10.20.2008

Espelho Cristalino

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Quando falavam de Alceu Valença, me vinha a imagem caricata do tiozinho cabeludo, de chapéu de cangaceiro, cantando um forró que nunca me interessava porque não me dizia nada. Um preconceito que eu não fazia questão de perder.

Mas eis que me cai em mãos - literalmente -o cd "Espelho Cristalino", com capa feita de xerox e gravado em CD-R. Não precisou nem de duas escutadas no disco inteiro para conseguir gostar; na 2º música fiquei arrepiado e na 5º de novo. E arrepio pra mim é atestado de qualidade indiscutível, que seleciona com incrível precisão o muito bom do apenas bom.

Gostei tanto que tive de escutar de novo. E de novo, dessa vez em MP3 e num som melhor que o dos auto-falantes pobres do notebook. E de novo, no MP3 player. E de novo, quando, com a pilha recarregada, fui escolher dentro do 1G disponível aquilo que queria escutar em viagem à Florianópolis. E depois de dois dias sem escutar o disco, resolvi escutar de novo; ainda desta vez, consegui me arrepiar quando do começo da faixa 5, "Espelho Cristalino" como o nome do disco.

E para escrever esse texto, escutei de novo e me arrepiei de novo. Pelo menos agora já cantarolava alguns trechos da letra, principalmente o refrão: " Mas eu tenho meu espelho cristalino / que uma baiana me mandou de maceió / ele tem uma luz que alumia / ao meio-dia clareia a luz do sol".

Como nos melhores discos de nossa discografia particular, não tem muita explicação o fato de eu ter gostado tanto do disco. O certo é que o preconceito, neste caso, ajudou.

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Feito o relato, as informações: "Espelho Cristalino" é o 3º disco solo de estúdio produzido por Alceu Valença. Foi lançado em 1977, cinco anos depois da estréia em disco do pernambucano, ao lado do conterrâneo Geraldo Azevedo no intitulado Alceu Valença & Geraldo Azevedo. É considerado por muita gente como um dos melhores discos da safra de compositores nordestinos que inclui ainda Zé Ramalho, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Belchior, Lula Côrtes e Fagner.


Zé Ramalho, Alceu Valença e Lula Côrtes defendendo "Vou Danado pra Catende" no festival Abertura, de 1975.


A mistura de sons regionais, como o baião, coco, embolada, forró, com sons mais "universais", como o rock e o folk, é a tônica de Espelho Cristalino, tanto nas letras com referências ao folclore local (o refrão da faixa-título, por exemplo, pertence a uma cantiga do folclore alagoano) quanto no uso de instrumentos populares na região, como a sanfona, a flauta e a viola nordestina.

Com apenas oito músicas, hoje o disco é considerado clássico; na época, não teve muita repercussão, como o próprio Alceu Valença comentou no festival Virada Cultural deste ano, quando foi chamado para tocar, na íntegra, o próprio Espelho Cristalino.

Abaixo, as faixas e um link para download do disco.


1. Agalopado (Alceu Valença)
2. Maria dos Santos (Don Tronxo - Alceu Valença)
3. Anjo de Fogo (Alceu Valença)

4. Veneno (Rodolfo Aureliano e Alceu Valença)
5. Espelho Cristalino (Alceu Valença - refrão folclore alagoano)
6. Eu sou Você (Alceu Valença)
7. A Dança das Borboletas (Alceu Valença e Zé Ramalho)

8. Sete Léguas (Alceu Valença)

Link para baixar (cortesia daqui, onde tem toda a discografia de Alceu para baixar).


Foto retirada daqui.
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2 comentários:

leleo disse...

Até hoje o Alceu não tem o devido reconhecimento que lhe é de direito. Meu disco preferido dele são o Molhado de Suor e Anjo Avesso. Mas o Espelho Cristalino é fodão também, parece mais "sofisticado" em termos de arranjos e etc.
Parabens.
Abraço.

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto. Penas o link não existir mais!