5.27.2007

Na rede (& o Lobão)

.



Todo mundo sabe que o Lobão acaba de lançar o seu Acústico MTV (o primeiro disco do velho Lobo em muito tempo por uma grande gravadora, Sony/BMG).
Todo mundo também sabe que, nos últimos tempos, Lobão era mais citado na imprensa por sua inegável veia polêmica, atirando pesado contra diversas vacas sagradas da MPB e do rock nacional (Chico Buarque, Paralamas, entre outros).

Pois bem. Achei uma bela entrevista com o Velho Lobo, feita pelo jornalista Pedro Alexandre Sanches, atualmente na revista Carta Capital. Veja um trecho abaixo:

"
pas - eu queria falar então sobre a sua participação individual nessa engrenagem. ao se associar à sony bmg depois de uma fase bastante produtiva e combativa fora da "grande" indústria, você volta a integrar esse sistema, ou seja, você volta a "existir" perante o pensamento vigente. aí teríamos de concluir que você (ou melhor, a sua gravadora) está pagando para você existir? quais são, para você, os ganhos e as perdas de optar por trilhar esse novo caminho?


l - essa estranha forma de existir infelizmente não é um privilégio meu, mas de todo o cancioneiro popular brasileiro. pagando pra existir tem o roberto carlos, o caetano, a bethânia, a gal, o gil e qualquer outro que você pensar. é assim que os ídolos se configuram. agora eu te pergunto: por que você acha que eles não merecem? você pode me explicar essa diferença de pesos e medidas? não há perdas, eh, eh, e essa é a maior frustração dos meus inimigos. não há perda alguma. só o incômodo de alguns em me ver em primeiro lugar nas paradas, eh, eh... fora o fato de que, de repente, alguém me pince para formar um digníssimo "quadro histórico da mpb", coisa que ninguém fez ou se lembrou de fazer enquanto agi de forma unilateral. agora vai ter neguinho até questionando minha qualidade musical. não agüento mais ganhar prêmio de personalidade do ano. eu grito porque sei que sou um músico importante (o que é patetico declarar aqui, mas...)! sei que prevalecerá a verdade. isso é uma questão de tempo. mas, de qualquer forna, o meu subtexto é tipo chega, meu bem, já deu, agora me dá isso aqui, vai, eh, eh!!! não tenho mais paciência em [posar? faltou o verbo... de excluído da história.
____________________

pas -
uma coisa que me ocorreu desde o início, ao saber do seu "acústico mtv", foi que, mesmo que agora pelo avesso do avesso, você não deixa de estar na posição que tem ocupado há muito tempo, da contracorrente: está entrando de volta na grande indústria fonográfica no mesmo momento em que figurões como chico buarque, maria bethânia, gal costa, rita lee e dezenas de outros estão saindo dela, no momento em que a antiga mega-estrutura das grandes gravadoras parece estar em pleno desmonte. isso é coincidência, ou dá para estabelecermos alguma relação entre esses dados todos?

____________________


l - bom, pensando dessa maneira, até que comeca a fazer sentido a tal da frase "eu sou a contramão da contradição", frasezinha explorada de maneira tão infeliz até então pelos nossos colegas jornalistas. você deve ter lido alguns deles tentando aludir uma suposta minha contradição em "me vender para o sistema", percebendo nessa frase um ato subliminar de confissão!!!!!! [quais jornalistas falaram isso, que eu não vi?] é claro, né? "eu sou a contramão da contradição" é igual a "olha como eu sou contraditório!!!!!". porra, pedro... é de lascar o cano essa rapeize! agora, que eu estou concebendo uma nova era (não se espante com a minha grandiloqüência) de criatividade, de prosperidade no setor, ah, disso eu tenho plena certeza. fora o fato que esses caras que você mencionou estão "independentes" sem nenhum atrito mais sério. eles simplesmente seguiram uma tendência. e simplesmente cumpriram o rito de assinar os seu contratos da mesma forma de sempre. não transformaram nada (como sempre lhes é peculiar, eh,eh). afinal de contas, você já conhece o que eu acho dessas criaturas. e o meu papo é radicalmente outro. eu acho que você já deve ter percebido que eu joguei uma bomba atômica (essa é a precisa intensidade) nas expectativas dos mais desavisados, nos sem imaginação, nos seguidores, nos rebanheiros, nos dogmas escrotos de demonização dos objetivos, com o intuito de mudar a cara desse marasmo em que estamos vivendo. vou lhe fazer uma confissão sem rodeios: eu quero mudar agora o mainstream e sei que talvez seja o único cara que pode ter essa pretensão... e é por isso que estou aqui, fazendo desse jeitinho bacana de ser, eh, eh, eh. também tenho certeza que só posso efetuar essa aventura tendo total excelência artística. por isso é que cometi um acústico como nenhum outro. e, pra concluir jocosamente, eu merecia essa doce coincidência, eheheheheheheh. p.s.: a música, o show bizz, nunca vai viver sem astronômicos investimentos. as gravadoras têm que existir, mas existir de outra forma, e cabe a nós repensá-las, e transformá-las.

____________________

Gostou? Aqui dá para ver na íntegra.

Depois volto aqui para comentar o disco. Pretendo trazer algumas resenhas saídas nas revistas musicais por aí e mais fotos, se der.


..


3 comentários:

Gustavo H. Hennemann disse...

Escolheste uma boa pauta. E uma boa foto também. Por mais que ele não seja um exemplo de caráter, e a gente sabe que ele nem quer ser, eu admiro o Lobão por fazer uso da liberdade de expressão. Fica explícito que ele nao tem preguiça de pensar, consegue refletir sobre muita coisa que passa batido aos nossos olhos. Acho que a rabugisse dele é falta de paciência com quem se acomoda num país como o nosso, tão doido. Um país que tem gente metida a malandro, que se dá mal, e muito malandro fino, que escapa de todas.
Eu admiro os revoltados com o Brasil, porque eles ainda não desistiram (eu mesmo já pensei em desistir). Quem desiste, não briga, não chinga, não se estressa, deixa as coisas como estão, come, caga e dorme do mesmo jeito.
Vida longa ao Lobão, independente da gravadora que paga o almoço dele. Ao menos é um pensante que se revolta com muita coisa errada que já virou mania.

Anônimo disse...

Sim! A pauta do momento. Acho que um blog, que é um meio de comunicação e expressão alternativo, não poderia ser o melhor meio para abrigar o assunto. O Lobão sempre fez parte da minha vida musical e suas músicas me remetem para um tempo bom (que foi vivido mais pelos irmãos mais velhos do que por mim, mas os resquícios ficam, certo?)

Pois bem, não gosto de acústicos-MTV - fazem saturar músicas boas: o caso Capital Inicial pra mim é a maior expressão disso. Não entendi o que o Lobão quis e se quis alguma coisa (além da questão financeira) com isso. Mas, sinceramente, nunca me importei tanto com sua postura diante das coisas. O que acontece comigo é que passo a desgostar do que acaba sendo do “gosto popular”.

Eu estava tentando faz tempo escrever algo sobre o Lobão e tu, Leo, acabou me dando uma brecha, a partir do post da Show Bizz “das antigas”. A sensação que tu sentiu ao ler a revista é a mesma que eu sinto ao escutar as músicas do cara. Por isso mesmo fiquei um tanto quanto aborrecida: confesso que prefiro a sonoridade oitentista. PÉSSIMO: não senti mais nada com este disco novo. Revolta? Não. Só um protesto: pelo menos “A Vida É Doce” poderia ter ficado de fora.

Leonardo disse...

Não é fácil de entender a posição do Lobão ao gravar esse acústico, mas, como diz na entrevista, eu creio que ele simplesmente cansou de falarem que ele era apenas um rebelde falador mas, também, um grande músico. E isso ele mostrou no Acústico, que, inegavelmente, tem grandes músicas, dignas da melhor safra do pop-rock nacional.

Quanto à essa história do "gosto popular", te confesso que penso um pouco parecido. Mas também creio que não dá pra simplesmente "desgostar" pq fez sucesso e toca na Atlântida, mas sim pq a execução se tornou tão massiva, mas tão massiva, que aquilo que te fez gostar na música já foi assimilado, digerido e jogado fora, como um brinquedo de criança - casos, por exemplo, de "Anna Júlia", "Smells Like Teen Spirit", até certas músicas do U2.
Mas mesmo que ela tenha sido jogada fora por cada um, não dá pra desdenhar da importância que aquela música tem para cada um, ou para a música em si, até mesmo a qualidade intrínseca nela. Por exemplo: Anna Júlia saturou, mas temos de reconhecer que é uma bela canção pop, muito bem feitinha. Não gosto quando pessoas renegam veementemente músicas só pq todo mundo está escutando; ora, se você não gosta mais, assume que enjoou e ok, mas não diga que ela não é boa por causa disso.