do The Clash.






Terceiro disco do Clash, "London Calling" é um álbum duplo, gravado na Inglaterra em 1979 e lançado no ano seguinte nos Estados Unidos. Foi um enorme marco para o rock e, principalmente, para o punk-rock, mostrando que também se pode fazer punk mesmo tocando reggae, ska, rockabilly e até jazz.

A linda foto da capa, tirada por Pennie Smith, é o baixista do Clash, Paul Simonon, quebrando o seu baixo no show de 21 de setembro de 1979, no The Palladium, em Nova York. Uma das mais conhecidas fotos de capa de disco, ela foi escolhida pela revista inglesa Q como a melhor foto de rock'roll da história.
A estética da capa do disco, das letras escritas o nome da banda e o nome do disco às cores usadas, é claramente inspirada no primeiro álbum de Elvis Presley (veja aqui a capa do álbum de Elvis).

A excelente resenha abaixo, escrita pela grande jornalista e escritora Ana Maria Bahiana (aqui tem um texto dela sobre a primeira edição da Rolling Sotne brasileira, nos anos 70, na qual ela foi Secretária de Redação) para a seção Discoteca Básica da revista Bizz, dá tantos detalhes e impressões sobre o disco que nem vou me dá ao trabalho de dizer mais alguma coisa sobre o álbum. Até para não atrapalhar o texto da Ana.


Três anos depois do verão punk, o establishiment pop ainda lambia suas feridas. Aqueles Sex Pistols de Malcoln McLaren eram uma brincadeira de mau gosto? E - impensável - se eles fossem importantes, mesmo sendo uma brincadeira de mau gosto? Aliás, se tudo aquilo fosse importante exatamente por ser uma bricadeira de mau gosto?

Desde os Beatles, os 60 e a politização/psicodelização do rock, a indústria não via questões tão profundas e tão graves ameaçando as regras do (seu ) jogo. A primeira metade dos 70 trouxe uma paz confortadora, em que bons negócios eram possíveis com um mínimo de tumultos e confrontos. A indústria tinha um produto de aceitação certa e imediata, e os consumidores pareciam felizes. Por que e de onde vinha essa insurreição?

E que momento péssimo haviam escolhido para atacar: exatamente quando, dos clubes gay underground, a disco music avançava sobre as hordas de adolescentes. Mas o pior ainda estava por vir: em 1979 , o establishiment descobriu que a rebelião tinha um cérebro além de uma voz. E foi "London Calling", do Clash, que proclamou isto.

O Clash surgira na primeira hora do verão londrino de 1976, reunindo Joe Strummer, com uma carreira de performances no metrô e à frente de uma banda de pubs (os 101'ers); Paul Simonon, um estudante de arte que jamais havia pegado num baixo: e Mick Jones, que também vinha da cena de pubs. Primeiro Tory Crimes e depois com Topper Headon na bateria (e, por pouco tempo com Keith Levene, futuro PIL, completando um quinteto) , o Clash abriu concertos dos Pistols em 1976 e, um ano depois, assinou um contrato vultoso para a época, com duzentos mil dólares de adiantamento. Os dois primeiros discos desse contrato "The Clash" ( 1977) e "Give'Em Enough Rope" (1978) - já revelavam claramente o que o Clash pretendia: de dentro da barragem alucinante de decibéis erguida por Jones, Strummer cantava articuladamente uma inquietação social e política que os Pistols conheciam, mas tratavam com um ódio brutal e amorfo. Mas, na época, a forma triunfou sobre o conteúdo, iludindo a todos, sem sequer antecipar o que seria "London Calling".

Lançado em meados do ano, London Calling foi um clarão de lucidez e coerência que nem o rock nem o Clash conheceriam depois. As 19 faixas do álbum duplo - a última, "Train In Vain", não está creditada na capa - interligam-se para formar ao mesmo tempo um painel da Inglatera sobre Thatcher - relutantemente multirracial, bacia de fermentação de ódios e frustrações - e de um mundo apenas aparentemente sob controle, mas impulsionado por armas, drogas e guerras sob encomenda. A música tem uma riqueza de texturas que o punk desconhecia: O Clash canta o ska e o reggae pesado da Londres negra (" The Guns of Brixton", "Rudie Can't Fail". "Wrong Em Boyo") e puxa o longo fio ancestral que vai até os anos 50 ( " Brand New Cadillac") e o jazz ( "Jimmy Jazz").

O impacto de "London Calling" abriu clareiras em todas as frentes. Para as platéias punk, ele disse que a fúria podia e devia ser organizada, e que a lucidez e a curiosidade eram as únicas saídas estéticas possíveis antes da caricatura e da dissolução. Para o resto do público, o álbum restaurou a fé num gênero em visível decadência, o rock. Para o próprio Clash o disco foi a bateria energética que o impulsionou freneticamente durante um inacreditável par de anos - e o álbum triplo "Sandinista" (1980) - até caírem exaustos ao chão das realidades mesquinhas do business, ícaros modernos deixando no ar o traço do seu vôo.

Ana Maria Bahiana



Como o disco é duplo, ele está divido em quatro lados. Todas as composições são de Joe Strummer e Mick Jones, os dois guitarristas e vocalistas, exceto quando assinaladas.



Lado A
  1. "London Calling" – 3:20
  2. "Brand New Cadillac" (Vince Taylor) – 2:08
  3. "Jimmy Jazz" – 3:54
  4. "Hateful" – 2:44
  5. "Rudie Can't Fail" – 3:29

Lado B

  1. "Spanish Bombs" – 3:18
  2. "The Right Profile" – 3:54
  3. "Lost in the Supermarket" – 3:47
  4. "Clampdown" – 3:49
  5. "The Guns of Brixton" (Paul Simonon) – 3:09

Lado A/ disco 2
  1. "Wrong 'Em Boyo" (Clive Alphonso; credited as "C. Alphanso") – 3:10
  2. "Death or Glory" – 3:55
  3. "Koka Kola" – 1:47
  4. "The Card Cheat" (Jones, Strummer, Simonon, Topper Headon) – 3:49

Lado B/disco 2
  1. "Lover's Rock" – 4:03
  2. "Four Horsemen" – 2:55
  3. "I'm Not Down" – 3:06
  4. "Revolution Rock" (Jackie Edwards, Danny Ray) – 5:33
  5. "Train in Vain (Stand by Me)" – 3:09

Baixe Aqui o álbum completo.

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3.08.2007

Um zine santa-mariense

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Site SMalt tem sua versão 2007 lançada hoje à noite


O que é um zine? Na falta de atualização do velho Aurelião, vai a definição da Wikipédia: Zine é uma abreviação de fanzine, que, por sua vez, é uma pequena e não-comercial publicação com textos e imagens. Muito comum em todo o planeta em épocas pré-internet, o zine ganhou uma espécie de upgrade com o advento da rede, que o fez deixar de lado a fotocópia e as matrizes - muitas vezes toscas - para tornar-se um site, um e-zine, organizado por determinada pessoa ou grupo de pessoas, geralmente sobre um assunto específico. É representando esse novo formato, o e-zine, que o Smalt (www.smalt.com.br) lança sua versão 2007 com uma festa hoje, no Macondo Bar, a partir das 22h.

Idealizado por Wandeclayt, músico da banda Aire’n’Terre e um dos caras mais atuantes na cena alternativa santa-mariense, o SMalt trata basicamente de música, embora não se esqueça do cinema, artes plásticas, teatro e outras manifestações culturais realizadas na cidade. O foco do e-zine é bem claro: Santa Maria e, por tabela, sua cada vez mais intensa agenda cultural.

O SMalt estava encostado desde meados do ano passado. No final do mesmo ano, Wandeclayt resolveu tocar novamente o projeto, desta vez chamando diversas pessoas que atuam na cena cultural de Santa Maria para colaborar com textos, colunas e o que mais for preciso. Entre os colaboradores, estão Jamer Guterres, Calixto, Marcelo Cabala, Leonardo Palma e o editor deste blog, que fará uma atualização especial do Cenabeatnik para o SMalt toda a semana.

Depois de algumas reformas estruturais no site, o zine volta ao ar renovado, com mais colunas, uma agenda cultural fixa e com espaço para bandas locais mostrarem o seu trabalho. A festa de celebração dessa mudança é hoje à noite, com a participação das bandas palo, Sonnets e Motokillers.

O som mecânico fica a cargo dos Dj’s Kuker, Kay Rose e o próprio Wandeclayt.

Entradas a R$ 4,00, com direito a sorteio de brindes e camisetas, segundo o cartaz ali acima, feito pelo Calixto.




-Jornal A Razão, 8 de março de 2007-


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3.04.2007

Os melhores álbuns do século XX (7)

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O sétimo melhor álbum do século passado põe de volta a Inglaterra na lista: Exile on Main Street, dos ingleses do Rolling Stones.





Lançado em 1972, com os Stones mais do que consolidados no mundo inteiro, Exile On main Street é resultado de uma série de sessões de gravação regadas a muitas drogas, mas muita s mesmo - reza a lenda que muitos milhares de dólares foram gastos para abastecer de heroína a banda. A principal das sessões de gravação ocorreu em Nellcôte, um vilarejo perto de Nice, sul da França, que servia de casa para o guitarrista Keith Richards na época. A banda naquela época era, além de Richards numa das guitarras, Mick Jagger no vocal, Bill Wyman no baixo, Charlie Watts, na bateria e Mick Taylor na outra guitarra - este, substituto do fundador, guitarrista e mentor dos primeiros anos dos Stones, Brian Jones, morto em 1969.


O álbum foi produzido por Jimmy Miller e atingiu o topo da parada britânica e da Billboard em 1972. Abaixo, segue a resenha do disco na seção "Discoteca Básica", da revista Bizz. O texto é escrito por José Emílio Rondeau, diretor e roteirista de 1972, filme "rocker" lançado no final do ano passado. (Aqui tem mais informações sobre o filme, bem como uma entrevista com José Emílio)


Naquele tempo eles já carregavam o título de "A Maior Banda de rock'n'roll do Mundo" como um peso-pesado que exibe seu cinto de campeão. Não havia mais Beatles, não havia mais Jim Morrison, não havia mais Hendrix. A única competição real era o rock operático do Who e o então ascendente Led Zeppelin. E, mesmo assim, ao vivo, os Stones eram imbatíveis - Jagger piruetando pelo palco, comandando um rugido-rock que era afiado e perigoso como o fio de uma navalha. Em disco, passavam por seu melhor período, parindo clássico após clássico - de "Brown Sugar" a "Street Fighting Man", de "Let It Bleed" a "Simpathy for the Devil". Embora o Sr. M. tivesse levado Brian Jones - que, enamorado demais pelas possibilidades "místicas" das drogas, já se mostrava incapaz de produzir um décimo de seu input habitual na banda -, os Stones da virada dos anos 60 para 70 progrediam, artística e popularmente, como uma bola de neve. Agora, sob o comando de Mick Jagger e Keith Richards, mais do que nunca os Stones mereciam o título de "A Maior Banda de rock'n'roll do Mundo".

Com a entrada do lírico Mick Taylor no lugar de Jones, os Stones saíam de uma trilogia de álbuns absolutamente brilhantes - "Beggar's Banquet" (ainda com Brian), "Let It Bleed" e "Stick Fingers" -, mas enfrentavam um novo/velho problema: drogas. Desta vez era Keith quem flertava com a morte, via heroína. Escondera-se numa villa no sul da França, Nellcote, para poder injetar um pouco de sanidade em sua vida. Mas sanidade era difícil de achar numa atmosfera rock e, ao invés dela, Keith acabou encontrando mais rock, e mais heroína.


Jagger & Richards em show de 1972...


Como Keith não saísse de Nellcote para coisa alguma, os Stones mudaram-se para lá para poder gravar seu novo disco, cujo título balançava entre "Eat It" e "Jungle Disease". Chamaram o saxofonista Bobby Keyes, o trompetista Jim Price e os tecladistas Nicky Hopkins, Billy Preston e Dr. John. Ficaram trancados em Nellcote de julho a novembro de 1971. Quando saíram de lá para Hollywood, onde complementaram e mixaram o disco, os Stones traziam nos braços material para preencher três álbuns.

Acabaram optando por um álbum duplo e por um terceiro título - "Exile on Main Street" - e ofereceram ao mundo o disco mais denso, mais pessoal, mais intrigante e mais controverso de toda a carreira dos Stones.

Quem ouviu "Exile" em 72 amou ou odiou o disco imediatamente. A maioria odiou, reclamou de "falta de foco", "mixagem lamacenta" e "encheção de lingüiça". Erraram e acertaram. Primeiro, porque tudo isso era intencional - a massa sonora de "Exile" só podia ser penetrada a facão. Os vocais de Jagger foram enterrados mais do que o costume. Os agudos foram saturados. E, segundo, porque a maioria das músicas era uma sucessão de Polaroids rock - images de decadência, dor, perigo, desilusão. E de sobrevivência.


e a banda inteira em show do mesmo ano.


Acima de tudo, "Exile" era um portrait dos Stones no topo de sua forma - faixas como "Tumbling Dice", "Rocks Off", "Soul Survivor" e "Rip This Joint" eram o testemunho de que, quando os Stones resolviam se reunir num estúdio para fazer rock'n'roll, faziam "O Melhor Rock Rock'n'Roll". Jagger explodia suas tripas em vocais insuperáveis até mesmo por ele. Richards e Taylor trocavam riffs como guerrilheiros na selva. Bill Wyman e Charlie Watts sedimentavam uma construção crazy com uma argamassa indestrutível.

Após "Exile" tornou-se impossível reunir todos os Stones num mesmo estúdio, ao mesmo tempo. E os álbuns subseqüentes retratavam este insidioso fracionamento. Depois de "Exile", salvo faixas excepcionais, como "Start Me Up" e "Undercover", os Stones eram um arremedo dos Stones. E Exile era seu melhor testamento. E o derradeiro epitáfio.

José Emílio Rondeau



Faixas do álbum:

  1. "Rocks Off" – 4:32
    • Recorded in LA, early 1972
  2. "Rip This Joint" – 2:23
  3. "Shake Your Hips" (Slim Harpo) – 2:59
  4. "Casino Boogie" – 3:33
    • Features Richards on bass
  5. "Tumbling Dice" – 3:45
    • Features Jagger on Guitars and Mick Taylor on bass. Recordings started at Stargroves, Spring 1970, under the working title "Goodtime Women Blues"
  6. "Sweet Virginia" – 4:25
    • Recorded in mid-1970 at Stargroves
  7. "Torn & Frayed" – 4:17
  8. "Sweet Black Angel" – 2:54
  9. "Loving Cup" – 4:23
    • Recorded in LA, early 1972
  10. "Happy" – 3:04
  11. "Turd on the Run" – 2:37
    • Features Bill Plummer on upright bass
  12. "Ventilator Blues" (Jagger, Richards, Mick Taylor) – 3:24
  13. "I Just Want to See His Face" – 2:52
    • Features Bill Plummer on upright bass and Richards on piano
  14. "Let It Loose" – 5:17
  15. "All Down the Line" – 3:49
    • Features Bill Plummer on upright bass and Bill Wyman on electric bass. Recorded at Stargroves, spring 1970, and Sunset Sound, early 1972
  16. "Stop Breaking Down" (Robert Johnson) – 4:34
    • Features Jagger on rhythm guitar, Recorded at Stargroves, spring 1970
  17. "Shine a Light" – 4:14
    • Features Miller on drums and Billy Preston on organ. An early version was recorded in Spring 1970, and released in 1970, by Leon Russell as "Get a Line on You," together with Mick Jagger, Bill Wyman, Mick Taylor and Ringo Starr.
  18. "Soul Survivor" – 3:49
    • Features Richards on bass. Recorded in LA, early 1972

Participaram também da gravação:
Clique aqui para baixar o disco.

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3.01.2007

Bad Cock em Santa Maria

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São poucos os santa-marienses que já ouviram falar da banda de Santos (SP) Harry, uma das pioneiras do país em misturar rock com música eletrônica, ainda no início dos anos 80. Uma boa chance de conhecer uma ponta do que foi o Harry é hoje à noite, no Macondo Bar: o vocalista da banda, Hansen, desembarca na cidade pela segunda vez para apresentar o seu projeto solo dedicado à música eletrônica, o “Bad Cock”.

Hansen vem a Santa Maria também para produzir e gravar as novas faixas do Bad Cock no Chain Reaktor Studio da banda Aire'n Terre. A parceria entre ele e Wandeclayt (Aire'n Terre) iniciou-se na primeira passagem do Bad Cock pelo Rio Grande do Sul em abril de 2006. A partir daí as bandas se apresentaram juntas em Porto Alegre, Curitiba e São Paulo e Wandeclayt colaborou na gravação e produção de faixas do músico santista.

A festa terá ainda discotecagem com muito som oitentista, rock alternativo e música eletrônica. Os ingressos custam R&5,00 e as funções começam a partir das 23h.

O show do Bad Cock também é uma iniciativa do e-zine SMalt (www.smalt.com.br), que prepara a sua volta oficial às atividades musicais/informativas na semana que vem, trazendo algumas boas novidades.



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