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6.02.2008

Complexo de Júpiter

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Antes de mais nada, quero dizer que semana passada foi de um certo relapso aqui no blog. Passei boa parte da semana em trânsito, como se diz, e fica difícil postar - ainda mais postar bem - em trânsito. Esta semana não será de trânsito, mas de mudanças, o que não deve atrapalhar mais o blog - assim espero.

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Em minha rotineira ronda pela blogosfera, me deparei com o site da MTV Brasil, algo que havia tempo com que não fazia. A MTV, como muita gente sabe, recentemente abriu mão de quase tudo que tinha de bom em sua programação. Mais recente ainda, ela decidiu voltar atrás em alguns pontos, e tornou-se novamente um canal visível - por hora, é possível ficar 30 minutos olhando para sua programação sem se cansar, se a sorte ajudar.

Pois o MTV Overdrive ainda mantém uma certa média de qualidade que o canal tinha em início e meados da década de 1990. Como é um canal na internet, sem os compromissos com audiência que a MTV "normal" sempre disfarçou que teve, há espaços generosos para a experimentação; pois desta maneira, e talvez só desta maneira, é que pode existir algo como esse "Jupiter Maçã Show".

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O Júpiter Maçã, como muita gente sabe, é o alter-ego de Flávio Basso, vocalista dos Cascavellettes - uma das principais bandas do rock do RS - até início da década passada, quando a banda acabou e ele seguiu em carreira solo. Anos depois, em 1996, ele lançou aquele que a revista Aplauso, através de uma votação que contou com os principais jornalistas, músicos s produtores do RS, elegeu como o melhor álbum do rock gaúcho já feito: A Sétima Efervescência.

Em lista com os 100 maiores discos de música produzidos no Brasil, a Rolling Stone Brasil incluiu o mesmo disco, confirmando que a fama e a qualidade de Júpiter extrapolaram o Rio Mampituba. Depois do disco de estréia, Júpiter enveredou por outros caminhos, produzindo dois discos bons, mas herméticos em sua psicodelia por vezes inintelegível - Plastic Soda, de 1999, e Hisscivilization, de 2002. Até que, em 2006, lançou Uma Tarde na Fruteira, considerada uma volta ao som do início da carreira solo.

Neste meio tempo, e hoje ainda mais, pode-se dizer que Júpíter ficou, digamos, sequelado. Mesmo para um junkie de décadas de experiência no assunto como ele, tem horas que a chapação se aloja na mente, toma para passear a identidade da pessoa e transforma essa em algo que ninguém mais sabe se é uma caricatura do que já foi, um versão cancerosa do que está sendo ou se tudo não passa de uma grande brincadeira que se repete sem parar - e aí, por vezes, perde-se totalmente a graça da coisa.

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Maurício Chaise, Júpiter e Lucas Hanke nos Estúdios de gravação da MTV


Nesse talk show bolado pela MTV, essas facetas se misturam a todo momento. Por vezes, é brilhante, como na troca de idéias viajantes com outro adepto de carteirinha desta estranha modalidade de discurso, Rogério Skylab; por outras, beira o surreal e o constrangedor, como a própria Clarah Averbuck, entrevistada de Júpiter, chega a comentar em outro programa.

Os dois músicos da banda de Júpiter que participam do programa seguram as pontas na hora de tocar, repertório sempre da melhor qualidade, como são as influências do som que o gaúcho faz. Ainda assim, sentimentos diferentes se degladiam para deixar uma impressão final na cabeça de quem observa Júpiter: será pena que temos do seu estado, aparentemente chapado ad infinitnum; será admiração, já que mesmo - aparentemente - sempre chapado, ele ainda consegue fazer músicas inegavelmente boas, como são algumas quantas de seu último disco; ou a impressão que fica é de que tudo não passa de uma grande brincadeira, e de que a todo momento Júpiter está tirando com a nossa cara por acharmos que ele está muito pior do que realmente está?

Não me atrevo a finalizar uma posição; melhor mesmo é elas se degladiarem por mais tempo em busca de uma resposta.


Créditos fotos: Uma tarde na fruteira

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3.20.2008

É nosso! (ou Nei Lisboa e a Síndrome do Mampituba) - Parte dois

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Voltando a pergunta feita neste post, produzido quase duas semanas atrás: qual a explicação pra a tal "síndrome do Mampituba"?

Cristiano Bastos, um dos autores de Gauleses Irredutíveis: Causos e Atitudes do Rock Gaúcho, uma das obras fundamentais para se iniciar nessa discussão (que está para ser relançada este ano, com acréscimos à edição original), é um dos que faz essa pergunta e, com o conhecimento que tem sobre o assunto, responde - ou passa a bola para outros que também entendem responder:

Ricardo Alexandre (ex-editor-chefe da BIZZ):
"Não acho que o rock gaúcho encontre resistência realmente. Veja Engenheiros, Nenhum de Nós, Cachorro Grande, Júpiter Maçã, Wander... Acho que os artistas gaúchos não se empenham o suficiente para avançar sobre o mercado nacional.
E nem deveriam: o mercado gaúcho já é grande o suficiente e muito mais profissional e interessante. Falei isso pro Julio Porto, da Ultramen, num show deles no Bar Opinião: "Tá vendo essa gatinha que veio te pedir autógrafo? Se a gente estivesse em São Paulo, ela estaria num show do Daniel". E é verdade: por que a Ultramen deixaria de tocar num Opinião lotado para tocar para num Morrison Rock Bar vazio? Porque deixaria de prestigiar a Rádio Atlântida para ter de pagar jabá para NÃO tocar na Mix FM? Sem chance."

Gustavo Mini Bittencourt (Walverdes):
"Concordo plenamente com o Ricardo Alexandre, sem tirar nem pôr. É o que eu sempre pensei. Acredito que o "mainstream local" (uma rede de rádios de comunicação forte como a RBS e um circuito de shows consistente no interior) acaba segurando as bandas por aqui pois elas conseguem se estabelecer profissionalmente sem precisar ir pra São Paulo. Acredito que grande parte do sucesso do mangue beat se deu porque os caras precisavam vir pra cá pra cena não minguar em Recife."

O texto completo desses dois depoimentos está aqui.


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" Eu e minha eeeeeeeeeeexx..."


Para finalizar a questão, coloco aqui um trecho de um texto que também está no blog do Cristiano, escrito por Leonardo Bonfim:

"Quando ouvi pela primeira vez "Quarenta Anos", da Graforréia Xilarmônica, pensei: é o epitáfio perfeito para o Rock Gaúcho. Coisa linda finalizar uma cena tão rica, criativa e anárquica sob versos como “impressionante ver que ainda toco esta guitarra, minha laringe com ternura ainda escarra, em prosa e verso, melodias e ruidos”.

É simbólica. Toda uma geração jovem (em todos os sentidos da palavra) que, ainda nos anos 80, cantou sobre mortes por tesão, bailarinas assassinadas, surfistas calhordas e amigos punks, está realmente com quarenta anos na cara e já perdeu espaço dentro do próprio Estado." (...)

"Assim como não preciso esperar 30 anos e bajulações do David-Byrne-da-vez para afirmar de boca cheia que Júlio Reny, Flávio Basso, Frank Jorge, Marcelo Birck, Edu K, Plato Divorak, entre outros, são gênios; não preciso de mais nenhum minuto para sacar que nenhuma das novas bandas vai fazer diferença.

O que dizer de uma cena que conseguiu movimentar os subterrâneos de um país inteiro sem ter praticamente nenhum apoio comercial? Pode ser um show antológico do Júpiter Maçã lá no Planetário do Rio de Janeiro, em 1997, assunto de bar até hoje entre figuras como Kassin, Gabriel Thomaz, integrantes dos Los Hermanos...

Ou um show catártico da Graforréia lá no festival Upload de Sampa, em 2001, que deixou muito marmanjo chorando... São obras-primas como o antológico disco solo de Marcelo Birck, Atonais Em Amplitude Modulada, Os Iluminados Monstros do Amor Frank & Plato, Júlio Reny & Seu Último Verão, TNT & Cascavelletes chupando os Stones quando o Brasil inteiro chupava o Police e U2, Replicantes, De Falla, os trabalhos magníficos dos irmãos Dreher na produção e por aí vai.

Passe no Museu do Rock Gaúcho, situado em Chapecó, para ouvir o fino da bossa. E nasceram filhotes em todo o país. São candangos-gaúchos, niteroienses-gaúchos, recifenses-gaúchos, paulistas-gaúchos, curitibanos-gaúchos, chapecoenses-gaúchos, gaúchos-gaúchos...
Certa vez, conversando com o gaúcho-candango André Vasquez, citei o rock inglês como a grande fonte de inspiração para algumas bandas do Rock Gaúcho. Ele rebateu na hora: "que nada, ouve 'Eu e Minha Ex', isso não é rock inglês, é Rock Gaúcho!".

É verdade. Aquele jeito Flávio Basso de cantar, arranjos de Marcelo Birck, pelas alamedas de Poooorto Alegre, naipe de sopros altamente dissonante, do Mercadão até o Bom Fim, coro desengonçado, o refrão explodindo eu e minha eeeeeeeeeeeex... Realmente. Isso é Rock Gaúcho. "

O texto completo dá para ler aqui.

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O Cristiano fez mais dois bons posts sobre o assunto:

_ Este aqui, que traz alguns casos para dizer como o livro foi feito;

_ E este aqui, uma entrevista com o polêmico historiador Tau Golin, que vai mais longe na questão da identidade gaúcha;


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Hoje tem show do Júpiter Maçã aqui. Vou ver se consigo fazer uns vídeos para postar aqui, além de uma resenhazinha.

Enquanto isso, aqui tá o link para baixar "
A Sétima Efervescência" (capa na foto acima) lançado pelo Júpiter em 1996, escolhida pela eleição organizada pela revista gaúcha de cultura Aplauso o melhor disco do rock gaúcho, e entre os 100 maiores discos da música brasileira na eleição da Rolling Stone Brasil.

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