8.11.2006

Crítica: Lactuca Sativa

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A dita evolução pode trazer alguns problemas

A primeira coisa a se concluir ao escutar os dois álbuns da Lactuca Sativa é inevitável: eles são completamente diferentes. Enquanto o primeiro, de 2001– quando os integrantes da banda tinham entre 14 e 16 anos – é um misto de punk com rock’roll e algumas baladas pop, o segundo é uma mistura de baladas pop com rock’roll. Se em “É pra comê ou pra levá?”, o que predomina são as melodias toscas, as letras divertidas e sarcásticas retratando o cotidiano adolescente em toda sua essência – que é desprovida de qualquer preocupação que não a de “pegar mulher”-, em “Outro Mundo” as melodias são mais bem trabalhadas e as letras românticas, retratando amores perdidos e conquistados.

Quem escuta pensa: houve uma evolução na banda, os integrantes cresceram, pararam de usar palavrões e algumas expressões de baixo calão nas músicas e ficaram mais “calmos”. Resumindo, amadureceram. Mas uma evolução deste tipo pode trazer muitos problemas: os antigos fãs mais ortodoxos querem saber é de barulho, de agitar, de pular e mandar todo mundo para aquele lugar. E, naturalmente, ficam brabos com a “romantização” das letras, porque de letras exaltando os amores perdidos já se têm tanta banda e artista por aí fazendo, para que mais uma, e justamente uma de que eles antes gostavam?

Só que, por outro lado, os integrantes da banda não sentem mais a antiga necessidade de falar do seu cotidiano sem preocupações para todo mundo porque, inclusive, o cotidiano mudou: agora há a faculdade com o que se preocupar, as namoradas a se agradar, uma profissão futura a se almejar. E é justamente nesta encruzilhada que a Lactuca Sativa se encontra: conquistou a maior parte dos fãs com um punk/pop vigoroso e grudento, fiel na sua essência tosca de retratar a juventude, mas continua na estrada com um outro estilo, que tem um nível de exigência muito maior e que, também, necessita daquele algo mais para poder sobreviver no mercado. Só que esse algo mais não é nada fácil de se obter.

Confira a diferença nas letras dos dois álbuns:



É pra comê ou pra levá? (2001)

Trecho da primeira faixa,“Gasolina” (clique aqui para baixar a música):

“Não tinha cara pra chegar nesse avião
Só uma certeza de levar dela um não
Só que no outro dia o oposto aconteceu
Me viu sair de carro e foi falar com um amigo meu
_ Chega nessa garota, que a menina tá afim
_ Afim de andar no meu carro, gasolina é sempre assim”




Outro Mundo (2004)

Trecho da quinta faixa, “Altas Horas ” (clique aqui para baixar):

Coisa boa ainda sonho com você
Lá nas estrelas
Coisa boa encontrei você aqui pra em fazer feliz
Uma lembrança vaga do meu amor
Seu perfume faz sofrer meu coração
Mas essa noite vou ter você pra mim
Pra me fazer feliz
Só você pode fazer minha alegria"



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Um comentário:

Augusto Paim disse...

Madura é a tua análise! Show de bola!