5.30.2007

Bons tempos eternos

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Pearl Jam pelo começo dos anos 90


N
umas andadas RS afora, achei um sebo cheio de revistas de música antigas, a maioria do período que vai do final dos anos 80 até o início dos 90. Comprei algumas Bizz de 1992, inclusive a de aniversário de sete anos, que vem com o Pearl Jam na capa.

Dá uma olhada num trecho do editorial, escrito pelo saudoso André Forastieri:

"O legal é que as coisas mudaram para melhor. Em 1990, a capa da edição de aniversário foi Madonna; em 91, o R.E.M - ambos figurões há muitos e muitos anos. Desta vez, temos o prazer de destacar na capa uma banda novíssima, o Pearl Jam - capturado on the road na Holanda e ao vivo em Los Angeles (...)

Lendo a resenha sobre o show do PJ em Los Angeles, comecei a ter uma certa nostalgia de uma época que nem vivi, já que era novo demais pra acompanhar certas bandas como o Pearl Jam, chamadas de "pauleira" na época (até hoje a banda é chamada assim, pelos mais incautos).

O grunge nem era lá muita "revolução", nem as bandas eram todas excelentes, mas, ainda assim, é inevitável perceber que hoje o cenário é muito pior - afinal, o que sobra de bom hoje no rock que pode se comparar com coisas daquela época?
Strokes? Franz Ferdinand? Coldplay?
Não, não, nem sombra.

Antes que comecem a me chamar de velho saudoso, também pode se comparar as bandas dos idos de 92 com as de 1980, 1970, 1960 - só não vale os anos 50 porque são os da gestação do rock.
A constatação é a mesma de hoje: por melhor que sejam, Pearl Jam, Nirvana, Soundgarden não fazem sombra a pesos pesados como U2, Led Zeppelin, Beatles, Pink Floyd.

O que isso quer dizer?

Nada de mais: ou, talvez, que a cada ano os "bons tempos" vão piorando um pouco. Ou:

a) será que a exigência é que vai aumentando, já que as possibilidades criativas vão se esgotando e tudo começa a se repetir ad infinitum?

b) Ou nós é que temos tendência de achar que tudo que é feito antes é melhor do que agora?

c) Ou que precisamos de tempo para reconhecer a importância e a qualidade de nossas manifestações culturais (a música, como exemplo)?

Não sei, e ainda é cedo para se ter qualquer certeza à respeito - se algum dia se terá, também não saberei.

Enquanto isso, fique com o clipe de "Alive", do Pearl Jam, de 1991. Depois, um trecho da resenha da Bizz 84, de julho de 1992, aquela que eu me referi no início do post, com direito a uma citação hilária de farpas mandadas por Kurt Cobain para o PJ.




(Alguém imagina uma banda atual fazendo um clipe ao vivo em um show que seja tão empolgante quanto parece ter sido este do Pearl Jam?)


Veja a resenha:

"
O
Pearl Jam veio em seguida, em meio a um crescimento de popularidade fabuloso que já o consagrou como "the next big thing" a ter saído de Seattle. O PJ foi violentamente atacado por Kurt Cobain, acusado de agente oportunista do mainstream que se inflitrava na alma (pura?) do underground, sem valor musical, ideológico ou artístico.

Pura demagogia de superstar patrulhinha, papo de doidão metido a estadista: O Pearl Jam é uma das melhores bandas americanas em atividade, e ao vivo bota no bolso grande parte da competição, inclusive o trio do Sr. Cobain (visto pela última vez fazendo papel de malditinho para a platéia do programa humorístico Saturday Night Live ... vamos parar de cruzadas e relaxar?)

O Pearl Jam apresentou uma versão hiperabreviada de seu show normal, enfatizando as chamadas "crowd pleasers" "Alive","Once", e "Porch", durante a qual Vedder (...) "nadou" sobre a platéia, um expediente que se repete ad nauseam, junto com seu hábito de começar o show de boné para, vai das tantas, tirá-lo com um golpe de pescoço.

Por vezes, Mike McCready tem lá uns ataques de Richie Sambora (guitarrista do Bon Jovi), mas passa logo, e a sessão rítmica da banda - o baixista Jeff Ament e o baterista Dave Krusen - é simplesmente letal.
Se o PJ passar algum dia pela sua frente, não perca.

"

José Emílio Roundeau,
Bizz 84, julho de 1992


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5.28.2007

Na rede (& o Lobão) - (2)

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Voltando...


Não escutei o disco inteiro mais de uma vez ainda; portanto, não posso fazer um julgamento muito aprofundado. A primeira impressão minha é algo como: "Bah, o Lobão tem tanta música boa assim? ". Boa tantos nas letras, de qualidade bem acima da média do pop/rock nacional, quanto nas músicas em si, que o Acústico trabalhou muito bem, enriqucendo as melodias com arranjos excelentes.

Por via das dúvidas, fique com duas resenhas sobre o disco: a primeira, de autoria de Jimi Joe, foi publicada na Revista Bizz 213, de maio agora. A segunda, feita por Alex Antunes, está na Rolling Stone Brasil nº8, também de maio. Veja as duas, compare se quiser - a segunda me pareceu muito melhor.



O ritual do Habitual

Ao subverter sua própria ordem, Lobão senta no banquinho da indústria fonográfica sem ousar.

Como dizem os britânicos, "last but not least". Lobão, 50 anos de vida em outubro, bem mais de 30 dedicados à musica, se revelou nos, pelo menos, últimos dez, o elemento provocativo por excelência dentro do bem comportado pop brasileiro. Declarações provocadoras que incluíam argumentações tipo nem pensar em disco acústico porque isso era coisa de artista decadente precisando dar uma garibada na carreira, autoproclamando-se como um dos últimos independentes, comprando briga com as grandes gravadoras, propondo controle total do artista sobre a obra, assumindo-se como habitante de um igualmente auto-inventado universo paralelo: tudo isso aprece cair por terra com o lançamento do DVD/CD MTV acústico, a volta ao berço esplêndido das majors, contra as quais brigou quixotescamente nos últimos anos.

A questão básica diante desse Acústico MTV é justamente: por que isso? O que um Acústico MTV acrescenta à carreira de Lobão? Realmente, pouca coisa. Até porque ele já havia circulado por esse formato de violões e voz, ainda que não submetendo a uma grife específica. O Acústico MTV de Lobão não foge ao ritual do habitual já observado em outros títulos dessa série. A preocupação com a qualidade final do produto é exemplar. A sonoridade das 21 faixas do DVD (no CD, o repertório é de 18) é perfeita. Os arranjos, de acordo com a simplicidade exigida para a ocasião, também. Fora isso, não há surpresas. Tudo de acordo com a idéia de mostrar de forma mais leve e/ou despojada canções originalmente marcadas pela estridência das guitarras.

Certamente o Acústico MTV de Lobão vai ser mais um empreendimento bem-sucedido de um artista que, voltando aos ditos populares, não prega prego sem estopa, tendo usado sua tão propralada independência como forma de se manter ativo no combalido mercado fonográfico nacional. Por causa desse novo/velho trabalho, que serve de motivo para revisitações - umas menos, outras mais acertadamente - deve rolar uma bela excursão pelo país.

A observância das regras do formato encontra exceções em eventuais palavrões e referências a drogas. Uma forma de auto-afirmar a permanência do comportamento transgressivo. Fora isso, tudo nos conformes. Como dizem no Sul, aliás, parece que Lobão resolveu sossegar o pito e prudente e judiciosamente fazer as pazes com as majors, projeto que passa pelo relançamento de seu catálogo pela Sony/BMG. Resta saber se essa apropriada trégua é apenas um movimento estratégico e se o antigo discurso revoltoso vai se manter para além dos limites de Acústico MTV.
Mas, afinal, não custa lembrar que toda a referência autobiográfica costuma ser autocondescente.
Jimi Joe
Revista Bizz 213

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Lobo em Pele de Lobo

Cantor e compostior lança al-country treteiro

Lobão é o rei dos pirracentos do Brasil. Contratado pelo banqueiro e fabricante de armas Daniel Birmann para tocar no aniversário de sua esposa Thaís, no final de 2005, não tocou músicas as músicas conhecidas, foi interrompido e agredido. Ou seja, não é nem o caso de se vender - mas de vender e entregar outra coisa.
Por que abrir um texto do Acústico MTV do músico citando esse caso deprimente? Por três razões:
a) porque Lobão já disse que foi nessa ocasião que caiu a ficha de como sua posição - independente - era frágil;
b) porque Brimann tentou impedir, na justiça, Lobão de mencionar o ocorrido - então aí vai a minha contribuição para a pirraça;
c) e, principalmente, coloca-se a questão porque alguém pagaria um bom cachê para alguém tocar em um aniversário (ou seja, um capricho de magnata) para em seguida espancá-lo (ou seja, um capricho de magnata)?

Acontece que Lobão é um dos maiores compositores pop do Brasil. Nem falo das regravações de "Me Chama" (inclusive por João Gilberto), mas das excelentes músicas que se enfileiram aqui, de quase todos os seus discos (só ficam de fora Cena de Cinema, a estréia new wave de 83, e Noite, seu primeiro álbum indie, de 98). Músicas boas o suficiente para deixar de fora outras marcantes como "Vida Bandida" e "Vida Louca Vida" (e não, aí não é pirraça). Ou para deixar só no DVD coisas como "Revanche" e "Chorando no Campo". Violões, banjo, bandolim, gaita, piano, orgão, bateria, percussão, quinteto de cordas revelam a mistura de inspiração melódica e pegada nervosa de músicas tanto da fase das grandes gravadoras ("Me Chama", "Decadence avec Élegance") quanto da independente ("A Queda", "El Desdichado").

Tenso, denso acústico, ácido, Lobão é um dos artistas mais combativos do Brasil. E isso não tem nada a ver com usar camiseta do Che. Ou puxar briga com o Caetano (hum, se bem que ele puxou). Acontece que não adianta nada gravar seu melhor álbum - Canções da Noite Escura, 2005 - aqui representado pelas intensas "Quente" (parceria póstuma com Júlio Barroso, da Gang 90, o mesmo de "Noite e Dia") "Você e a Noite Escura" e "A Gente vai se amar" (tocada com os convidados da Cachorro Grande), e não ser ouvido pelo país todo. Lobão não chegou até aqui dando mole pra magnata. Ele pode - e deve - devolver o chute.

Alex Antunes
Rolling Stone Brasil 8

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Faça sua própria opinião baixando o disco aqui.

Site oficial do cantor
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5.27.2007

Na rede (& o Lobão)

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Todo mundo sabe que o Lobão acaba de lançar o seu Acústico MTV (o primeiro disco do velho Lobo em muito tempo por uma grande gravadora, Sony/BMG).
Todo mundo também sabe que, nos últimos tempos, Lobão era mais citado na imprensa por sua inegável veia polêmica, atirando pesado contra diversas vacas sagradas da MPB e do rock nacional (Chico Buarque, Paralamas, entre outros).

Pois bem. Achei uma bela entrevista com o Velho Lobo, feita pelo jornalista Pedro Alexandre Sanches, atualmente na revista Carta Capital. Veja um trecho abaixo:

"
pas - eu queria falar então sobre a sua participação individual nessa engrenagem. ao se associar à sony bmg depois de uma fase bastante produtiva e combativa fora da "grande" indústria, você volta a integrar esse sistema, ou seja, você volta a "existir" perante o pensamento vigente. aí teríamos de concluir que você (ou melhor, a sua gravadora) está pagando para você existir? quais são, para você, os ganhos e as perdas de optar por trilhar esse novo caminho?


l - essa estranha forma de existir infelizmente não é um privilégio meu, mas de todo o cancioneiro popular brasileiro. pagando pra existir tem o roberto carlos, o caetano, a bethânia, a gal, o gil e qualquer outro que você pensar. é assim que os ídolos se configuram. agora eu te pergunto: por que você acha que eles não merecem? você pode me explicar essa diferença de pesos e medidas? não há perdas, eh, eh, e essa é a maior frustração dos meus inimigos. não há perda alguma. só o incômodo de alguns em me ver em primeiro lugar nas paradas, eh, eh... fora o fato de que, de repente, alguém me pince para formar um digníssimo "quadro histórico da mpb", coisa que ninguém fez ou se lembrou de fazer enquanto agi de forma unilateral. agora vai ter neguinho até questionando minha qualidade musical. não agüento mais ganhar prêmio de personalidade do ano. eu grito porque sei que sou um músico importante (o que é patetico declarar aqui, mas...)! sei que prevalecerá a verdade. isso é uma questão de tempo. mas, de qualquer forna, o meu subtexto é tipo chega, meu bem, já deu, agora me dá isso aqui, vai, eh, eh!!! não tenho mais paciência em [posar? faltou o verbo... de excluído da história.
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pas -
uma coisa que me ocorreu desde o início, ao saber do seu "acústico mtv", foi que, mesmo que agora pelo avesso do avesso, você não deixa de estar na posição que tem ocupado há muito tempo, da contracorrente: está entrando de volta na grande indústria fonográfica no mesmo momento em que figurões como chico buarque, maria bethânia, gal costa, rita lee e dezenas de outros estão saindo dela, no momento em que a antiga mega-estrutura das grandes gravadoras parece estar em pleno desmonte. isso é coincidência, ou dá para estabelecermos alguma relação entre esses dados todos?

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l - bom, pensando dessa maneira, até que comeca a fazer sentido a tal da frase "eu sou a contramão da contradição", frasezinha explorada de maneira tão infeliz até então pelos nossos colegas jornalistas. você deve ter lido alguns deles tentando aludir uma suposta minha contradição em "me vender para o sistema", percebendo nessa frase um ato subliminar de confissão!!!!!! [quais jornalistas falaram isso, que eu não vi?] é claro, né? "eu sou a contramão da contradição" é igual a "olha como eu sou contraditório!!!!!". porra, pedro... é de lascar o cano essa rapeize! agora, que eu estou concebendo uma nova era (não se espante com a minha grandiloqüência) de criatividade, de prosperidade no setor, ah, disso eu tenho plena certeza. fora o fato que esses caras que você mencionou estão "independentes" sem nenhum atrito mais sério. eles simplesmente seguiram uma tendência. e simplesmente cumpriram o rito de assinar os seu contratos da mesma forma de sempre. não transformaram nada (como sempre lhes é peculiar, eh,eh). afinal de contas, você já conhece o que eu acho dessas criaturas. e o meu papo é radicalmente outro. eu acho que você já deve ter percebido que eu joguei uma bomba atômica (essa é a precisa intensidade) nas expectativas dos mais desavisados, nos sem imaginação, nos seguidores, nos rebanheiros, nos dogmas escrotos de demonização dos objetivos, com o intuito de mudar a cara desse marasmo em que estamos vivendo. vou lhe fazer uma confissão sem rodeios: eu quero mudar agora o mainstream e sei que talvez seja o único cara que pode ter essa pretensão... e é por isso que estou aqui, fazendo desse jeitinho bacana de ser, eh, eh, eh. também tenho certeza que só posso efetuar essa aventura tendo total excelência artística. por isso é que cometi um acústico como nenhum outro. e, pra concluir jocosamente, eu merecia essa doce coincidência, eheheheheheheh. p.s.: a música, o show bizz, nunca vai viver sem astronômicos investimentos. as gravadoras têm que existir, mas existir de outra forma, e cabe a nós repensá-las, e transformá-las.

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Gostou? Aqui dá para ver na íntegra.

Depois volto aqui para comentar o disco. Pretendo trazer algumas resenhas saídas nas revistas musicais por aí e mais fotos, se der.


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5.24.2007

Review (7): A volta dos Cascavelletes

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Como anunciado no post de 5 de maio deste mês, o Cascavelletes voltou. Não pra valer, mas os quatro integrantes originais da banda (Flávio "Júpiter Maçã" Basso no vocal, Frank Jorge no baixo, Nei Van Sória na guitarra e Alexandre Barea na bateria) decidiram fazer um show único no auditório da Fiergs, em Porto Alegre, no sábado 12 de maio.

Uma grande amiga deste blogueiro, a Juliana Seben, estava lá na Fiergs e deixa a sua impressão logo abaixo do que foi o show de uma das grandes bandas gaúchas de todos os tempos 16 anos depois do seu fim oficial.


O Velho Rock’a’ula


Nei e Flávio dividindo o microfone.

Um show. Como assim mesmo se anunciava. O encontro dos Cascavelletes depois de 16 anos de separação pode ser considerado (ao menos sob o ponto de vista dos fãs) um marco na história do rock gaúcho.

A banda que fez sucesso nos anos oitenta e noventa se reuniu novamente (sim! Os quatro!) em um final de semana do mês de maio para fazer uma única apresentação, aglomerando gente de todas as idades, em Porto Alegre.

A geração que acompanhou a trajetória dos caras e (ainda bem) influenciou outras, que continuaram sedentas pelo rock nu e cru da Cascavelletes, pôde ver os quatro integrantes de uma das mais conhecidas bandas do sul no cenário brasileiro, no palco, juntos outra vez.

Fica difícil falar de um espetáculo que na sua forma já assim representava. Difícil mais ainda organizar as emoções em poucas linhas para poder compartilhar com o leitor; ao menos existe o Youtube para pode assistir aos registros de um encontro inacreditável.

Aos que percorreram durante todos estes anos os shows das carreiras isoladas de Flávio Basso (o Júpiter Maçã) Nei Van Sória, Frank Jorge e Barea, ficou reservado um retorno às décadas férteis do rock nacional, materializado inclusive pelos habitantes da platéia (como Jacques Maciel, vocalista da Rosa Tatooada e que, junto com seu baterista, o “Bareazinho”, formam a trupe de ex-roadies da Cascavelletes, que fez questão de assistir da parte de baixo, quase ao meu lado).

Isso sem contar os outros roqueiros gaúchos que dos bastidores conferiram toda a apresentação e que, assim como eu, são autores de relatos emocionados sobre o show (interessante ver os comentários de Rafael Mallenoti, da Acústicos e Valvulados).

Incrível pensar que por um momento fãs e ídolos são parte da mesma massa. E foi ela que conferiu de perto as performances, hoje não tão obedientes, mas totalmente irreverentes de Flávio, que mostrou ainda ser um legítimoshow-man, os backing vocal de frases escrachadas de Frank as canções com a voz marcante de Nei.

Para quem esperava uma apresentação longa, deu com os burros n’água: o show durou um piscar de olhos, envolvido por canções (15 delas) como “Carro Roubado”, “Nega Bombom”, “Ugagogobabagô”, “Lobo da Estepe”, “Dotadão”, “Seja Minha amiga”, “Mini-saia sem calcinha”, as mais conhecidas “Jéssica Rose”, “Morte por Tesão” e “Menstruada” e a balada mais famosa das rodas de violão “Sob um Céu de Blues”.

Nesta altura os quatro já pareciam se render à receptividade da galera que lotou o centro de eventos da Fiergs, não necessariamente para vê-los, é certo - o show fez parte da festa de 10 anos da Rádio Pop Rock, com mais de 10 apresentações de bandas gaúchas e nacionais. Mas que conferiu ao vivo, a cores, carne (muito mais que antes) e ossos, expressões bem mais simpáticas dos quatro uns com os outros, chegando a dividir o mesmo microfone.

As ondas sonoras que emitiram o quarteto mágico não poderiam ter sido mais fabulosas. Um dos momentos mais emocionantes foi, sem dúvida, quando da canção "Lobo da Estepe", o sublime ouvido através dos acordes do violão de Nei. "Ca-ro-li-naaaaaa" foi seguida por calorosos aplausos e, por segundos, a lágrima não caiu.

Ao final, e depois do “bis” entoado pela multidão, o grande abraço: o que certamente não consegui registrar, graças aos sentimentos que me fizeram paralisar e relembrar de toda a história que me levou até ali, afinal, foram eles que me revelaram um outro estilo de vida (embora esta afirmação soe tão radical e eles tenham formado a banda no mesmo ano que eu nasci).

Fica uma pontinha de esperança de revê-los novamente e por um longo tempo em cima do palco (seus lugares por excelência). O consolo? Espero que, assim como aconteceu comigo, o encontro sirva para mudar percepções e influenciar musicalmente a garotada que circulou por lá: passemos a escutar o rock simples e completo outra vez.

Ah! A banda que abriu para a Cascavelletes se chama Identidade e já passou duas vezes por aqui. A parte mais legal é que os guris eram fãs dos Casca. Além de tudo, uma mensagem bacana. Feito!

Juliana Seben

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Como bem disse a Jú no texto, alguns vídeos do show foram parar no You Tube. O de logo abaixo é eles tocando o clááássico "Jessica Rose". A qualidade das imagens não é das melhores (sabe como é, gravação feita por câmera amadora, no remelexo de quem está no meio da platéia), mas dá para ter uma boa idéia do que foi o show.





Aqui dá para ver a abertura do show.


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5.16.2007

Propaganda

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Numa tentativa semi-desesperada de ver se um blog pode render algum dinheiro (mesmo que seja centavos, como parece ser o mais provável), aderi ao grande irmão Google e me inscrevi no programa Ad Sense.

Então, alguns anunciozinhos de coisas refererentes a música (de preferência) estarão acima dos links do blog, aqui do lado. Se você clicar nele, eu possivelmente ganharei alguns meio centavos de dólar. Digo possivelmente porque só receberei algum valor em $$ quando o número de clicks for bastante expressivo, bastaaante mesmo.

Até lá, se você quiser me ajudar clicando nos anúncios, eu agradeço bastante. A idéia é ver se realmente pode se ganhar dinheiro com um blog desta maneira, independente de quanto será o valor ganho - se conseguir ganhar algo, será o suficiente para, hmn, quem sabe, comprar uma cerveja num boteco.

Há também um mecanismo de busca do google; a cada pesquisada ali, eu também possivelmente ganharei meios centavos de dólar. Assim, convido vocês que entram aqui no Cena para pesquisar alguma coisinha ali naquela barra de pesquisas do google.

Convém lembrar também que não é permitido clicar inúmeras vezes num anúncio, bem como usar de métodos fraudulentos para o mesmo; se quiserem me ajudar, cliquem uma vez em cada tipo de anúncio que aparecer.

Agradeço imensamente a ajuda de vocês para este experimento de uma tentativa (desde já frustrada, mas enfim) de sustento virtual.

:)

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5.15.2007

Pérolas Videoclípticas (2): Mico


A Revista Bizz deste mês lançou uma séria de 10 micos clássicos de artistas em cima do palco. O primeiríssimo deles é do semi-obscuro cantor e cineasta brasileiro Sérgio Ricardo, que, ao apresentar a canção "Beto bom de bola" num Festival da Record em 1967, foi tão vaiado que se irritou de maneira inusitada para a época: quebrou o seu violão e atirou o mesmo para a platéia indginada.


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5.10.2007

Contadores de Histórias (2)

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ando continuidade, e finalizando, a série "Contadores de Histórias", dois ótimos álbuns de artistas bastante distintos, Grant Lee Buffalo e Van Morrison, que também foram indicados na matéria para o jornal Rascunho, da Cesma.


Van Morrison – Astral Weeks


Van Morrison tinha 23 anos em 1968, ano de lançamento de "Astral Weeks". Já andava em carreira solo (depois do fim de sua banda de blues/rock Them) e também já tinha composto um de seus principais hits, “Brow eyed girl”, um ano antes, junto de mais 12 músicas presentes no seu primeiro álbum solo, “Blowin' your mind”.
Mas Van estava confuso, provavelmente por aquele que é o principal motivo de um homem estar confuso: divergências com a(s) mulher (es) amadas. E foi a partir dessa confusão que, em 48 horas de dezembro de 1968, as oito músicas de “Astral Weeks” foram gravadas.

Talvez mais do que um disco, “Astral”, funciona como uma terapia, uma viagem às feridas abertas no interior de cada um. É como se fosse Van, diante de um espelho que mostra todas as coisas que o afligiam, gritasse desesperadamente para achar uma saída, e, não encontrando nada melhor, resolvesse entrar no próprio espelho, para, chegando lá, se surpreender e ver que aquilo que o afligia não pode ser curado nem compreendido por inteiro. O relato dessa viagem pelo espelho, e sua conseqüente redenção ao assumir a dor, seriam as oito músicas do álbum.

Como poucos, o irlandês não grita, nem berra; uiva os seus lamentos. Sua voz, imponente como dos grandes cantores de blues e R&B, guia cada uma das faixas do disco, deixando a parte instrumental como um limpa-trilho que abre passagem para o vozeirão de Van invadir cenários e climas diferentes – quando, por vezes, o mesmo não arranca primeiro e destrói tudo pela frente, restando para a parte instrumental a ingrata tarefa de avisar aos destroçados que aquilo trata-se de apenas uma canção.

Faixas:

Lado A

  1. "Astral Weeks" – 7:00
  2. "Beside You" – 5:10
  3. "Sweet Thing" – 4:10
  4. "Cyprus Avenue" – 6:50

Lado B

  1. "The Way Young Lovers Do" – 3:10
  2. "Madame George" – 9:25
  3. "Ballerina" – 7:00
  4. "Slim Slow Slider" – 3:20

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Grant Lee Buffalo – Fuzzy

O Grant Lee Buffalo foi uma de muitas bandas surgidas na virada dos anos 80 para os 90 que se beneficiaram do espaço aberto ao rock alternativo graças ao "boom” do “Nevermind”, o clássico segundo disco do Nirvana. A banda encerrou as atividades em 1998, e hoje o líder do Buffalo, Grant Lee Philips, leva uma elogiada carreira solo.

Fuzzy, o debut da banda, lançado em 1993, é um disco de difícil classificação, a começar pela sonoridade: a banda mistura guitarras barulhentas com violões límpidos, glam-rock com country, folk com piano típico dos saloons, até mesmo um vocal a lá soul music se mescla com gritos angustiados e melódicos, todos elementos surpreendentemente bem casados e dosados. Tudo isso parece estar em prol de contar uma história, como se o disco inteiro fosse um filme épico de amor nunca filmado.

Entre as 11 faixas, destaco aqui uma em especial: a música que dá nome ao disco, Fuzzy. Ela é levada toda no violão, num arranjo bastante simples que parece patrulhar o caminho para a entrada da letra, melancólica e surreal, cheia de imagens e metáforas, uma espécie de envergonhada declaração de amor a uma amada impossível. O falsete de Philips no refrão, cantando “I lied to/I’m fuzzy”, é um daqueles trechos que faz a pessoa se arrepiar com gosto.

Faixas:

  1. "The Shining Hour" – 3:53
  2. "Jupiter And Teardrop" – 5:57
  3. "Fuzzy" – 4:59
  4. "Wish You Well" – 3:30
  5. "The Hook" – 4:13
  6. "Soft Wolf Tread" – 2:52
  7. "Stars 'N' Stripes" – 4:43
  8. "Dixie Drug Store" – 5:07
  9. "America Snoring" – 3:39
  10. "Grace" – 6:15
  11. "You Just Have To Be Crazy" – 3:35
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5.06.2007

Pérolas Videoclípticas (1): Cascavalletes

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Em tempos de You Tube, eu já deveria ter feito essa seção faz um tempo. Mas é tanta coisa que eu penso em criar para o blog que, por vezes, antes de criar eu já me esqueci o que queria fazer. Mas, enfim.


Vou inaugurar o "Pérolas Videoclípticas" com um clássico de uma das melhores bandas que já surgiram aqui no Estado : Os Cascavelletes.




Acredite se quiser: o vídeo mostra a banda gaúcha tocando "Eu quis comer você" no programa da Angélica, com uma platéia recheada de crianças dançando alegremente ao som da letra pra lá de bagaceira, como praticamente todas da banda:

"Dirijo táxi a noite toda, só vejo confusão
Garotas que querem garotas, rapazes na contramão
E quando eu volto pra casa a minha garota está dormindo

Eu tomo uma latinha de cerveja,

Que fome eu estava sentindo!


Uhn.. eu quis comer você!"

O playback que a banda faz no palco da Angélica é dos mais legais: o endiabrado Flávio Basso (hoje, conhecido como Júpiter Maçã) faz caras e bocas na melhor tradição Mick Jagger de cantar, enquanto o guitarrista Nei Van Soria e o restante da banda (que já não incluía o saudoso Frank Jorge, baixista original do grupo) dublam muito bem o instrumental da música.

Quando terminam de tocar, surge outra pérola: Angélica (em papel guriazinha ingênua) e Flávio travam o seguinte diálogo:

A: São todos do Sul, né?
F: Aham.
A: Todos gaúchos... e agora música nova, né?

F: É, "eu quis comer você", o nome da música...

A: Olha só, que barato...


Angélica ainda diz "Olha, que bonito o sotaque deles, acho um barato, sabia?"

Bueno, olhe aqui a pérola.



***
Ah, vale noticiar: a formação original dos Cascavelletes anunciou que se reunirá para uma apresentação única na festa de 10 anos da rádio Pop Rock. O grupo, que além de Flávio Basso e Nei Van Soria, tinha em sua formação original Frank Jorge no baixo e Alexandre Barea na bateria, vai ser reunir no dia 12 de Maio, na Fiergs, em Porto Alegre. Os ingressos saem por R$ 30 e R$ 80 (Vip), e estão sendo vendidos desde o dia 18 de abril pela rede de lojas Gang.
Pra quem não conhece o Cascavelletes, o My Space deles dá uma boa noção de quem e como é a banda que talvez mais tenha incorporado o espírito rock'roll no Rio Grande do Sul.

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5.02.2007

Contadores de Histórias (1)

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Texto que escrevi um tempo atrás, publicado na edição de março de 2007 do jornal da Cesma, a Cooperativa de Estudantes de Santa Maria. É uma matéria com dicas de 3 discos que tem algumas boas histórias para contar. Vou publicar ela na íntegra, com alguns acréscimos hipertextuais, em duas partes. A primeira vai abaixo:

Histórias Extraordinárias

Leonardo Feltrin Foletto – mat. 30778

Desde o surgimento da canção – há não se sabe quantos séculos atrás, como evolução natural das cantigas que retratavam feitos heróicos dos povos - muita boa história foi contada através da música. Diversas narrativas, dos mais diferentes temas e origens, foram criadas casando perfeitamente música e letra, muitas vezes de maneira tão sublime que torna-se difícil conseguir separar um dos dois elementos e ainda assim achar significados e sensações possíveis de serem percebidas sozinhas.

A partir da metade do século passado, notadamente do início da década de 1960, as letras, pelo menos na música popular, foram ganhando carga de complexidade tamanha que passaram a não mais somente fazer sala para as melodias, mas sim a rivalizar com elas em carga de complexidade, beleza e, acima de tudo, qualidade. Nomes como Bob Dylan começaram a subverter a simplicidade comum da letra da música, levando-a para um patamar em que os dois elementos, letra e música, ao rivalizar pela supremacia guia da canção, acabavam por se unir umbilicalmente, transformando-se num poderoso instrumento de confronto e também de fuga da realidade tão conturbada quanto a daquela época.

Algumas dessas uniões tão bem feitas entre letra e música, que retratam situações bastantes distintas umas das outras, é que mostram os Cds aqui indicados. São escolhas, como quaisquer outras, bastante subjetivas, mas que exemplificam o poderio que uma canção, ou um disco inteiro, pode ter na vida de uma pessoa, seja ela o compositor que exorcizou seus demônios interiores através do processo de composição, seja alguém que escuta o trabalho e, a partir da gama de sensações e idéias que surgem daí, transforma radicalmente a sua vida.



Bob Dylan - Blood on Tracks (1975)

A primeira definição que costumam dar a Blood on Tracks, o 15º álbum de estúdio de Bob Dylan, gravado em 1975, é a de “desabafo pessoal”. Diferente da maioria dos discos da década de 1960, neste Dylan fala de si, da dor que sentia depois de acabar com sua esposa, Sara. As circunstâncias levavam a uma melancolia, e o disco é melancólico. Porém, como não poderia deixar de ser em se tratando de Bob Dylan, é muito mais do que isso; as 10 faixas – de instrumental bastante simples, como se Dylan quisesse que prestássemos atenção apenas no que realmente importa na vida – são legítimos contos sobre a dor, a perda, a solidão e o que ocasiona isso tudo, o amor. Por trás da simplicidade vocal e instrumental está um homem refletindo sobre aquilo que ele acaba de passar, ao mesmo tempo se desnudando em público e também se escondendo por trás das cada vez mais poderosas metáforas. A música, neste caso, é o canal que leva a complexa mensagem de Dylan a quem nem imagina que ela possa atingir.

Na lista da Rolling Stone dos 500 melhores álbuns do século XX (aqui no blog publicado até o 50º), o Blood on Tracks ficou na 16º posição. Logo que lançado, ele ficou em 4º na parada americana da Billboard, e em 4ºna inglesa.


Faixas:

Lado A

  1. "Tangled Up in Blue" – 5:40
  2. "Simple Twist of Fate" – 4:18
  3. "You're a Big Girl Now" – 4:36
  4. "Idiot Wind" – 7:45
  5. "You're Gonna Make Me Lonesome When You Go" – 2:58

Lado B

  1. "Meet Me in the Morning" – 4:19
  2. "Lily, Rosemary and the Jack of Hearts" – 8:50
  3. "If You See Her, Say Hello" – 4:46
  4. "Shelter from the Storm" – 4:59
  5. "Buckets of Rain" – 3:29

Dê uma olhada na letra enorme logo abaixo - da primeira música do disco, Tangled up in Blue - e veja porque o extraordinário do título da matéria não se refere a situações do além, mas da excepcional qualidade da letra e da história que ela conta.

Ah: não vou me dar o trabalho de traduzí-la, até porque muito dos detalhes e das sacadas de Dylan perdem-se com a tradução. Procure um dicionário, qualquer coisa :)


Tangled up in Blue

Early one mornin' the sun was shinin',
I was layin' in bed
Wond'rin' if she'd changed at all
If her hair was still red.
Her folks they said our lives together
Sure was gonna be rough
They never did like Mama's homemade dress
Papa's bankbook wasn't big enough.
And I was standin' on the side of the road
Rain fallin' on my shoes
Heading out for the East Coast
Lord knows I've paid some dues gettin' through,
Tangled up in blue.

She was married when we first met
Soon to be divorced
I helped her out of a jam, I guess,
But I used a little too much force.
We drove that car as far as we could
Abandoned it out West
Split up on a dark sad night
Both agreeing it was best.
She turned around to look at me
As I was walkin' away
I heard her say over my shoulder,
"We'll meet again someday on the avenue,"
Tangled up in blue.

I had a job in the great north woods
Working as a cook for a spell
But I never did like it all that much
And one day the ax just fell.
So I drifted down to New Orleans
Where I happened to be employed
Workin' for a while on a fishin' boat
Right outside of Delacroix.
But all the while I was alone
The past was close behind,
I seen a lot of women
But she never escaped my mind, and I just grew
Tangled up in blue.

She was workin' in a topless place
And I stopped in for a beer,
I just kept lookin' at the side of her face
In the spotlight so clear.
And later on as the crowd thinned out
I's just about to do the same,
She was standing there in back of my chair
Said to me, "Don't I know your name?"
I muttered somethin' underneath my breath,
She studied the lines on my face.
I must admit I felt a little uneasy
When she bent down to tie the laces of my shoe,
Tangled up in blue.

She lit a burner on the stove and offered me a pipe
"I thought you'd never say hello," she said
"You look like the silent type."
Then she opened up a book of poems
And handed it to me
Written by an Italian poet
From the thirteenth century.
And every one of them words rang true
And glowed like burnin' coal
Pourin' off of every page
Like it was written in my soul from me to you,
Tangled up in blue.

I lived with them on Montague Street
In a basement down the stairs,
There was music in the cafes at night
And revolution in the air.
Then he started into dealing with slaves
And something inside of him died.
She had to sell everything she owned
And froze up inside.
And when finally the bottom fell out
I became withdrawn,
The only thing I knew how to do
Was to keep on keepin' on like a bird that flew,
Tangled up in blue.

So now I'm goin' back again,
I got to get to her somehow.
All the people we used to know
They're an illusion to me now.
Some are mathematicians
Some are carpenter's wives.
Don't know how it all got started,
I don't know what they're doin' with their lives.
But me, I'm still on the road
Headin' for another joint
We always did feel the same,
We just saw it from a different point of view,
Tangled up in blue.


Para não perder o costume, clique aqui para baixar o disco na íntegra.

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