5.09.2008

Anatomia de um post não-planejado

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Canasvieiras ao fim de tarde

Estava eu a procurar pauta para o blog, conectando pela primeira tarde em casa, depois de diversos perrengues para a instalação da rede. Sentado na única mesa disponível no apartamento,a da cozinha, tremendamente branca como toda a cozinha.

Consultava os blogs/sites de música habituais através do Google Reader. Algumas notícias interessantes, como o anúncio da tour do Coldplay e da Madonna, mas que não valem um post. Outras notícias um tanto bizarras, como a perda do bebê da Pitty, que nem me pergunto se vale ou não um post.

O fato é que a maioria de minhas "fontes virtuais" não tinha nada de interessante; daí que boa parte delas partiu para textos mais analíticos sobre eventos recém passados - como o mega festival Virada Cultural, em São Paulo -, ou crônicas motivadas por datas especiais, ou, o mais frequente, textos sobre outro assunto que não seja a música.

Pensei em adotar o mesmo expediente. Falar de outros assuntos era minha idéia, seja por falta de tempo para escrever textos mais "densos" como crônicas, seja por preguiça de apurar para fazer alguma reportagem. No mesmo Reader, fui verificar minha relação de blogs de literatura, que sempre tem algum assunto interessante, no mínimo para ser lido. Eis que chego no blog da Clarah Averbuck, a "Bukowski de saias" brasileira, como alguém disse certa vez, com má intenção. Eis aqui abaixo o que tinha no blog dela:




É daqueles vídeos que impressiona. Honestidade, originalidade, simplicidade, crueza, todas palavras raras de se usar com propriedade hoje em dia, aqui valem. Um homem, um violão e aquela melancolia que, perdoe o clichê, só o blues consegue fazer com que seja autêntica. Nunca ouvi dizer que o blues é música para rir, porque nunca é, mas eu sempre que escuto coisas assim, um homem, um violão e "cem toneleadas de desilusão", para parafrasear o clássico do Rock Gaúcho, só consigo rir. Risada discreta, que substitui expressões embasbacantes que felizmente não saem da boca, como "bah, que musicão", ou "eeiiii, que foda". Talvez risada de cumplicidade, porque o blues bate mesmo é em tardes como a de hoje, frias, ventosas, solitárias, inúteis.

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Falei acima que só o blues consegue fazer com que "aquela" melancolia de um violão e voz seja autêntica. Mentira. Existem outros que ainda acrescentam gaiatice à melancolia, como é o caso do homem do vídeo abaixo:

Apesar de gremista, Lupicínio Rodrigues retratava como poucos a tristeza das ruas, dos relacionamentos destruídos pela cafagestagem quase inerente ao homem. E, melhor de tudo, fazia isso com a simplicidade que só a sabedoria cotidiana ensina.

Crédito foto: Helo-Blue-Sky
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Um comentário:

Augusto Paim disse...

Eu diria que JUSTAMENTE por ser gremista é que Lupicínio retratava como poucos a tristeza das ruas. Ehehehe. Ser gremista é uma coisa muito melancólica...