7.09.2007

Dossiê Fim da Bizz (1)


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É com esta capa acima, que traz uma matéria sobre último show do Los Hermanos antes do já comentado "tempo" que a banda vai dar, que a Revista Bizz se despede do público.

Segundo um comunicado da Editora Abril, responsável pela revista, divulgado em uma matéria do portal Imprensa, a Bizz deixará de ser publicada mensalmente e passará a sair em edições especiais, sem periodicidade determinada. O comunicado ainda diz que "além das edições especiais, a marca BIZZ continua presente no site bizz.abril.com.br".

Muito se vinha especulando que a Bizz estava com os dias contados. Na comunidade da revista no Orkut, os comentários dos ex-jornalistas da revista, os críticos que ainda colaboravam com ela e os leitores "normais" (como eu) apontavam que, passados mais de 2 anos depois do seu relançamento, a Bizz ainda não tinha mostrado a que veio e, principalmente, para quem veio. Atirava-se para todo o lado, mas mesmo quando parecia que ela iria acertar, alguma coisa punha tudo a perder.

Tome como exemplo a capa de janeiro deste ano, com a Pitty. A roqueira baiana pode-se dizer conhecida por boa parcela do brasileiro médio, mesmo daquele que não consome música nem revista: tem um trabalho musical sério, é idolatrada pelos mais jovens, respeitada pelos mais velhos. Seria, portanto, uma capa vendável para uma revista de música. Acontece que a Bizz foi dar uma capa para ela justamente quando a artista não tinha nada de novo para apresentar - o seu segundo álbum já havia sido lançado há tempos, clipes idem, nenhuma música nova tinha ido para a parada, nenhum megashow para destacar.

Qual foi o motivo da capa então, pergunta-se? A entrega do "Prêmio Bizz", que a teve como escolhida como melhor artista e melhor música.

Ora, mesmo em tempos áureos, a Bizz nunca deu capa para o seu próprio prêmio, a não ser que o artista escolhido tenha algo novo - afinal, o que move o jornalismo é o novo, já que ele é, se formos teorizar um pouco, uma forma de conhecimento da realidade apresentada pelo âmbito do singular, daquilo que é inédito.

Fazer jornalismo sem a sua principal matéria-prima (o singular) é coisa de quem não tem preparo para a profissão, algo que a Bizz, mesmo nos tempos "sensacionalistas" em que foi chamada de Showbizz, no início/meados da década de 90, sempre teve - ou iludiu muito bem que tinha.

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O exemplo da Pitty é só um dentre outros inúmeros debatidos lá na comunidade do Orkut, sem dúvida uma das mais ativas e produtivas do Orkut (Este tópico é bem ilustrativo sobre a situação da revista, tendo inclusive participação dos próprios editores dela - no caso, o "Seo Bizz". Mas há outros quantos interessantes, recomendo uma passada diária ali para quem conhecer e discutir sobre música).

Comenta-se nestas mesmas conversas orkutianas que a Bizz ainda pode ter uma sobrevida extra em outra editora, provavelmente na Peixes, que edita a Set. Mas são apenas boatos, por enquanto.

Fica aqui o meu pesar pelo fim da revista que me criei lendo, sendo, inclusive, um dos principais incentivadores para eu querer ser jornalista. Sempre quis um dia escrever nela, e ainda alimento esse desejo, apesar de tudo.

No próximo post, tratatarei de detalhar alguns motivos do fim da revista.


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5 comentários:

Augusto Paim disse...

Tchê, às vezes as revisas precisam dar um tempo para se reestruturarem. Pouquíssimas são como a Piauí, que são pagas por quem tem dinheiro pra investir/se entreter.

Lembro, inclusive, que isso aconteceu certa feita com a Placar, que eu também me criei lendo. Foi meio brochante vê-la acabar, duma hora pra outra. Mas hoje ela está aí de novo, firme e forte. E já tem mais de 30 anos de existência, com mais de uma parada antes de eu começar a lê-la.

Bem, pra finalizar, olha um blog sobre música que achei: http://deadmenandlollypops.blogspot.com/ Dá uma olhada pra ver se é de fundamento.

Abraço.

Leonardo disse...

Com a Bizz é a segunda vez que isso acontece. A diferença principal para a Placar é que, hoje em dia, cada vez mais se torna um desafio fazer uma revista de música quando tudo que é música se pode baixar e todo tipo de informação está disponível para quem ter interesse.

Creio que, ainda mais que no futebol, cada um se sente um "entendido" de música (e, se formos pensar, até se pode ser) e dispensa uma informação - ou opinião - para saber o que se deve ou o que não se deve escutar.

Vou olhar o blog sim. Abraço!

Anônimo disse...

Bah, não sei pq tanto oba-oba com relação a capa da Pitty. Ela foi uma ótima paródia a uma capa da década de 80 que trazia o Paulo Ricardo, então no auge com o RPM, estourando uma garrafa de champagne. Dê uma olhadinha na tua coleção. Tá certo que a piada poderia ser mais explícita, mas pouca gente entendeu a citação. Agora, esse trecho q vc escreveu "Ora, mesmo em tempos áureos, a Bizz nunca deu capa para o seu próprio prêmio, a não ser que o artista escolhido tenha algo novo - afinal, o que move o jornalismo é o novo, já que ele é, se formos teorizar um pouco, uma forma de conhecimento da realidade apresentada pelo âmbito do singular, daquilo que é inédito" é uma tremenda punhetação acadêmica tirado daqueles maravilhosos livros de Teoria da Comunicação. Se você fosse chamado para editar a revista, ela não passava do quinto número com essas idéias...

Leonardo disse...

Bueno, quanto a capa da Pitty, desculpa a mancada, não me lembro dessa do Paulo Ricardo. Mas eram outros tempos, e hoje em dia uma com ela não se justifica.

"Punhetação acadêmica" é bem termo de quem nunca parou pra pensar porque diabos se faz jornalismo, bem como o que isso significa.
Essa definição de jornalismo tá no
"Enigma da Pirâmide", do Adelmo Genro Filho, clássico da teoria do jornalismo aqui no Brasil. Recomendo ao nobre anônimo que dê uma passada ali, principalmente no capítulo X, onde é desvendado o "segredo da pirâmide" e o porquê do jornalismo hoje ser o que ele é, fazer o que ele faz.

Valeu pelas críticas caro anônimo, mas espero uma identificação na próxima.

Anônimo disse...

Leonardo, já vi que você será um ótimo professor de universidade. Não sabe dar uma resposta sem uma citação. O grande problema é que existe uma diferença abissal entre as teorias do jornalismo, geralmente enviesadas pela ideologia, e a prática do dia-a-dia. O Genro Filho é de esquerda ou direita?
Caro amigo, a Bizz acabou por falta de divulgação, como o próprio "Seo Bizz" explicou bem. Quanto a "Decisões editoriais equivocadas", qualquer revista as toma, até mesmo a Veja, grande sucesso editorial da Abril. A Bizz dos anos 80 também tomava decisões equivocadas. A grande diferença dos dias atuais, é que hoje neguinho pode abrir um blog e falar tudo o que pensa. É fácil analisar as coisas do lado de fora. Espero sinceramente que você não seja um dos ressentindos que desejou colaborar com a Bizz, mas não conseguiu. A comunidade que do Orkut que você cita está cheia de tipos assim.