8.30.2006

Pata de Elefante em SM

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O trio porto-alegrense de rock instrumental Pata de Elefante, uma das melhores bandas surgidas nos últimos anos no Estado e talvez até do país, anunciou a data do show que fará em Santa Maria: 7 de outubro, no Macondo Bar.

Com uma mistura inusitada de rock’roll dos anos 60 (Cream, The Who, Jimi Hendrix, Beatles), surf music, e trilhas sonoras criadas por nomes como Henri Mancini e Enio Morricone, o trio formado por Gabriel Guedes e Daniel Mossman (que se revezam na guitarra e no baixo) e por Gustavo Telles na bateria é um bom antídoto para aqueles que acham que música instrumental é sinônimo de virtuosismo exagerado: com apenas guitarra, baixo e bateria, a banda consegue criar excelentes melodias que suprem qualquer necessidade de um vocal, criando rock’roll daqueles de soltar um sorriso em quem escuta.

O primeiro álbum da banda, intitulado simplesmente “Pata de Elefante, foi lançado em 2004 pela Monstro Discos e no ano seguinte faturou o importante prêmio Açorianos, na categoria Revelação. Quem quiser dar uma conferida no som da banda pode baixar aqui o primeiro álbum.



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8.27.2006

O novo velho rock'roll

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De todas as bandas dos anos 90 que "se basearam" no rock clássico dos anos 60 e 70, a melhor atende pelo nome de Black Crowes. Sem vícios "hippies" e esquerdistas daquela época, o Black Crowes, em plenos anos 90, ousou optando por uma missão simples e nobre: resgatar o melhor que o rock'roll tradicional já tinha feito até então. E lá se foram guitarras pesadas e bem tocadas a lá Led Zeppelin, a atitude "rebelde ao natural" vinda dos Rolling Stones, um suingue quase funk emprestado do Sly & Family Stone, o vocal esganiçado dos grandes vocalistas dos anos 70, as belas baladas acústicas... E, apesar de fincar o pé em referências ao passado, o som ainda tinha uma cara própria.






O segundo álbum da banda, The Southern Harmony and Musical Company, lançado em 1992, é a melhor prova desse novo velho rock'roll: da capa ao nome do cd, ali está o rock.


Clique aqui para baixar o álbum;

Faixas:
1 - Sting me
2 - Remedy
3 - Thorn in my pride
4 - Bad luck blue eyes goodbye
5 -Sometimes salvation
6 - Hotel ilness
7 - Black Moon creeping
8 - No speak no sleave
9 - My morning son
10 - Time will tell



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8.21.2006

Clássicos Gaúchos(2)

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Dos primórdios do rock gaúcho, o Liverpool


No longíquo ano de 1969, enquanto o rock nacional crescia e aparecia com Os Mutantes, cinco jovens gaúchos moradores do bairro do IAPI, em Porto Alegre, lançavam um dos pilares do ainda nem nomeado "Rock Gaúcho": "Por Favor Sucesso", do Liverpool.


Misturando rock tradicional com pitadas generosas de psicodelia (que estava no seu auge) e do recém criado Tropicalismo - o clássico álbum "Tropicália ou Panis et Circenses foi lançado quase um ano antes - "Por Favor Sucesso" ainda hoje é reverenciado como um dos grandes álbuns da psicodelia brasileira, disputado a tapas por colecionadores, já que o álbum original, editado pela extina gravadora Equipe, teve pouquíssimas cópias vendidas antes de sair de circulação.

O lado bom é que os poucos que escutaram o álbum na época acabaram por formar bandas, o que tornou o Liverpool uma influência constante para toda a geração que pariu o dito rock gaúcho. Entre 1973 e 1976, com o fim da banda, os próprios integrantes Mimi e Marcos Lessa(guitarras), Edinho Espíndola (bateria) e Fughetti Luz (vocal) subsitituíram o baixista Pekos Santana pelo carioca Renato Ladeira e formaram uma nova banda, a também lendária Bixo da Seda, que gravou um LP lançado em 1976, com participação do guitarrista gaúcho Claudio Vera Cruz.

Faixas:

1 - Por Favor Sucesso ( baixe aqui)

Rock'roll dos bons, a faixa-título foi vencedora de um concurso de música na UFRGS, o que levou a banda ao centro do país para alguns shows em festivais locais. As duas guitarras estão afiadas, ligeiras, psicodélicas, e a voz de Fughetti soa límpida e imponente. A letra mostra um pouco do bom humor e sarcasmo que seria quase o DNA (principalmente para o pessoal de fora do estado)do rock gaúcho produzido algumas décadas depois.

2 - Que Mania (baixe aqui)

Mais tropicalista, tem forte influência dos Mutantes, principalmente na letra com alguns toques "engraçados".

5 - Blue Haway (clique aqui para baixar)

Lembra bastante rock inglês - até coisas novas que vieram quase três décadas depois como Radiohead, principalmente no início. Balada psicodélica com um solo cheio de efeitos de pedal (wah-wah, distorção)

6 - Você gosta (escute aqui)

Rock lento, com a segunda guitarra solando (cheia dos efeitos também) durante quase toda a música. Tem um ritmo lento e gostoso que lembra até jazz - principalmente na cozinha baixo e bateria.

7 - Olhai os Lírios do Campo (clique aqui para escutar)

Talvez a melhor do álbum, e com certeza a mais psicodélica. Um trechinho da letra serve como exemplo da "viagem":
"olhai o orifício frontispício o ofício do motor,
olhai o motorista a guerra fria o vício de uma tarde
olhai olhai, os dedos já pesam demais
e os dados rolaram na mesa, olhai
"

9 - Planador (escute aqui)

Lembra bossa-nova, mas é rock. Algo como uma bossa-rock, se existisse esa definição.

11 - Impressões digitais (clique aqui para baixar)

A mais rock'roll, com trechos de guitarra distorcida no talo. A letra :
"Andei seguindo a sua pista até o cigarro chegar ao fim
e do meu carro avistei o horizonte das paredes
suas impressões digitais, suas impressõs digitais"



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8.18.2006

Reportagem(8): O quinquagésimo terceiro renascimento do rock

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Uma breve historia do rock do novo século, ressurgido, propagado e já consolidado através da Internet.


O ano é 98, mas poderia ser também 99. As paradas obrigatórias para quem gostava de música eram as rádios e a MTV. Expressões como “gravar CD” ou “baixar música” eram pouco conhecidas. A palavra Internet, para grande parte da população, pertencia àqueles assuntos que já se ouvira falar, mas não se sabia onde, nem como e nem porquê. O rock no Brasil era Raimundos e sua “Mulher de fases”; no mundo, era os velhos U2, Rolling Stones (que vieram ao Brasil em 98) e os novos, e já em certa decadência, Oasis e Blur. E só. Quem mandava e desmandava nossos ouvidos nas paradas eram as famosas “boys & girls bands”, coisas como Backstreet Boys, N”Sync, Britney Spears (nos tempos de “menina virgem”) e Cristina Aguilera. Essencialmente, grupos de músicas fabricadas, em que raramente se distinguia um instrumento no emaranhado de combinações eletrônicas que uma produção de luxo sabia fazer para realçar a voz afinada, mas modorrenta, que despejava letras melosas estufadas dos mais variados clichês românticos (aqui um exemplo).



Era esse o terror que dominava as paradas lá por 99/2000






Cap 1: Saindo de atrás

Então, como um antídoto contra a pasmaceira musical dominante, a Internet começa a se popularizar. No início de 2000, surge o Napster, o primeiro programa popular de troca gratuita de músicas pela rede. O rock, que nesse período de trevas sobrevivia anônimo pelas garagens mundo afora, tinha descoberto sua válvula de escape. Não mais se precisava escrever bobagens, ser bonito e ter sorte para atrair um produtor que se encarregasse de fazer todas as músicas: bastava tocar uma guitarra, um baixo, uma bateria, juntar gente que também tocava um desses instrumentos, escrever letras sobre o que realmente estava se sentindo, colocar a música na Internet e torcer para que outros, com o mesmo sentimento para extravasar, escutassem, gostassem e também saíssem para colocar as suas músicas.





Cap 2: Empata a partida


Em 2001, surge o The Strokes. Banda de Nova York, que emulava diversas influências de décadas passadas na música e no visual, foi fazer sucesso primeiro na Inglaterra, no início do ano, através de um empresário que ouviu seu primeiro compacto, com 3 músicas – nem CD eles tinham gravado – e despejou para a molecada britânica no limite da saturação com as “ boys & girls bands”. Logo, o fenômeno se alastrou, virou capa de revistas, moda e, sobretudo, hype. Na cola do Napster outros programas vieram, fazendo com que muita gente, antes mesmo de ter em mãos o EP dos Strokes, já tivessem “baixado” (a expressão começava a ser conhecida) todas as músicas. Paralelo ao surgimento da banda, outras foram aparecendo, algumas foram descobertas - como o White Stripes, que já tinha feito dois álbuns, sem muita repercussão, quando lançou “White Blood Cells”, em 2001, do quase-hit “Fell in love with the girl” – e o qüinquagésimo terceiro renascimento do rock’roll foi propagado. Com o público já desperto para a novidade, foi fácil para os quase homônimos The Hives, da Suécia, e o The Vines, da Austrália, aparecerem – e, tão efêmero quanto surgiram - desaparecerem.

Como principal característica dessa nova geração do rock, dá para se citar a devoção de sua música a das décadas de 60,70 e 80 – sobretudo na parte das guitarras. As músicas parecem sempre “lembrar” alguma banda antiga, só que agora acrescentado de um elemento novo, que tanto pode ser as letras retratando a "nova" realidade, ou a mistura de tantas influências distintas que acabam por criar um algo “novo”, original.



Cap 3: A virada



Consolidado, o tal novo rock viu, em menos de um ano, a sua segunda geração nascer. Em 2002, novamente nas ilhas Britânicas, quatro ingleses, conhecedores de clássicos do rock e do punk como The Kinks, The Clash e Gang of Four, atualizaram a música destas bandas para o novo século com o nome de The Libertines e, desta vez, sem nem mesmo terem lançado um EP, foram alçados ao centro da mídia inglesa. As músicas já pulavam para a internet antes de serem colocadas no mercado, o pessoal baixava, lotava os shows e a propaganda mais eficiente de todas, a boca a boca, se encarregava do resto. O sucesso prematuro se consolidaria com o lançamento do primeiro álbum, Up the Bracket, em 2002, e se propagaria a nível mundial com o segundo, auto-intitulado Libertines, de 2004, fazendo com que eles viessem para o Brasil sem terem nenhum álbum lançado no país (só depois dos shows é que foi lançado por aqui). Mas nem precisava, afinal, havia a Internet, e baixar música e gravar em um CD virgem não era mais novidade.





Cap 4: Já é goleada



Neste ano, que recém passou da metade, já apareceu outro furacão da Inglaterra, via peer-to-peer (a forma mais comum de baixar música pela Internet): o Artic Monkeys. Formado por garotos ingleses na casa dos dezenove anos, a banda é como uma atualização para 2006 da sonoridade do Strokes e do Libertines, com letras que falam diretamente das situações vividas pela gurizada inglesa. O primeiro CD da banda, gravado a um custo irrisório, vendeu espantosos 363 735 mil cópias em uma só semana, atingindo o primeiro lugar na parada inglesa. A primeira música a fazer sucesso da banda, “I Bet you look good in the dance floor”, é, por enquanto, a música do ano na Inglaterra. Com uma letra divertida que fala, segundo o próprio vocalista, “de milhares de garotas que já me puseram na situação de olharem para mim num clube ou bar, eu ficar interessado, mas depois dizerem que eu imaginei que elas estavam olhando”, e sua batida rápida, que faz soar velho o Strokes e outros cânones da primeira e segunda geração, a música se expandiu – novamente, graças a Internet - de tal forma que até por lugares da noite de Santa Maria já é tocada.




Cap 5: A próxima partida?

Como a efemeridade é a tônica dessa nova geração, não se duvida de na semana que vem já surja outra banda para roubar o trono do Artic Monkeys de, como diz os Titãs, “melhor banda dos últimos tempos da última semana”.



Os Jogadores
Primeira geração(Cap.2): The Strokes, White Stripes, The Vines, The Hives, Interpol

Segunda Geração(Cap.3): Libertines, Franz Ferdinand, The Killers, Bloc Party, Kings of Leon

Terceira Geração(Cap.4): Artic Monkeys, Clap your Hands Say Yeah, Guillemots, Black Mountain






-Jornal A Razão, 13 de Abril de 2006-


Obs: Escrito em Abril, essa reportagem já, praticamente, poderia acrescentar mais um novo capítulo sobre o que aconteceu de lá até hoje. Por exemplo, daria para citar a introdução do primeiro hype mundial-brasileiro: o sucesso das bandas brasileiras Cansei de Ser Sexy (eletro-rock-dance-tosco) e do Bonde do Rolê (funk carioca + samples de Rock'roll + sexo, muito sexo) em suas recentes turnês pelos EUA. Até na tradicional revista americanaRolling Stone o Bondo do Rolê já apareceu (veja matéria comentando o assunto aqui), como uma das 10 bandas novas a se prestar atenção.

Mas, como faz muitíssimo pouco tempo, vamos esperar a tal 4º geração se tornar mais consistente.



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8.14.2006

Clássicos Gaúchos(1)

Dois clássicos de músicos gaúchos:







Graforréia Xilarmônica - Amigo Punk (clique aqui para baixar)

Praticamente o hino rio-grandense em versão porto-alegrense, aqui na primeira vez que apareceu ao mundo em CD, em 1995, lançado no primeiro álbum da Graforréia Xilarmônica, Coisa de Louco II.

Composta por Frank Jorge e Marcelo Birck, os dois cabeças da banda que ainda contava com Alexandre Ograndi na bateria e Carlo Pianta na guitarra, "Amigo Punk" é uma misturança de ritmos, como bem fazia a Graforréia: pega elementos da música gaúcha tradicional (como a introdução "milongueira"), mistura com uma balada pop levada no violão, voz e bateria, e acrescenta uma letra falando de lugares que qualquer porto-alegrense conhece - tudo isso com aquele espírito de "xinelagem" que a banda tão bem imprimia em suas músicas.

A novidade é que a banda, desde o fim do ano passado, voltou às atividades com a sua formação clássica (Pianta nas guitarra e vocal, Frank Jorge no baixo e vocal e Ograndi na bateria). O resultado dessa volta, por enquanto, poderá ser visto num CD ao vivo com 14 músicas que a banda já gravou e está em fase final de mixagem. Um dos produtores é o renomado Kassin, que comandou as gravações dos últimos álbuns do Los Hermanos. Mais detalhes no diário do guitarrista Carlo Pianta, que, assim como toda a banda, é colorado e está em êxtase pela fase que o Inter está vivendo.


(A foto é do livro Gauleses Irredutíveis, literatura essencial sobre o rock gaúcho. Da esquerda para a direita, Pianta, Frank Jorge, Ograndi e o ex-roadie Z)

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Nei Lisboa - Cena Beatnik (clique aqui para baixar)

A música que dá nome a este blog está no sétimo álbum de Nei Lisboa, de 2001. Conhecido da cena musical gaúcha desde o início dos anos 80, o cantor e compositor tem em "Cena beatnik" uma boa amostra de seu trabalho: uma melodia simples, quase pop, é recheada de versos inteligentes, com várias "sacadas" das mais complexas e interessantes.

Nei Lisboa, de 47 anos, sempre viveu em Porto Alegre, e apesar de seu talento ter condições de ganhar o Brasil (e oportunidades para estourar em todo o país ele teve inúmeras no final dos anos 80), nunca quis sair de seu mundinho tranquilo do bairro Bom Fim, falando do seu quintal sim, mas sendo universal o suficiente para ser compreendido - e admirado - por gente de qualquer lugar do planeta.


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8.11.2006

Reportagem (7): A Lactuca cresceu

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Passados alguns anos do estouro nas rádios da cidade, a Lactuca Sativa hoje é uma banda bem diferente daquela do início desta década



Enquanto as paradas mundiais começavam a se saturar com as “boys & girls bands” e o Brasil inteiro presenciava o auge dos Raimundos com o “MTV ao vivo”, o final de 2000 e o início de 2001, para uma parte dos estudantes de Santa Maria, foi a época da Lactuca Sativa. Os versos “Eu vou contar para a sua mãe, eu vou contar para a sua mamãezinhaaa”, da música Dedo Duro (clique aqui para escutar), eram dos mais ouvidos por aqui, seja nas rádios locais ou nos shows pela cidade. As letras juvenis retratavam o cotidiano de toda uma geração recém iniciada na Internet, e a música, normalmente rápida e simples, era a trilha sonora feita na medida certa para a rebeldia “fuck you” sem propósito algum. Em meados de 2001, saía pela gravadora Sonare o primeiro disco da banda, “É pra comê ou pra levá?”, que já no título sugeria zoação com a frase mais escutada por quem comia X pela cidade.


Mas passa-se algum meses, e a popularidade de outrora diminui. Surgem os contratempos; o vocalista e guitarrista Batata sai da banda e é duplamente substituído pelo guitarrista Fernandinho, que já fazia parte da equipe técnica da Lactuca há algum tempo, e pelo vocalista Ted. Com essa formação, no final de 2004 é lançado o segundo álbum, “Outro Mundo”. Desde o título, passando pela capa e, logicamente, pelas músicas, o novo disco é diferente: o cotidiano adolescente expresso em músicas simples e divertidas cede o lugar ao pop/rock de arranjos mais elaborados e letras românticas.


A faixa de abertura do álbum novo, som de verão (clique aqui para ver a letra), é bem tocada nas rádios, e a banda continua a fazer shows pela região. Mas o fim de ano passado reserva outra mudança: o vocalista Ted vai embora de Santa Maria. Zé, que era roadie, assume o violão e os vocais em alguns covers, deixando a voz nas canções da banda para o guitarrista Grota, da formação original que gravou o primeiro disco.


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É essa Lactuca Sativa, mais madura e sentada numa mesa de um conhecido boteco de Santa Maria, que hoje tenta explicar que sim, eles evoluíram:
_ Foi uma mudança natural, já que na época do primeiro disco nos tínhamos só 14 anos. Mas por a gente ter tido esses contratempos com os vocalistas, o público de Santa Maria ainda não conhece muito essa evolução da banda – explica o baterista Bito, 22 anos, que juntamente com Grota, 21, e Fábio (baixo), 20, está desde o início da trajetória da Lactuca, em 98.



Bito, Fernandinho, Zé e algumas cervejas durante a entrevista




Apesar do segundo disco ser conhecido por muita gente na cidade, a imagem da banda que persiste em Santa Maria é a da época do primeiro álbum, que ainda contava com o vocalista Batata. Desde 2004, os shows em Santa Maria ficaram mais escassos, mas ainda assim eles continuam se apresentando em cidades da região, como Júlio de Castilhos, São Pedro e Alegrete. O repertório diversificou e passou a ter mais cover também: além das músicas próprias, eles tocam TNT, Cascavelettes, Kiss e Bandaliera, entre outros.


Passado todos os contratempos, a banda agora corre atrás de contatos para mais shows. O objetivo é um só: mostrar a evolução da banda e tentar, aos poucos, desfazer a imagem antiga da banda.

_O nosso primeiro cd está guardado na gaveta quase, ainda não foi bem divulgado por aqui - finaliza Fernandinho.

Contato: (55)81199998
Site: www.lactucasativa.com.br



- Jornal A Razão, 10 de agosto de 2006(com modificações) -

Fotos: João Gabriel Morisso

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Crítica: Lactuca Sativa

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A dita evolução pode trazer alguns problemas

A primeira coisa a se concluir ao escutar os dois álbuns da Lactuca Sativa é inevitável: eles são completamente diferentes. Enquanto o primeiro, de 2001– quando os integrantes da banda tinham entre 14 e 16 anos – é um misto de punk com rock’roll e algumas baladas pop, o segundo é uma mistura de baladas pop com rock’roll. Se em “É pra comê ou pra levá?”, o que predomina são as melodias toscas, as letras divertidas e sarcásticas retratando o cotidiano adolescente em toda sua essência – que é desprovida de qualquer preocupação que não a de “pegar mulher”-, em “Outro Mundo” as melodias são mais bem trabalhadas e as letras românticas, retratando amores perdidos e conquistados.

Quem escuta pensa: houve uma evolução na banda, os integrantes cresceram, pararam de usar palavrões e algumas expressões de baixo calão nas músicas e ficaram mais “calmos”. Resumindo, amadureceram. Mas uma evolução deste tipo pode trazer muitos problemas: os antigos fãs mais ortodoxos querem saber é de barulho, de agitar, de pular e mandar todo mundo para aquele lugar. E, naturalmente, ficam brabos com a “romantização” das letras, porque de letras exaltando os amores perdidos já se têm tanta banda e artista por aí fazendo, para que mais uma, e justamente uma de que eles antes gostavam?

Só que, por outro lado, os integrantes da banda não sentem mais a antiga necessidade de falar do seu cotidiano sem preocupações para todo mundo porque, inclusive, o cotidiano mudou: agora há a faculdade com o que se preocupar, as namoradas a se agradar, uma profissão futura a se almejar. E é justamente nesta encruzilhada que a Lactuca Sativa se encontra: conquistou a maior parte dos fãs com um punk/pop vigoroso e grudento, fiel na sua essência tosca de retratar a juventude, mas continua na estrada com um outro estilo, que tem um nível de exigência muito maior e que, também, necessita daquele algo mais para poder sobreviver no mercado. Só que esse algo mais não é nada fácil de se obter.

Confira a diferença nas letras dos dois álbuns:



É pra comê ou pra levá? (2001)

Trecho da primeira faixa,“Gasolina” (clique aqui para baixar a música):

“Não tinha cara pra chegar nesse avião
Só uma certeza de levar dela um não
Só que no outro dia o oposto aconteceu
Me viu sair de carro e foi falar com um amigo meu
_ Chega nessa garota, que a menina tá afim
_ Afim de andar no meu carro, gasolina é sempre assim”




Outro Mundo (2004)

Trecho da quinta faixa, “Altas Horas ” (clique aqui para baixar):

Coisa boa ainda sonho com você
Lá nas estrelas
Coisa boa encontrei você aqui pra em fazer feliz
Uma lembrança vaga do meu amor
Seu perfume faz sofrer meu coração
Mas essa noite vou ter você pra mim
Pra me fazer feliz
Só você pode fazer minha alegria"



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8.04.2006

Reportagem (6): A volta da Sapato Vermelho

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Com a saída de Shirle de Moraes, que depois do sucesso no programa Fama segue em carreira solo, a banda reestréia nos palcos locais com uma nova vocalista


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Na segunda metade do ano passado, a banda santa-mariense Sapato Vermelho, de uma hora para outra, viu o seu nome ser pronunciado em diversos lugares Brasil afora. Shirle de Moraes, vocalista da banda, foi selecionada para participar do programa Fama, da Rede Globo, e como se não bastasse, ficou entre as três finalistas. Muita gente quis saber qual era a banda em que a gaúcha de timbre parecido com Elis Regina e natural de Três de Maio cantava. Aqui por Santa Maria, a dúvida que pairava era se a Sapato Vermelho, que tinha feito poucos mas excelentes shows nos bares locais, continuaria sem a vocalista, que com o sucesso obtido na tv conseguiu um contrato de carreira solo com uma grande gravadora. Passado menos de um ano, com a poeira já baixa, a banda retorna às atividades hoje em show no Macondo Bar, com a nova vocalista Franciele e muita vontade de continuar tocando o rock lisérgico do final dos anos 60 e início dos 70.


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Contada a história inicial, é num dos dias mais frios do ano que a Sapato Vermelho - Franciele e mais Edinho no baixo, Cristiano na Guitarra e Ricardo na bateria - está reunida numa pequena sala da casa deste último. Para espantar o frio, além dos cachecóis e golas altas, uma taça e um copo de vinho passam de mão em mão, sendo por todos bem recebido. A cada nova servida de vinho, o ambiente ganha em descontração, ajudada pela música suave (mas nem tanto) vindo de um LP da Gal Costa (“Gal fatal – a todo vapor”, de 1972), e por um cigarro e outro, fumados numa sala aberta ao lado.
Os quatro integrantes estão sentados num cenário que, talvez mais do que qualquer outra explicação, define a mistura que é a banda: nas paredes, inúmeras fotos, gravuras, posters e trechos de letras de músicas formam um belo altar ao rock das décadas de 60 e 70; numa estante, os homenageados são os escritores beatniks, que comparecem em diversos livros raros alinhados com não muito cuidado; logo abaixo da estante ficam os LPs, em sua grande maioria dignos de figurarem em diversas listas de melhores álbuns da história do rock, tanto nacional quanto internacional.
A impressão que se tem ao entrar na sala é que voltamos no tempo: estamos no final da década de 60, o movimento hippie prega a paz e o amor nos campos, os estudantes se rebelam contra o governo nas ruas e a psicodelia colore as caixas de som fazendo a melhor trilha sonora possível para tantas ebulições misturadas.


_ Nós estamos super ansiosos para fazer esse show - diz o baixista Edinho, a voz mais próxima da “oficial” da banda. Mesmo de vocalista nova, ele explica que o repertório não se diferencia muito do que eles vinham fazendo antes com a Shirle: Janis Joplin, Jefferson Airplane, Led Zeppelin, Deep Purple, Secos & Molhados, entre outros.

_ O timbre das duas é parecido, só o da Fran é um pouco mais grave - comenta o baixista.


Da esquerda para a direita, a vocalista Franciele, o baterista Ricardo, o guitarrista Cristiano, e o baixista Edinho na pequena sala da casa do baterista.


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Franciele, que assim como Shirle começou cantando MPB e música tradicionalista, assume com tranqüilidade o papel de substituir uma cantora que foi alçada à fama através da televisão:

_ Entrei na chuva é pra me molhar mesmo - diz a nova vocalista, de 23 anos, estudante de Direito na UFSM e bancária em Formigueiro.

Ela surgiu para a banda de uma maneira um tanto inusitada: o irmão de um dos integrantes, dono de um bar local, promoveu uma noite de talentos, onde quem quisesse poderia se apresentar. Fran resolveu ir, e de cara agradou o pessoal do lugar, que marcou uma data para um próximo show. Mesmo não sabendo se a banda procurava ou não uma vocalista, o dono resolveu dar um toque: “olha, apareceu uma menina que canta muito lá no bar”. Ricardo e Edinho resolveram ir no show, sem muita expectativa. Mas se surpreenderam: a vocalista realmente “cantava muito”. Fizeram os contatos, e pouco tempo depois a Sapato Vermelho ensaiava três músicas, agora já como um quarteto.

Novamente formatada e unida, os quatro ficaram um tempo tocando em estúdios até aparecer a oportunidade do show no Macondo, lugar onde os donos são velhos conhecidos da banda. Praticamente batizaram a Sapato Vermelho, como conta o guitarrista Cristiano:

_ O nome inicial era Sapatos vermelhos. Mas numa festa na boate do DCE promovida pelos atuais sócios do Macondo quando o bar ainda não existia, saiu no cartaz de divulgação “Sapato Vermelho”, e mesmo errado, acabou ficando para o nome da banda.
Depois do show, a idéia é continuar tocando e partir para as composições próprias. Mas tudo sem muita pressa, como diz o baterista:

_ Se o Van Gogh demorou 27 anos pra pintar o primeiro quadro, não custa a gente acreditar numa segunda vez pra dar certo...


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- Jornal A Razão, 3 de agosto de 2006 -
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