6.14.2008

Good Times, Bad Times (1)

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Taí algo que deveria ter colocado como seção fixa do blog antes: resenhas clássicas de álbuns. Porque, alguns anos atrás, se escrevia resenhas espetaculares nas revistas musicais brasileiras. Era um tempo que ainda existiam revistas musicais brasileiras; que se vendia CD, fita cassete e por vezes até LP; que existiam críticos completamente sem noção, sem (aparente) medo de polêmica, e que, talvez por isso mesmo, produziam resenhas que não raro eram muito melhores de ler do que se escutar o disco resenhado.

Enfim, eram bons tempos. Que eu não vivi direito, porque era novo demais e não sacava diversas ironias por falta de malícia e cabedal musical. Era muito mais difícil escutar um disco, e mais ainda ler uma opinião sobre estes. Não sei se eram tempos melhores do que os de hoje; mas que eram bons, isso eram.

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Começo esta seção com uma resenha publicada na finada Revista Bizz do disco Titanomaquia (capa abaixo), do Titãs, de 1992.
O autor dela é o André Barcinski, um dos melhores críticos da fase que muitos costumam chamar de "áurea" da Bizz, que vai do finalzinho dos anos 80 até o início dos 90.




Local: casa de um dos Titãs.
Os sete roqueiros se reúnem para traçar as metas de seu novo álbum.

Paulo: "Bom, galera. E aí? Nosso último disco foi massacrado."
Toni: "É mesmo. Temos que pensar em algo diferente... Vamos começar pelo nome. Alguém tem uma sugestão?"
Nando: "Que tal 'Pa-Ra-Le-Le-Pí-Pe-Do'?"
Marcelo: "Não, nada de poesia concreta. O Arnaldo saiu, se liga!"
Charles: "Que tal um disco grunge? Está bem na moda..."
Sérgio: "Será que dá certo?"
Charles: "Porra, até o Capital Inicial está fazendo cover do Pearl Jam!"
Branco: "É mesmo! O Dinho rasgou todas as suas calças e tatuou 'Eu Sou Roqueiro' na cabeça."

Charles: "A gente poderia chamar aquele cara do Nirvana para produzir, o Butch Vig..."


(segue-se um longo intervalo, durante o qual Charles liga para a gravadora).


Charles: "'Rapeize', o Butch não dá, mas eles me garantem um tal de 'Jack Albino'."
Paulo: "'Albino'? Legal, talvez ele até curta o Hermento Pascoal."

Nando: "Mas eu não entendo nada de grunge. Só ouço Tom Zé e Marisa Monte!"

Branco: "Não tem mistério. O negócio é o seguinte: a gente mete umas guitarrinhas distorcidas, fala uns palavrões no meio das músicas e põe no press release que o nosso negócio agora é pauleira!"

Marcelo: "Será que vai colar?"

Sérgio: "É lógico. Brasileiro é tudo bundão! A molecada toda só está andando com esse visual grunge, eu vi no Programa Livre."

Toni: "A gente pode fazer umas fotos com visual punk!"

Marcelo: "Oba, vou estrear a minha camiseta do Tad."
Nando: "Você também fez este curso de datilografia?"

Branco: "Só tem um problema: e se esta onda grunge acabar? E se o samba entrar na moda?

Charles: "Bom, acho que talvez o Agepê toparia produzir nosso próximo disco."


André Barcinski

Crédito foto: Vinylmine
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