7.02.2006

Reportagem (1): "Não acredito que ninguém mais goste de rock"

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Crema, uma das mais novas bandas da cidade, mistura clássicos e novidades do rock'roll


O Teclado é um instrumento dos mais polêmicos no rock. Por vezes, ele é colocado tão alto que ofusca o brilho do som das guitarras; por outras, soa tão baixo que nem é ouvido. São poucas bandas e artistas que conseguem ficam no meio dos dois extremos e fazercom que a mistura saída se torne coesa e equilibrada.

Em Santa Maria, o “gênero” ganhou um mais novo representante: a banda Crema. A sua estréia, na sexta passada, no bar Macondo, trouxe um repertório de alto nível; dos clássicos Rolling Stones, Jerry Lee Lewis, The Kinks, Neil Young, Bob Dylan aos mais novos Franz Ferdinand, Kings of Leon, Him e Los Hermanos. Mesmo criada há menos de 3 meses, eles já começaram o processo de criação: “Gravamos uma base aqui em casa, sem vocal, tá bem legal”, diz Márcio Echeverria, 24 anos, o frontman da Crema, responsável pelo vocal, teclado e a eventual guitarra base.

Editor de vídeo e dono de um estúdio de gravação em casa,Márcio toca teclado em bandas há mais de 5 anos. Em Santa Maria, passou pela Bandauê, e hoje toca também na Cidade Baixa.Conhece bem a noite da cidade. Com essa experiência é que ele diz: “ Não acredito que ninguém goste mais de rock por aqui”. Márcio, que é natural de Bagé, se refere as boates e casas noturnas, hoje quase inteiramente tomadas pelo pagode. “Em uma boate aqui do centro, dizem que as bandas têm que tocar as músicas que o pessoal sabe cantar ” diz. Alguma coisa está errada.

Nesses anos em que tocou, o desejo de montar uma banda que o foco fosse o rock de raiz sempre andou junto. Alguns meses atrás, ele participou da gravação do curta “Rock`roll”, produzido pelo curso de extensão em cinema da UFSM, representando o vocalista de uma banda que tocava “Like a Rolling Stone”, clássico de Bob Dylan. Ele gostou da experiência de cantar, que até então era restrita a poucos ouvintes de rodas de violão de amigos e clientes de jingles que Márcio produzia. Mostrou a gravação para o amigo Sino Lopes, vocalista da Cidade Baixa, que gostou do que ouviu: “ Tá parecendo o Bob Dylan, cara, porque tu não monta uma banda de uma vez?”. Márcio resolveu seguir o conselho; perguntou à John Canilha, dono do estúdio onde a Cidade Baixa ensaiava, se ele já tinha tocado em alguma banda. John, 49 anos, que trabalha também com próteses dentárias, nunca tinha subido em um palco, só tocava em ensaios, nada muito sério. Márcio convenceu-o. Em um dia no bar Macondo, o outro integrante da Crema, Cauã Johnsons, 16 anos, filho de John, foi abordado por Márcio com a clássica pergunta: “ Vamos montar uma banda?”. No outro dia, Cauã ligou para Márcio. Pouco tempo depois, começaram a ensaiar. A primeira música foi “Like a Rolling Stone”. Mas faltava um baixista, que Márcio resolveu quando se lembrou de um velho amigo de Bagé, Anjinho, 21 anos.

Banda formada, faltava o nome. Maurício Canterle, amigo de Márcio e da banda, veio com o “Crema”, por causa de um tipo especial do cigarro da marca Carlton. O nome era curto e soou bem, como eles queriam. Menos de cinco ensaios depois, o show no Macondo, na abertura de outra banda do amigo Sino Lopes.

Da esquerda para a direita, Márcio, Anjinho, Cauã e John

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Crema no Macondo, 10 de março.

Rock'roll will never die!

Nâo tem palco. O lugar onde a banda fica é um canto no fundo do bar, demarcado por um tapete. Só se sabe que vai começar o show porque a música ambiente cessa. Baixo, guitarra e bateria entram devagar, em um volume parecido, e eis que surge o teclado, o mais alto de todos, que já toma a frente na condução da melodia e prepara para a entrada da voz, que surge de início meio tímida, mas aos poucos ganha confiança para a explosão no refrão: "You really got me!". The Kinks. Anos 60. Não, 2006, passado da uma da manhã de uma sexta-feira, dia 10 de março.

Great balls of fire, jerry Lee Lewis. Anos 50. O clássico passo de dança dos primeiros anos de rock'roll, bastante visto em bailes de formatura, é lembrado pelo público que, a essa altura, já tomou cerveja o suficiente para esquecer que o espaço disponível impede qualquer passo de dança mais ousado.
O teclado, dessa vez, entra primeiro e conduz a harmoniosa versão de "Let's spend the night together", dos Rolling Stones. Anos 60 novamente. Logo à frente do "palco", amigos e namoradas da banda, aos poucos, relaxam e curtem a música, esquecendo por algum tempo a inevitável preocupação de se procurar erros no show.

Like a rolling Stone, Brown Sugar, anos 60, e eis que os 2000 dão as caras. Franz Ferdinand, Take me out. Essa toca bastante no bar, todos conhecem, e houve-se até vozes repetindo o som da guitarra no refrão.

Neil Young, Hey hey my my. O verso "rock'roll will never die" ecoa pelo local, tanto nos ouvidos quanto nos pensamentos de todos ali, sabidos de que aquwla velha história que o rock morreu não passa disso mesmo: uma eterna velha história.

Jornal A Razão, 16 de Março.


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4 comentários:

Augusto Paim disse...

Já me conquistou de saída, Foletto! Teu blog já nasce com conteúdo.

Gostei de tu explicitar logo de cara como vão funcionar as postagens. A organização ajuda o blog a perdurar, né. Agora, isso implica ter nomes de seções?

Também achei bacana tu usar o que tu faz pro jornal. Primeiro, por economia de tempo. Segundo, pra poder fazer bem o que tu gostaria de fazer no jornal, mas não pode, por causa do espaço. A versão online é muito mais completa que a impressa. Isso é muito bom.

Sério, se eu tivesse cabedal pra criar um blog de música, gostaria que fosse assim, que nem o teu. Muito bom mesmo. Desde a escolha do template até a organização do conteúdo. Sem falar que teus textos são excelentes!!!

Tu já está linkado no cabruuum!!!!!

Abração e sucesso!!!

Anônimo disse...

O Foleto que massa, valeu pela força mais uma vez.Gostei desse blog. Essa semana sai nosso primeiro single "Você sabe sim" quero que tu escute. grande abraço!

Canterle disse...

Espero que perdure.
Assim como o rock.

Gostei do conteúdo e do leiaute...mas as letras em baixo do titulo tão complicadas pra ler,
uma mexida na cor ajudaria.

Qualquer coisa, estamos aí. Disposto a colaborar.

Muito sucesso!
Abraço

Maurício

Fran Rebelatto disse...

Nossa, o Augustinho tinha razão, não é que ta bom mesmo...
Curiosidade me trouxe até aqui e admiração vai me fazer continuar vindo...
Bela matéria sobre esses guris que tem futuro...
Abraços...mas quero mais