12.01.2008

Good Times, Bad Times (3)


Depois de alguns meses, retomo aqui a seção de resenhas clássicas de disco igualmente clássicos (ou não). Nessa terceira parte, vai o baita texto de Emerson Gasperin - editor da Bizz na virada dos 90 para os 00, morador de Floripa e atualmente editor do blog Fancaria, dentre outras coisas - sobre Issues, cosiderado um dos melhores discos do Korn. A resenha foi publicada na Bizz de fevereiro de 2000, época tomada pelo new metal de bandas como Limp Bizkit, Deftones e o próprio Korn. Felizmente, uma época que se foi.

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Bicho estranho, este tal de novo metal. Para fugir dos estereótipos do gênero, os caras foram limando tudo que remetesse aos áureos tempos do passado. Os cabelos perderam comprimento (os que continuaram longos ganharam opções além do corte pigmaleão dos anos 80), as letras deixaram de abordar lendas medievais e diabinhos para falar de dramas psicológicos ou das mazelas da atualidade, o figurino de lycra colante foi trocado pelas últimas tendências da moda.

Em
Issues, seu quarto disco, o Korn vai além e cria o metal sem metal, o metal em que é impossível bater cabeça. Ou melhor, até dá para "quebrar" o pescoço, mas apenas durante os segundos em que os riffs pesados dominam cada música. A maioria das faixas segue o pouco criativo método Korn de composição: começo com paredes de baixo e guitarra que ruem subitamente para que a voz fraquinha de Jonathan Davis consiga aparecer, como em "Trash", "Beg For Me" ou no primeiro single, "Falling Away From Me". A exceção é "Counting", a melhor do disco, não por ser boa, mas por ser a única pesada do início ao fim - nada que o Faith No More não fizesse com mais categoria e bom humor. Mas é em "4 U" que fica evidente a falta de traquejo dos caras do Korn para com o metal. É uma balada medíocre, quando até os parafusos que apertam os captadores da guitarra de Nuno Bettencourt (aquele gajinho do Extreme) sabem que banda de metal que se preze não passa sem uma balada matadora.

Assim, ao final de
Issues, dá saudade da época em que os metaleiros faziam questão de serem alienados e de se vestirem com os trajes mais estapafúrdios. Hoje, todo mundo é consciente e fashion - e a pose só aumentou. Esse troço disforme em que se transformou a música agressiva também dá saudade de Eddie, o monstro do Iron Maiden. Pelo menos nele era fácil identificar onde ficava a bunda para dar um belo chute.
Emerson Gasperin

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