7.14.2006

Reportagem (3): Syd e o "The Piper"

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(R.I.P)




Foi anunciada na terça-feira, em Londres, a morte de Syd Barret, ex-líder e fundador do Pink Floyd. Segundo um porta-voz da banda, o músico “morreu serenamente, vítimas de complicações da diabetes, há uns dois dias”.

Barret entrou para a banda em 1965 e foi a principal força criativa da banda no primeiro álbum, “The Piper at Gates of Dawn”, de 1967. Um ano depois, devido ao excesso de drogas, teve que abandonar o Pink Floyd e foi substituído pelo guitarrista e vocalista David Gilmour. No início dos anos 70, o músico ainda gravou dois álbuns solo e tentou retornar aos palcos, mas não obteve sucesso e se retirou da vida pública, indo morar com sua mãe, em Cambridge, na Inglaterra.

Suas últimas aparições mostravam um senhor gordo, careca, que passava o dia inteiro alienado olhando televisão, imagem que em nada lembra o grande Syd Barret dos anos 60, criador das primeiras músicas rotuladas de “psicodélicas” da história, ainda hoje influência para toda uma geração.

- Jornal A Razão, 13 de julho -



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Talvez o mais psicodélico ser já existente, seja lá o que queira dizer isso em termos práticos, Syd é um dos malucos mais adorados da história do rock. O primeiro álbum do Pink Floyd tem, Piper At The Gates Of Dawn, gravado nos clássicos estúdios Abbey Road em agosto de 1967, tem oito canções sua, sendo que as duas restantes foram compostas em parceria com o resto da banda.

Enquanto estiveram nos estúdios, a banda teve a companhia de ninguém menos que os Beatles, que na época gravavam Sargent Peppers Lonely Hearts Club Band, talvez o disco mais ousado e experimental dos rapazes de Liverpool. Reza a lenda, e é bem possível que não seja apenas lenda, que nos intervalos das gravações, Barret e John Lennon "trocavam figurinhas" sobre o trabalho que cada um fazia. Pelo grau de psicodelia e maluquice nada convencional de músicas como Lucy in the Sky with Diamonds, a faixa 3 de Sgt Peppers (composta por John Lennon), e por todo o álbum do Pink, é provável que as duas bandas tenham trocado também outras coisas além de figurinhas...



Capa do CD



Para descrever "The Piper...", o primeiro adjetivo que vêm é o já citado "maluquice"; "psicodélico" talvez seja o segundo, e "inovador" o terceiro - perceba que nenhum desses três conseguem dizer muita coisa sobre a música em si...
Syd e o resto da banda (nesta época, Rogers Water no baixo, Nick Mason na bateria e Richard Wright nos teclados) conseguiram a façanha de compor um álbum que a compreensão da parte de quem o escuta extrapola o aspecto musical e vai direto para a atmosfera que o álbum passa - as sensações causadas em quem escuta são mais importantes que qualquer outra coisa.

Ainda assim, a impressão que se dá é que para uma verdadeira compreensão da música de The Piper... a pessoa deve estar no mesmo nível de alteração da mente que a banda quando compôs o álbum. Na prática: entupido de LSD. E, nesse estágio, nessa outra esfera mental, talvez o primeiro adjetivo que venha para descrever a música seja o lindo.

Algumas faixas do álbum para escutar (e exercícios de tentativa de descrevê-las):

Astronomy Domine - Imagine uma nave voando pelo espaço. Devagar, ela se aproxima da terra, e começa a sobrevoá-la rapidamente. Então, o seu comandante aparece numa espécie de sacada, dentro da nave, para fazer seu pronunciamento aos terráqueos. O teor das palavras é de sabedoria, mas o tom parece ser de repúdio a raça humana. Por fim, ninguém entende o que acontece e a nave sai da Terra para continuar sua viagem rumo ao desconhecido.

Lúcifer Sam - Deitado na sala de sua casa na beira da praia, fumando o nono baseado seguido, o cara está sozinho. De repente, vê (ou acha que vê) um gatinho siâmes pular pela sala, lépido e curioso. O cara tenta acompanhá-lo, pegar o tal gatinho no colo, mas não consegue. Por fim, desiste. Dias depois, sonha com o gatinho; mais dias depois, vê novamente ele circulando pela sala; mais dias, mais visões, e ele resolve deixar de compreender que diabos o gatinho tanto faz em sua casa. Trecho da letra:

Lucifer Sam, Siam cat.
Always sitting by your side,
always by your side.
That cat's something I can't explain


The Scarecrow - O filho pequeno pede para seu pai contar uma história. O pai parece estar meio alterado psicologicamente, e em vez de contar uma historinha boba para o filho dormir, resolve contar a história de um espantalho. Começa, o filho fica com medo, mas acaba por cair no sono, cansado. O pai continua, cada vez mais alterado, até se dar conta de que ele era o espantalho da história. Vai para o seu quarto, não consegue dormir.
Letra:

The black and green scarecrow,
as everyone knows,
stood with a bird on his hat
and straw everywhere.
He didn't care....
He stood in a field where barley grows.
His head did no thinking, his arms didn't move,
except when the wind cut up rough
and mice ran around on the ground.
He stood in a field where barley grows.
The black and green scarecrow is sadder than me,
but now he's resigned to his fate
'cause life's not unkind.
He doesn't mind.
He stood in a field where barley grows


Matilda Mother - Um conto medieval escrito por um prisioneiro, considerado mentalmente instável e perturbado, em sua cela no auto da torre, contado para diversos ratos, também presentes na cela.

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4 comentários:

Augusto Paim disse...

Bota de conteúdo este teu blog, Foletto! Sério mesmo! Tô considerando um dos (se não O) melhores blogs q já visitei! E não só sobre música!
Tenho divulgado pra quem posso!
Abração!

Anônimo disse...

Leonardo, parabéns!
O blog foi uma ótima idéia, além de estar muito bom e bonito.
Abraço grande

Augusto Paim disse...

Tchê, o link pro meu blog não tá fungando! Eheheheh. É http://cabruuum.blogspot.com
E é CabrUUUm, com três U. Tá só com dois ali do lado.
É isso.
Abraço.

Leonardo disse...

Me esqueci de um "u" ali no meio, desculpa. Mas já tá corrigido. Valeu pela dica!