8.04.2006

Reportagem (6): A volta da Sapato Vermelho

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Com a saída de Shirle de Moraes, que depois do sucesso no programa Fama segue em carreira solo, a banda reestréia nos palcos locais com uma nova vocalista


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Na segunda metade do ano passado, a banda santa-mariense Sapato Vermelho, de uma hora para outra, viu o seu nome ser pronunciado em diversos lugares Brasil afora. Shirle de Moraes, vocalista da banda, foi selecionada para participar do programa Fama, da Rede Globo, e como se não bastasse, ficou entre as três finalistas. Muita gente quis saber qual era a banda em que a gaúcha de timbre parecido com Elis Regina e natural de Três de Maio cantava. Aqui por Santa Maria, a dúvida que pairava era se a Sapato Vermelho, que tinha feito poucos mas excelentes shows nos bares locais, continuaria sem a vocalista, que com o sucesso obtido na tv conseguiu um contrato de carreira solo com uma grande gravadora. Passado menos de um ano, com a poeira já baixa, a banda retorna às atividades hoje em show no Macondo Bar, com a nova vocalista Franciele e muita vontade de continuar tocando o rock lisérgico do final dos anos 60 e início dos 70.


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Contada a história inicial, é num dos dias mais frios do ano que a Sapato Vermelho - Franciele e mais Edinho no baixo, Cristiano na Guitarra e Ricardo na bateria - está reunida numa pequena sala da casa deste último. Para espantar o frio, além dos cachecóis e golas altas, uma taça e um copo de vinho passam de mão em mão, sendo por todos bem recebido. A cada nova servida de vinho, o ambiente ganha em descontração, ajudada pela música suave (mas nem tanto) vindo de um LP da Gal Costa (“Gal fatal – a todo vapor”, de 1972), e por um cigarro e outro, fumados numa sala aberta ao lado.
Os quatro integrantes estão sentados num cenário que, talvez mais do que qualquer outra explicação, define a mistura que é a banda: nas paredes, inúmeras fotos, gravuras, posters e trechos de letras de músicas formam um belo altar ao rock das décadas de 60 e 70; numa estante, os homenageados são os escritores beatniks, que comparecem em diversos livros raros alinhados com não muito cuidado; logo abaixo da estante ficam os LPs, em sua grande maioria dignos de figurarem em diversas listas de melhores álbuns da história do rock, tanto nacional quanto internacional.
A impressão que se tem ao entrar na sala é que voltamos no tempo: estamos no final da década de 60, o movimento hippie prega a paz e o amor nos campos, os estudantes se rebelam contra o governo nas ruas e a psicodelia colore as caixas de som fazendo a melhor trilha sonora possível para tantas ebulições misturadas.


_ Nós estamos super ansiosos para fazer esse show - diz o baixista Edinho, a voz mais próxima da “oficial” da banda. Mesmo de vocalista nova, ele explica que o repertório não se diferencia muito do que eles vinham fazendo antes com a Shirle: Janis Joplin, Jefferson Airplane, Led Zeppelin, Deep Purple, Secos & Molhados, entre outros.

_ O timbre das duas é parecido, só o da Fran é um pouco mais grave - comenta o baixista.


Da esquerda para a direita, a vocalista Franciele, o baterista Ricardo, o guitarrista Cristiano, e o baixista Edinho na pequena sala da casa do baterista.


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Franciele, que assim como Shirle começou cantando MPB e música tradicionalista, assume com tranqüilidade o papel de substituir uma cantora que foi alçada à fama através da televisão:

_ Entrei na chuva é pra me molhar mesmo - diz a nova vocalista, de 23 anos, estudante de Direito na UFSM e bancária em Formigueiro.

Ela surgiu para a banda de uma maneira um tanto inusitada: o irmão de um dos integrantes, dono de um bar local, promoveu uma noite de talentos, onde quem quisesse poderia se apresentar. Fran resolveu ir, e de cara agradou o pessoal do lugar, que marcou uma data para um próximo show. Mesmo não sabendo se a banda procurava ou não uma vocalista, o dono resolveu dar um toque: “olha, apareceu uma menina que canta muito lá no bar”. Ricardo e Edinho resolveram ir no show, sem muita expectativa. Mas se surpreenderam: a vocalista realmente “cantava muito”. Fizeram os contatos, e pouco tempo depois a Sapato Vermelho ensaiava três músicas, agora já como um quarteto.

Novamente formatada e unida, os quatro ficaram um tempo tocando em estúdios até aparecer a oportunidade do show no Macondo, lugar onde os donos são velhos conhecidos da banda. Praticamente batizaram a Sapato Vermelho, como conta o guitarrista Cristiano:

_ O nome inicial era Sapatos vermelhos. Mas numa festa na boate do DCE promovida pelos atuais sócios do Macondo quando o bar ainda não existia, saiu no cartaz de divulgação “Sapato Vermelho”, e mesmo errado, acabou ficando para o nome da banda.
Depois do show, a idéia é continuar tocando e partir para as composições próprias. Mas tudo sem muita pressa, como diz o baterista:

_ Se o Van Gogh demorou 27 anos pra pintar o primeiro quadro, não custa a gente acreditar numa segunda vez pra dar certo...


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- Jornal A Razão, 3 de agosto de 2006 -
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