Mostrando postagens com marcador Rock Gaúcho. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Rock Gaúcho. Mostrar todas as postagens

6.02.2008

Complexo de Júpiter

.

Antes de mais nada, quero dizer que semana passada foi de um certo relapso aqui no blog. Passei boa parte da semana em trânsito, como se diz, e fica difícil postar - ainda mais postar bem - em trânsito. Esta semana não será de trânsito, mas de mudanças, o que não deve atrapalhar mais o blog - assim espero.

**

Em minha rotineira ronda pela blogosfera, me deparei com o site da MTV Brasil, algo que havia tempo com que não fazia. A MTV, como muita gente sabe, recentemente abriu mão de quase tudo que tinha de bom em sua programação. Mais recente ainda, ela decidiu voltar atrás em alguns pontos, e tornou-se novamente um canal visível - por hora, é possível ficar 30 minutos olhando para sua programação sem se cansar, se a sorte ajudar.

Pois o MTV Overdrive ainda mantém uma certa média de qualidade que o canal tinha em início e meados da década de 1990. Como é um canal na internet, sem os compromissos com audiência que a MTV "normal" sempre disfarçou que teve, há espaços generosos para a experimentação; pois desta maneira, e talvez só desta maneira, é que pode existir algo como esse "Jupiter Maçã Show".

***



O Júpiter Maçã, como muita gente sabe, é o alter-ego de Flávio Basso, vocalista dos Cascavellettes - uma das principais bandas do rock do RS - até início da década passada, quando a banda acabou e ele seguiu em carreira solo. Anos depois, em 1996, ele lançou aquele que a revista Aplauso, através de uma votação que contou com os principais jornalistas, músicos s produtores do RS, elegeu como o melhor álbum do rock gaúcho já feito: A Sétima Efervescência.

Em lista com os 100 maiores discos de música produzidos no Brasil, a Rolling Stone Brasil incluiu o mesmo disco, confirmando que a fama e a qualidade de Júpiter extrapolaram o Rio Mampituba. Depois do disco de estréia, Júpiter enveredou por outros caminhos, produzindo dois discos bons, mas herméticos em sua psicodelia por vezes inintelegível - Plastic Soda, de 1999, e Hisscivilization, de 2002. Até que, em 2006, lançou Uma Tarde na Fruteira, considerada uma volta ao som do início da carreira solo.

Neste meio tempo, e hoje ainda mais, pode-se dizer que Júpíter ficou, digamos, sequelado. Mesmo para um junkie de décadas de experiência no assunto como ele, tem horas que a chapação se aloja na mente, toma para passear a identidade da pessoa e transforma essa em algo que ninguém mais sabe se é uma caricatura do que já foi, um versão cancerosa do que está sendo ou se tudo não passa de uma grande brincadeira que se repete sem parar - e aí, por vezes, perde-se totalmente a graça da coisa.

***

Maurício Chaise, Júpiter e Lucas Hanke nos Estúdios de gravação da MTV


Nesse talk show bolado pela MTV, essas facetas se misturam a todo momento. Por vezes, é brilhante, como na troca de idéias viajantes com outro adepto de carteirinha desta estranha modalidade de discurso, Rogério Skylab; por outras, beira o surreal e o constrangedor, como a própria Clarah Averbuck, entrevistada de Júpiter, chega a comentar em outro programa.

Os dois músicos da banda de Júpiter que participam do programa seguram as pontas na hora de tocar, repertório sempre da melhor qualidade, como são as influências do som que o gaúcho faz. Ainda assim, sentimentos diferentes se degladiam para deixar uma impressão final na cabeça de quem observa Júpiter: será pena que temos do seu estado, aparentemente chapado ad infinitnum; será admiração, já que mesmo - aparentemente - sempre chapado, ele ainda consegue fazer músicas inegavelmente boas, como são algumas quantas de seu último disco; ou a impressão que fica é de que tudo não passa de uma grande brincadeira, e de que a todo momento Júpiter está tirando com a nossa cara por acharmos que ele está muito pior do que realmente está?

Não me atrevo a finalizar uma posição; melhor mesmo é elas se degladiarem por mais tempo em busca de uma resposta.


Créditos fotos: Uma tarde na fruteira

..

5.25.2008

Garagem

.

O
blog do Cristiano Bastos já figura fácil nos mais interessantes da seara "blogs musicais do Brasil". Principalmente quando trata de rock gaúcho, assunto do qual Cristiano é um profundo conhecedor.

Num dos últimos posts, ele entrevistou o Léo Felipe, mais conhecido como apresentador do programa Radar, da TVE RS, mas que também é escritor, discotecador de festas na capital gaúcha, co-apresentador de um "sarau pop" e, acima de tudo, um dos fundadores do tradicional Garagem Hermética, point de passagem e de criação do rock gaúcho desde 1992.

Pois Léo está escrevendo um livro com as melhores histórias do bar. Faltam alguns capítulos, como também (ainda) falta uma editora para lançar o livro. Mas dá para acompanhar o que já foi escrito no blog do cara, o Foguete Formidável, na seção "A Fantástica Fábrica de Chocolate".

O primeiro capítulo é este aqui; o último, até agora, é este aqui; outros 20 também já estão lá, é só pesquisar nos previous posts. Vale a leitura: a prosa de Léo é tão representativa do bon fim lifestyle quanto o som do Júpiter Maçã em A Sétima Eferverscência é do rock gaúcho. (se não sabe que diabos é o bon fim lifestyle, é só ler os capítulos do futuro livro).

O provável índice do livro está aqui abaixo, postado no mesmo blog em agosto do ano passado:

Parte I – Early Years (1991-93)
1) Ab ovo

2) A casa assassinada

3) A primeira noite do resto de nossos dias
4) Ah, cês querem roque?

5) Banda desenhada

6) Um corpo que cai


Parte II – Hard Times (1994-95)
7) Pega ladrão!
8) Up against the wall

9) Rock fight
10) Mafaldita

11) Caixa acústica

12) Noite vazia

13) Cocaína dez real ou Não basta descer até o fundo do poço, tem que cavocar

14) Edu K perneta

Parte III – Renascença (1996-98)
15) Sushi!?

16) Ceva uruguaia
17) My own private Summer of Love ou As sobrinhas do Juca

18) Rock pauleira
19) Electronica

20) Cinemeando
21) Mais um corpo que cai

Parte IV – Finale (1998-2000)
22) A noite das garrafadas

23) Seu Antônio

24) Os porteiros da percepção

25) Bailão dos jovens

26) Titanic

27) Apocalipse now


Aguardemos o lançamento.

..

3.20.2008

É nosso! (ou Nei Lisboa e a Síndrome do Mampituba) - Parte dois

.


Voltando a pergunta feita neste post, produzido quase duas semanas atrás: qual a explicação pra a tal "síndrome do Mampituba"?

Cristiano Bastos, um dos autores de Gauleses Irredutíveis: Causos e Atitudes do Rock Gaúcho, uma das obras fundamentais para se iniciar nessa discussão (que está para ser relançada este ano, com acréscimos à edição original), é um dos que faz essa pergunta e, com o conhecimento que tem sobre o assunto, responde - ou passa a bola para outros que também entendem responder:

Ricardo Alexandre (ex-editor-chefe da BIZZ):
"Não acho que o rock gaúcho encontre resistência realmente. Veja Engenheiros, Nenhum de Nós, Cachorro Grande, Júpiter Maçã, Wander... Acho que os artistas gaúchos não se empenham o suficiente para avançar sobre o mercado nacional.
E nem deveriam: o mercado gaúcho já é grande o suficiente e muito mais profissional e interessante. Falei isso pro Julio Porto, da Ultramen, num show deles no Bar Opinião: "Tá vendo essa gatinha que veio te pedir autógrafo? Se a gente estivesse em São Paulo, ela estaria num show do Daniel". E é verdade: por que a Ultramen deixaria de tocar num Opinião lotado para tocar para num Morrison Rock Bar vazio? Porque deixaria de prestigiar a Rádio Atlântida para ter de pagar jabá para NÃO tocar na Mix FM? Sem chance."

Gustavo Mini Bittencourt (Walverdes):
"Concordo plenamente com o Ricardo Alexandre, sem tirar nem pôr. É o que eu sempre pensei. Acredito que o "mainstream local" (uma rede de rádios de comunicação forte como a RBS e um circuito de shows consistente no interior) acaba segurando as bandas por aqui pois elas conseguem se estabelecer profissionalmente sem precisar ir pra São Paulo. Acredito que grande parte do sucesso do mangue beat se deu porque os caras precisavam vir pra cá pra cena não minguar em Recife."

O texto completo desses dois depoimentos está aqui.


***

" Eu e minha eeeeeeeeeeexx..."


Para finalizar a questão, coloco aqui um trecho de um texto que também está no blog do Cristiano, escrito por Leonardo Bonfim:

"Quando ouvi pela primeira vez "Quarenta Anos", da Graforréia Xilarmônica, pensei: é o epitáfio perfeito para o Rock Gaúcho. Coisa linda finalizar uma cena tão rica, criativa e anárquica sob versos como “impressionante ver que ainda toco esta guitarra, minha laringe com ternura ainda escarra, em prosa e verso, melodias e ruidos”.

É simbólica. Toda uma geração jovem (em todos os sentidos da palavra) que, ainda nos anos 80, cantou sobre mortes por tesão, bailarinas assassinadas, surfistas calhordas e amigos punks, está realmente com quarenta anos na cara e já perdeu espaço dentro do próprio Estado." (...)

"Assim como não preciso esperar 30 anos e bajulações do David-Byrne-da-vez para afirmar de boca cheia que Júlio Reny, Flávio Basso, Frank Jorge, Marcelo Birck, Edu K, Plato Divorak, entre outros, são gênios; não preciso de mais nenhum minuto para sacar que nenhuma das novas bandas vai fazer diferença.

O que dizer de uma cena que conseguiu movimentar os subterrâneos de um país inteiro sem ter praticamente nenhum apoio comercial? Pode ser um show antológico do Júpiter Maçã lá no Planetário do Rio de Janeiro, em 1997, assunto de bar até hoje entre figuras como Kassin, Gabriel Thomaz, integrantes dos Los Hermanos...

Ou um show catártico da Graforréia lá no festival Upload de Sampa, em 2001, que deixou muito marmanjo chorando... São obras-primas como o antológico disco solo de Marcelo Birck, Atonais Em Amplitude Modulada, Os Iluminados Monstros do Amor Frank & Plato, Júlio Reny & Seu Último Verão, TNT & Cascavelletes chupando os Stones quando o Brasil inteiro chupava o Police e U2, Replicantes, De Falla, os trabalhos magníficos dos irmãos Dreher na produção e por aí vai.

Passe no Museu do Rock Gaúcho, situado em Chapecó, para ouvir o fino da bossa. E nasceram filhotes em todo o país. São candangos-gaúchos, niteroienses-gaúchos, recifenses-gaúchos, paulistas-gaúchos, curitibanos-gaúchos, chapecoenses-gaúchos, gaúchos-gaúchos...
Certa vez, conversando com o gaúcho-candango André Vasquez, citei o rock inglês como a grande fonte de inspiração para algumas bandas do Rock Gaúcho. Ele rebateu na hora: "que nada, ouve 'Eu e Minha Ex', isso não é rock inglês, é Rock Gaúcho!".

É verdade. Aquele jeito Flávio Basso de cantar, arranjos de Marcelo Birck, pelas alamedas de Poooorto Alegre, naipe de sopros altamente dissonante, do Mercadão até o Bom Fim, coro desengonçado, o refrão explodindo eu e minha eeeeeeeeeeeex... Realmente. Isso é Rock Gaúcho. "

O texto completo dá para ler aqui.

****

O Cristiano fez mais dois bons posts sobre o assunto:

_ Este aqui, que traz alguns casos para dizer como o livro foi feito;

_ E este aqui, uma entrevista com o polêmico historiador Tau Golin, que vai mais longe na questão da identidade gaúcha;


***



Hoje tem show do Júpiter Maçã aqui. Vou ver se consigo fazer uns vídeos para postar aqui, além de uma resenhazinha.

Enquanto isso, aqui tá o link para baixar "
A Sétima Efervescência" (capa na foto acima) lançado pelo Júpiter em 1996, escolhida pela eleição organizada pela revista gaúcha de cultura Aplauso o melhor disco do rock gaúcho, e entre os 100 maiores discos da música brasileira na eleição da Rolling Stone Brasil.

..

2.29.2008

É Nosso! (ou Nei Lisboa e a Síndorme do Mampituba) - Parte Um

.



Não sei quem foi o primeiro a fazer a comparação, mas ainda hoje penso no Nei Lisboa como o mais próximo do nosso Bob Dylan - nosso entenda-se por gaúcho, porque o restante do Brasil pouco sabe quem é Nei Lisboa.

Não que o país não tenha tido suas chances: é bem conhecida a história de que Nei, em 1990, recusou o convite para gravar a triste versão de Hey Jude, dos Beatles, feita pelo compositor Rossini Pinto. O resultado foi que Kiko Zambianchi cometeu esta versão (Hey Jude, pra que chorar...), que estourou nas paradas brasileiras graças a sua presença na novela global Top Model. Ao contrário do que poderia parecer, a música acabou com a carreira de Kiko; sua gravadora na época, a EMI, exigiu que o cantor gravasse um disco com sucessos tão comerciais quanto a versão de Hey Jude, fato que fez Kiko romper o contrato e cair no ostracismo, de onde só saiu para fazer sua participação no estrondoso sucesso que foi o disco acústico do Capital Inicial - e voltar logo depois.

Talvez a comparação com Dylan nem proceda tanto, como talvez qualquer comparação em arte não deva ser levado muito a sério. Dylan é muito maior, em todos os sentidos, e o Nei Lisboa nunca negou que seu mundo não vai muito além do tradicional Bonfim, bairro boêmio e de origem judaica da capital gaúcha.

Essa "pequenez" assumida para todos os cantos pode ser até uma espécie de virtude de Nei, que parece sofrer - como, de resto, boa parte do que se produz em música no RS - de uma certa falta de compreensão para além do Mampituba, só para ficar numa referência geográfica bem gaúcha.

Muito do que aqui é visto como uma boa ironia, daquelas de provocar várias gargalhadas internas, soa como pretensamente "engraçadinho" para boa parte do resto do país - quando a ironia é entendida, o que não acontece na maioria das vezes.

O resultado disso é que se criou um mercado musical paralelo no RS, reforçado pela presença de rádios que incentivavam a produção local e por espaços de shows que se abriam para artistas autorais; isso tudo, por sua vez, acabou por formar um público que se acostumou a ouvir o que se convencionou chamar de "rock gaúcho"- um rótulo que define muito mais um estilo de composição muito particular, que muitas vezes independe de ritmos musicais como punk rock, hard rock, new wave, para se manifestar.

Esse mercado regional forte bastou para uns - os menos pretensiosos, como o próprio Nei Lisboa, ou os mais conformados, como o Nenhum de Nós, mega-banda até hoje no RS, mas quase uma one hit band para o resto do país - mas não foi suficiente para outros, que com uma boa dose de persistência (leia-se, também, empresários do centro do país ajudando e sorte de estar no lugar certo na hora certa) foram além desse mercado - Cachorro Grande, Papas da Língua, para ficar em exemplos recentes.

****

Agora, o que explica essa ironia incompreendida de boa parte da música gaúcha? Ou, em outras palavras: por que o resto do país acha que boa parte de nossas músicas são como piadas internas incompreensíveis para os não-iniciados?

Não sei, e suponho que não há quem saiba ao certo. Até porque não é uma nem duas causas, mas uma série de questões que, talvez, dizem respeito à identidade do gaúcho e a sua maior proximidade cultural, comportamental, geográfica, etc, com os hermanos platinos do que com os irmãos baianos, paulistas, mineiros, cearenses...

(Por algum motivo acho que os cariocas tem um certo humor que lembra muito o nosso, principalmente na questão da tiração irônica de sarro de si mesmo. Mas aí já é outra - e polêmica - discussão.)

Creio que todo o gaúcho já se perguntou sobre essas questões, e duvido que conclusões definitivas foram tiradas. Algumas vezes, essa questão serve até mesmo como desculpa para um certo "coitadismo bairrista" - algo que também é peculiar a nós gaúchos, com toda o lado histórico de batalhas que, querendo ou não, está embricado na raiz de toda pessoa nascida por essas terras. (Continua...)

Crédito foto: neilisboa.com.br
..

2.24.2008

Pérolas Videoclípticas (8): Nei Lisboa

.

Nei Lisboa na tour do ótimo disco "Hi Fi", de 1998.
O vídeo abaixo é Nei e Paulinho Supekóvia, seu parceiro na produção do disco, tocando no Teatro da Reitoria, em Curitiba. A música que abre o show e o vídeo é a primeira do disco, "Everybody's Talking", composta por Fred Neill mas popularizada na versão de Harry Nilsson no clássico filme Midnight Cowboy (Perdidos na Noite, na tradução brasileira), ganhador do Oscar de melhor filme em 1969.



Em tempo: quem não conhece Nei pode acessar essa matéria que apresenta muito bem o cantor e compositor gaúcho.
Ou então pode esperar um poquito por um próximo post que preparo sobre o rock gaúcho e a tal "Síndrome do Mampituba".

..

6.04.2007

Novo Disco

.



A imagem acima é a da capa novo disco da banda gaúcha Cachorro Grande, "Todos os Tempos", recém-lançado pela gravadora Deckdisc.
Ele já está disponível oficialmente para baixar (mediante pagamento de R$ 1,69 por faixa) aqui.

Mas como esse blog apoia a "pirataria" do bem, aqui há um link para baixar o álbum, "de grátis".

A capa é linda, uma das melhores que eu vi nos últimos tempos.
O disco, ainda não escutei todo.
Mas o primeiro single, "Voce me faz continuar", tem clipe na MTV e no You Tube. Dá uma olhada aqui abaixo.


A banda criou um site para divulgar o álbum: www.todosostempos.com.br
Tem as letras , um faixa-a-faixa comentada, e mais outros detalhes.
Aqui tem também uma matéria mais completa sobre o disco, do portal globo online.

Ao que tudo indica, candidato forte para melhores do ano.
..

5.24.2007

Review (7): A volta dos Cascavelletes

.


Como anunciado no post de 5 de maio deste mês, o Cascavelletes voltou. Não pra valer, mas os quatro integrantes originais da banda (Flávio "Júpiter Maçã" Basso no vocal, Frank Jorge no baixo, Nei Van Sória na guitarra e Alexandre Barea na bateria) decidiram fazer um show único no auditório da Fiergs, em Porto Alegre, no sábado 12 de maio.

Uma grande amiga deste blogueiro, a Juliana Seben, estava lá na Fiergs e deixa a sua impressão logo abaixo do que foi o show de uma das grandes bandas gaúchas de todos os tempos 16 anos depois do seu fim oficial.


O Velho Rock’a’ula


Nei e Flávio dividindo o microfone.

Um show. Como assim mesmo se anunciava. O encontro dos Cascavelletes depois de 16 anos de separação pode ser considerado (ao menos sob o ponto de vista dos fãs) um marco na história do rock gaúcho.

A banda que fez sucesso nos anos oitenta e noventa se reuniu novamente (sim! Os quatro!) em um final de semana do mês de maio para fazer uma única apresentação, aglomerando gente de todas as idades, em Porto Alegre.

A geração que acompanhou a trajetória dos caras e (ainda bem) influenciou outras, que continuaram sedentas pelo rock nu e cru da Cascavelletes, pôde ver os quatro integrantes de uma das mais conhecidas bandas do sul no cenário brasileiro, no palco, juntos outra vez.

Fica difícil falar de um espetáculo que na sua forma já assim representava. Difícil mais ainda organizar as emoções em poucas linhas para poder compartilhar com o leitor; ao menos existe o Youtube para pode assistir aos registros de um encontro inacreditável.

Aos que percorreram durante todos estes anos os shows das carreiras isoladas de Flávio Basso (o Júpiter Maçã) Nei Van Sória, Frank Jorge e Barea, ficou reservado um retorno às décadas férteis do rock nacional, materializado inclusive pelos habitantes da platéia (como Jacques Maciel, vocalista da Rosa Tatooada e que, junto com seu baterista, o “Bareazinho”, formam a trupe de ex-roadies da Cascavelletes, que fez questão de assistir da parte de baixo, quase ao meu lado).

Isso sem contar os outros roqueiros gaúchos que dos bastidores conferiram toda a apresentação e que, assim como eu, são autores de relatos emocionados sobre o show (interessante ver os comentários de Rafael Mallenoti, da Acústicos e Valvulados).

Incrível pensar que por um momento fãs e ídolos são parte da mesma massa. E foi ela que conferiu de perto as performances, hoje não tão obedientes, mas totalmente irreverentes de Flávio, que mostrou ainda ser um legítimoshow-man, os backing vocal de frases escrachadas de Frank as canções com a voz marcante de Nei.

Para quem esperava uma apresentação longa, deu com os burros n’água: o show durou um piscar de olhos, envolvido por canções (15 delas) como “Carro Roubado”, “Nega Bombom”, “Ugagogobabagô”, “Lobo da Estepe”, “Dotadão”, “Seja Minha amiga”, “Mini-saia sem calcinha”, as mais conhecidas “Jéssica Rose”, “Morte por Tesão” e “Menstruada” e a balada mais famosa das rodas de violão “Sob um Céu de Blues”.

Nesta altura os quatro já pareciam se render à receptividade da galera que lotou o centro de eventos da Fiergs, não necessariamente para vê-los, é certo - o show fez parte da festa de 10 anos da Rádio Pop Rock, com mais de 10 apresentações de bandas gaúchas e nacionais. Mas que conferiu ao vivo, a cores, carne (muito mais que antes) e ossos, expressões bem mais simpáticas dos quatro uns com os outros, chegando a dividir o mesmo microfone.

As ondas sonoras que emitiram o quarteto mágico não poderiam ter sido mais fabulosas. Um dos momentos mais emocionantes foi, sem dúvida, quando da canção "Lobo da Estepe", o sublime ouvido através dos acordes do violão de Nei. "Ca-ro-li-naaaaaa" foi seguida por calorosos aplausos e, por segundos, a lágrima não caiu.

Ao final, e depois do “bis” entoado pela multidão, o grande abraço: o que certamente não consegui registrar, graças aos sentimentos que me fizeram paralisar e relembrar de toda a história que me levou até ali, afinal, foram eles que me revelaram um outro estilo de vida (embora esta afirmação soe tão radical e eles tenham formado a banda no mesmo ano que eu nasci).

Fica uma pontinha de esperança de revê-los novamente e por um longo tempo em cima do palco (seus lugares por excelência). O consolo? Espero que, assim como aconteceu comigo, o encontro sirva para mudar percepções e influenciar musicalmente a garotada que circulou por lá: passemos a escutar o rock simples e completo outra vez.

Ah! A banda que abriu para a Cascavelletes se chama Identidade e já passou duas vezes por aqui. A parte mais legal é que os guris eram fãs dos Casca. Além de tudo, uma mensagem bacana. Feito!

Juliana Seben

****************

Como bem disse a Jú no texto, alguns vídeos do show foram parar no You Tube. O de logo abaixo é eles tocando o clááássico "Jessica Rose". A qualidade das imagens não é das melhores (sabe como é, gravação feita por câmera amadora, no remelexo de quem está no meio da platéia), mas dá para ter uma boa idéia do que foi o show.





Aqui dá para ver a abertura do show.


..

5.06.2007

Pérolas Videoclípticas (1): Cascavalletes

.
Em tempos de You Tube, eu já deveria ter feito essa seção faz um tempo. Mas é tanta coisa que eu penso em criar para o blog que, por vezes, antes de criar eu já me esqueci o que queria fazer. Mas, enfim.


Vou inaugurar o "Pérolas Videoclípticas" com um clássico de uma das melhores bandas que já surgiram aqui no Estado : Os Cascavelletes.




Acredite se quiser: o vídeo mostra a banda gaúcha tocando "Eu quis comer você" no programa da Angélica, com uma platéia recheada de crianças dançando alegremente ao som da letra pra lá de bagaceira, como praticamente todas da banda:

"Dirijo táxi a noite toda, só vejo confusão
Garotas que querem garotas, rapazes na contramão
E quando eu volto pra casa a minha garota está dormindo

Eu tomo uma latinha de cerveja,

Que fome eu estava sentindo!


Uhn.. eu quis comer você!"

O playback que a banda faz no palco da Angélica é dos mais legais: o endiabrado Flávio Basso (hoje, conhecido como Júpiter Maçã) faz caras e bocas na melhor tradição Mick Jagger de cantar, enquanto o guitarrista Nei Van Soria e o restante da banda (que já não incluía o saudoso Frank Jorge, baixista original do grupo) dublam muito bem o instrumental da música.

Quando terminam de tocar, surge outra pérola: Angélica (em papel guriazinha ingênua) e Flávio travam o seguinte diálogo:

A: São todos do Sul, né?
F: Aham.
A: Todos gaúchos... e agora música nova, né?

F: É, "eu quis comer você", o nome da música...

A: Olha só, que barato...


Angélica ainda diz "Olha, que bonito o sotaque deles, acho um barato, sabia?"

Bueno, olhe aqui a pérola.



***
Ah, vale noticiar: a formação original dos Cascavelletes anunciou que se reunirá para uma apresentação única na festa de 10 anos da rádio Pop Rock. O grupo, que além de Flávio Basso e Nei Van Soria, tinha em sua formação original Frank Jorge no baixo e Alexandre Barea na bateria, vai ser reunir no dia 12 de Maio, na Fiergs, em Porto Alegre. Os ingressos saem por R$ 30 e R$ 80 (Vip), e estão sendo vendidos desde o dia 18 de abril pela rede de lojas Gang.
Pra quem não conhece o Cascavelletes, o My Space deles dá uma boa noção de quem e como é a banda que talvez mais tenha incorporado o espírito rock'roll no Rio Grande do Sul.

..





3.14.2007

Graforréia Xilarmônica em SM

.





Sete anos depois do encerramento, uma das bandas mais influentes do rock gaúcho volta às atividades e faz show em Santa Maria neste sábado.


No rock gaúcho recente, do final da década de 1980 até hoje, não existe banda que mais influenciou outras do que a Graforréia Xilarmônica. A mistura de sonoridades (rock’roll, jovem guarda, surf music, música nativista, tropicalismo, dentre outras), as mudanças de andamento bruscas, que lembram uma música erudita desconstruída, as letras de um bom humor tosco e pra lá de irônico, a linguagem urbana típica do gaúcho de Porto Alegre: são todos elementos que, através da Graforréia Xilarmônica, tornaram-se símbolo do que o país inteiro chama de “rock gaúcho”. De tanta gente que influenciou, a Graforréia se tornou um daqueles casos de banda mais reconhecida por outras bandas e músicos do que pelo próprio público. Ou, como também se diz, “uma banda à frente do seu tempo”.

Formada em 1987 por Frank Jorge (baixo e vocal), Marcelo Birck (guitarra e vocal), Carlo Pianta (guitarra) e Alexandre Ograndi (bateria), a Graforréia lançou o seu primeiro disco somente em 1995, o “Coisa de Louco II”, considerado por muita gente da crítica musical como um dos vinte melhores do rock nacional de todos os tempos. É dele um dos grandes clássicos da música produzida aqui no estado, “Amigo punk”, dos inesquecíveis versos:

"Amigo punk, escute este meu desabafo
a esta altura da manhã já não importa o nosso bafo
pega a chinoca, monta no cavalo e desbrava essa coxilha
atravessa a Osvaldo Aranha, entra no parque Farroupilha”

Três anos depois, veio o segundo disco, “Chapinhas de Ouro”, não tão bom quanto o primeiro, mas ainda assim uma excelente coleção de canções das mais diversas sonoridades, com destaque para a faixa “Eu”, regravada pela banda mineira Pato Fu.

Já sem Marcelo Birck, um dos dois compositores principais (o outro é Frank Jorge), a banda decide encerrar “oficialmente” as atividades em 2000. “Oficialmente” entre aspas mesmo porque, de vez em quando, os três integrantes remanescentes ainda tocavam juntos, em shows esparsos em Porto Alegre. Mas cinco anos depois, eles decidem voltar “oficialmente” e gravam o seu terceiro Cd, “Ao vivo”, lançado pela gravadora Senhor F discos no final do ano passado e produzido por Kassin (Los Hermanos, Caetano Veloso) e Berna Ceppas.




É na tour deste Cd que Santa Maria recebe a Graforréia neste sábado, no Macondo Bar (veja o cartaz aqui), a partir das 22h, em festa que comemora os dois anos do bar.
Os ingressos custam R$ 10,00 e estão à venda na loja anexa ao Macondo, a Sick Machine. Na hora, sai R$ 12,00. Boa chance para ver uma das bandas mais criativas já nascidas no RS, e, de quebra, entender que diabos é esse tal rótulo de “rock gaúcho”.

Blog da banda:
http://ranchodealvorada.blogspot.com
Site: http://www.graforreiaxilarmonica.com.br


..