12.01.2006

Reportagem (14) : No estúdio com a vencedora

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Com apenas 3 meses de atividade, banda Polimorfia foi a ganhadora do Universo Pop deste ano na categoria Livre



Realizado no último fim de semana, no ginásio do Clube Dores, o festival Universo Pop reuniu cerca de 74 bandas, que disputaram os prêmios em duas categorias: Livre e Música nas Escolas, além de premiações individuais. A banda vencedora na categoria livre foi a Polimorfia, formada por quatro ex-integrantes da banda Rua XV e pelo vocalista Marcopolo Maia, que também levou o prêmio de melhor interprete do evento.


1) Ambientação

É numa terça-feira à tarde algo nublada que os cinco integrantes da Polimorfia recebem o CenaBeatnik para a entrevista. O local é o próprio estúdio da banda, que eles mantêm na casa do baterista Maurício Hoffmann, no bairro Duque de Caxias, perto da matriz do supermercado Dois Irmãos. Passado um pouco da hora marcada, o anfitrião Maurício vem à frente de casa, dá um chega para lá no seu cachorro (pequeno, mas valente como todos os pequenos) e conduz o repórter rapidamente ao estúdio no fim do pátio, onde a banda já espera sentada tranquilamente. Todos se levantam, se apresentam e, nem questionados, já começam a falar. Puxados pelo baterista, e aditivados pela ansiedade que toda entrevista parece causar, falam bastante; sobre a banda em que quatro dos cinco integrantes tocavam (a Rua XV), sobre os gostos musicais de cada um (o hard-rock predomina, mas o metal, a música clássica e o jazz estão presentes também).
Cinco pessoas falando quase ao mesmo tempo torna difícil a compreensão total do assunto, principalmente quando o interlocutor está no meio e tenta olhar para todos os lados, na tentativa de enxergar quem fala o quê. Mas o início costuma ser assim, a banda tentando causar uma boa primeira impressão e o repórter ainda entrando no contexto da situação.

2) Contexto sendo explorado

Poucos minutos depois, já se identifica os integrantes da banda. Sentados em meia lua, com o repórter no meio, estão, da esquerda para a direita: o já citado Maurício, 18 anos, o guitarrista Rafael Reis, 19, o vocalista Marcopolo Maia, 22, o baixista Adelar Martins, 19, e o também guitarrista Guilherme Marin, 20. Pergunta-se sobre o Universo Pop; Maurício responde prontamente:
_ Foi legal, tinha bastante banda de qualidade, o palco era bem grande, dos que a gente não vê pela cidade.
Marcopolo complementa:
_ Eram 10 minutos só, a gente teve que mostrar uma boa organização para ajustar os instrumentos e já começar a tocar. Mas a reação do pessoal foi boa; quando começamos a primeira, “Cochise”, do Audioslave, as pessoas vieram para a frente do palco, agitaram. Depois ainda tocamos a nossa, “Seja você".
Essa última, que já toca em uma rádio local, é a primeira de mais três músicas prontas que a Polimorfia têm, fora as que estão em fase de composição:
_ Esses dias estávamos trabalhando numa que o Rafael trouxe. Vamos ver se até o fim deste ano ou o início do ano que vem temos músicas suficiente para gravar um CD”, diz Maurício.





3) Perguntas inevitáveis

Numa entrevista com bandas ainda desconhecidas do grande público, certos questionamentos são inevitáveis; por mais batidas que sejam, são perguntas que devem ser feitas, de alguma maneira, em algum período. A primeira: Por que do nome Polimorfia? Novamente Maurício é quem esclarece:
_ Bom, poli significa várias, morfia é forma. Várias formas seria a tradução. É mais por causa das nossas influências, que são diversas, mas tende ao mesmo ponto em comum, que é o hard-rock de bandas como Van Halen, TNT, Audioslave e das santa-marienses Fuga, Doce Veneno, Feeling.
A segunda pergunta, que seria sobre as influências da banda, acaba de ser respondida. Passamos a uma terceira, que no contexto se torna inevitável: Quatro de vocês tocavam na Rua XV, por que não resolveram continuar com o mesmo nome?
_ Queríamos diferenciar o som, ser mais rock, e para isso tínhamos que trocar de nome, começar quase do zero mesmo. Antes não podíamos evoluir juntos, coisa que agora fazemos porque todos estão no mesmo nível musical, diz Maurício.


4) Audição e uma inquietação

Após a conversa, é hora da audição. A banda põe para tocar três músicas: “Seja você”, e duas covers (“Cochise” e “É Proibido Fumar”). Esta última, em versão quase heavy-metal – usar a referência altamente técnica do metal nas versões e músicas próprias é algo comum para a banda - surpreende pela excelente qualidade e pela criatividade, o que não é muito comum quando se fala em cover.
Mas quando do aparelho sai a música “Seja você”, surge um pouco de desapontamento: apesar de ser um hard-rock bem feito, com a parte instrumental muito bem tocada, os clichês de uma “música para tocar em rádio” estão todos ali, límpidos, para quem quiser ver: o solo da introdução, o refrão pegajoso, a letra com pitadas de auto-ajuda, a fórmula previsível do andamento da canção, etc.
Como a banda diz, “Seja você” é a provável carro-chefe do primeiro Cd – o que leva a uma constatação: o problema não é das bandas que repetem a mesma fórmula, mas sim das rádios que exigem essa fórmula já gasta para que as músicas toquem em sua programação.


-Jornal A Razão, 30 de Novembro de 2006-
Fotos: Paulo Pires


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Veja os outros vencedores do Universo Pop:

Categoria livre
1º ) Polimorfia (Santa Maria)
2º ) Advertência (São Sepé)
3º ) Nitra (Santa Maria)

Categoria música nas escolas
1º) Agente Six (Santa Maria)
2º) Púrpura (Santa Maria)
3º) Lancaster (Santa Maria)

Melhor Interprete – Marcopolo Maia – Polimorfia (Santa Maria)
Melhor Composição – Estrela da Manhã - Rastros de Sol (Santa Maria)
Música mais popular – Anestesia (Palmeiras das Missões)
Melhor Instrumentista – Trio de metais da banda Advertência (São Sepé)



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