6.24.2008

Good Times, Bad Times (2)

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Enquanto me atolo em trabalhos do Mestrado, sobra um tempinho para postar alguma coisa interessante aqui.
Mas aguarde, em breve mudanças neste blog.




A resenha clássica de hoje é do André Forastieri, também um dos nomes da fase áurea da Bizz. Forasta, como muitos o chamavam, é daqueles críticos que não tem receio algum de expor sua opinião; por esse motivo, já arrumou briga com meio mundo, exaltou discos que nunca mais se falou, e, também, deixou pérolas em formas de resenhas. Uma delas é esta aqui, onde ele tece loas ao disco Angel Dust, do Faith No More, lançado em 1992.

A gravadora London disse que esse álbum é suicídio comercial para o Faith No More. E é mesmo. Não tem nada a ver com The Real Thing, "Epic", "Edge Of The World", todo mundo cantando junto e balançando as mãos e tascando sorvete na testa.

Não, isso é um esporro -purulento -paranóico-escroto- sanguinolento, cérebros explodindo multidirecionalmente, picas frustradas se ralando no cimento e sangrando em cima de crianças miseráveis morrendo de fome. Demônios à solta. Adeus fãzinhas púberas, adeus MTV, adeus tudo. Não tem uma porra de um sucesso neste disco. O Faith No More foi longe demais.

"Midlife Crisis", o primeiro single, dá uma pista do disco mas não entrega o jogo. O próximo ("A Small Victory") é a coisa mais "fácil" de Angel Dust, mas suas possibilidades de sucesso foram abortadas com sete meses -os caras botaram um trecho completamente anticomercial e esquisito no meio. Por que esse desejo de se matar? Não vem ao caso, mas é quase grande arte.

Angel Dust é Frankenstein: pedaços de gêneros estabelecidos que não estão mortos mas já fedem -metal, hip-hop, country, thrash - fundidos numa criatura única, simultaneamente podre e rebimbando de vitalidade. O NME chamou de schizo.core, hardcore esquizofrênico. É um bom rótulo, mas não é suficiente.

Seguinte: não tem uma letra simples no álbum. Daria para dizer que são quase poemas se não fosse soar tão pretensioso, poemas no sentido William Burroughs da coisa. Exemplo 1: "os balanços do parquinho não me acomodam mais/folclore: ninguém deveria acreditar que no próximo ano tem aula/escreva cem vezes"(em "Kindergarten").
Exemplo 2: "Chegou a hora de falar com meus filhos/vou dizer a eles exatamente o que meu pai me disse/ VOCÊ NUNCA VAI DAR EM NADA" (em "RV").
O detalhe é que não tem uma letra que dê para cantar junto. A estrutura das músicas não permite, e a voz de Mike Patton varia radicalmente e vai do velho falsete (pouco usado) a puro terror thrash a baladeiro canastrão.

É tão absurdo que no primeiro lado, logo depois de "Midlife Crisis", tem uma música que parece Frank Zappa ("Rv") seguida de um funk metal sujão ("Everything´s Rnined") e de outra que lembra Godflesh/Sepultura, distorção no talo e vocais monstro (´Malpractice").

Minha favorita, "Be Agressive", lembra um pouco "We Care A Lot", sugere sadomasoquismo, começa com órgão de igreja, tem coro infantil no refrão e guitarra wah-wah. Patton está furioso: "O que outro deixaria para trás, cuspiria fora, desperdiçaria eu assumo como meu". Mas as coisas vão mesmo para o inferno em "Jizzlober". É grito choro dor primal, me arrancaram do útero, um pesadelo de distorção e desespero.

O que significa isso tudo? Não sei e não me importo. Vou deixar para alguém mais esperto que eu o trampo de decodificar Angel Dust.

André Forastieri

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Um comentário:

Andy In The Sky disse...

Eu tinha essa revista, bons tempos! Parabéns pelo blog, Andy