10.10.2008

Nostalgia

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J
á disseram em comentários que nostalgia era o que esperavam deste blog. Nunca parei para pensar se a nostalgia (a minha, no caso) era o principal "valor-notícia" para escolher o que postava por aqui, mas de uns tempos pra cá tenho levado ela mais em consideração. Talvez seja a idade chegando, e com ela a constatação de que a falta de sons que me agradem hoje só pode ser compensada pela escuta de sons de épocas anteriores, especialmente de bandas que já ouvi bastante e que me trazem lembranças.

Na verdade, o aparente desagrado com a "música de hoje" só pode ser explicado pela comparação inevitável que o sentimento nostálgico cria entre o que é feito hoje e o que já escutei, com evidentes vantagens para aquilo que já escutei. É como ouvi certa vez: somos escravos de nossa adolescência, no que diz respeito à gostos musicais. Por mais que hoje goste de inúmeras outras coisas que nem sabia que existiam na época da descoberta, ainda é demais prazeroso ouvir um disco dessa época; as lembranças das situações, dos locais onde estava quando colocava o CD no micro sistem, ou quando sentado no sofá da sala via o clipe através da chuvisqueira que era a MTV na tv da minha casa, todas essas situações com altas cargas emocionais vem somadas e mutiplicadas na escuta de discos daquela época. O resultado é que, se a música já era considerada boa naquela época, para ela sempre a será . Nem que o ouvido de hoje considera ela pobre, mal tocada e simplória, não é esse lado racional de julgar a música que está em jogo, mas a questao emocional - que, afinal de contas, é o que deveria valer quando se trata de arte, não?

Acho que agora posso dizer que entendo os revivals.

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Esse sentimento nostálgico, que ao mesmo tempo complica a minha crítica e apreciação da música que é produzida hoje por sempre comparar com àquela produzida antes, também facilita na questão do contextualizar. Quando pego para escutar um disco de bandas como Radiohead ou Raconteurs, por exemplo, o que me faz gostar delas, e até mesmo entender o porquê de seu relativo sucesso em público e crítica, é justamente o que chamarei aqui de "captar o espiríto dos nossos tempos": revisitar sons antigos com uma roupagem que absorve as características caóticas da música que se faz hoje. Algo que, na bendita academia falada no post anterior, seria quase como "fazer o dever de casa", e, a partir daí, colaborar com algo novo que só o talento de cada um pode dizer do que se trata.

Aliás, é justamente a misturança de tudo com tudo, e a quebra de preconceitos quanto à isso, que provavelmente seja a principal característica da música hoje. Recriar, reciclar, remixar com criatividade o mundo de coisa que já se produziu até aqui na música, somando à isso o talento de cada um de absorver o "espírito do nosso tempo": talvez seja essa a única máxima possível de se afirmar como regra para se fazer música relevante hoje.


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Eu comecei esse post com a fixa idéia de falar do Television (foto acima), banda que fez parte de minha adolescência a partir da leitura do Please Kill Me (Mate-me Por Favor) ainda na edição da capa laranja da editora L&PM.

Marquee Moon
é ainda uma das melhores músicas (e discos) que escutei na vida: tá ali o duelo de guitarras típico do som do Television, a melodia linda e viajante que não fazem cansar os mais de 9 minutos da música, a letra com fortes influências do estilo da poesia beat, tudo numa mistura de estilos musicais que não dá pra definir com rótulos muito claros -embora costumem considerar o Television como uma banda punk, mais pelo contexto de criação da banda (início da década de 1970, sendo que o primeiro disco, o Marquee Moon, só saiu no mítico ano de 1977) do que pelo som , que em pouquíssima coisa lembra bandas baluartes do punk como Sex Pistols, Ramones e The Clash.

Enfim, aí vai um vídeo da música Marquee Moon, em um versão ligeiramente diferente da original, lançada no disco de mesmo nome...



E See no Evil, música que abre o primeiro disco, aqui em versão ao vivo em 2002, num show com a formação clássica : Tom Verlaine (guitarra e voz), Richard Lloyd (guitarra), Fred Smith (baixo) e Billy Ficca (bateria).

(se caso não der para ver o vídeo aqui no blog, clique aqui).

Link para baixar o Marquee Moon (1977)
Link para baixar o Adventure (1978)

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P.S: Se alguém não entendeu o porquê do Television estar no livro Mate-me Por Favor, recomendo entrar aqui e comprar a versão pocket da mesma L&PM, em dois volumes. A antiga edição, em um volume só, está esgotada faz tempos.

P.S2: O nome do livro se chama Please Kill Me em homenagem à uma camiseta usada pelo primeiro baixista e vocalista do Television, Richard Hell, que saiu em 1975 para seguir em carreira solo à frente do Voidoids. Hell é, talvez, o símbolo original do punk, menos famoso porém mais original que o símbolo mais conhecido do movimento, Sid Vicious. É dele um dos maiores clássicos da época: Blank Generation, ou "geração vazia", nome do primero disco da banda, o desta capa aqui.

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Um comentário:

Fabiana disse...

Seu post está irretocável. Até hoje escuto com muito carinho as minhas banda da adolescência e o Television foi uma ótima lembrança.