Muito já se disse sobre o novo disco do Radiohead, lançado no final do ano passado.
A repercussão rendeu chamadas elogiosas na Rolling Stone, do tipo "La banda que cambió las reglas del negocio", na capa da Rolling Stone Latin-América nº 119, de fevereiro deste ano; ou "O Futuro da Música pertence à Thom Yorke e ao Radiohead", na edição de fevereiro da Rolling Stone Brasileira; e matérias em importantes publicações, como esta no NY Times, esta na Wired, esta no Financial Times, da Inglaterra, ou aqui mesmo pelo Brasil, nesta matéria do G1, o portal da Globo.
Mas se a música do Radiohead não fosse suficientemente boa, de nada adiantaria uma estratégia tão inovadora.
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A música de In Rainbows não é "fácil". É um disco para se decifrar em várias audições, minimalista em esconder detalhes a cada segundo de música, competente em pôr uma camada de simplicidade pop por cima de toda a experimentação e conhecimento musicais ali dispendidos. É rock básico, mas também é experimental; melancólico, mas também sexy; pesado, mas também suave; erudito, mas também pop.
In Rainbows é, provavelmente, o melhor disco do Radiohead. É o som experimental da banda, explorada nos últimos discos - principalmente em Kid A, de 2000 - alimentado pelo lado pop bem feito dos primeiros discos. Como se, depois de experimentar radicalmente e fazer discos mais conceituais do que musicais, o Radiohead tivesse aprendido a dominar inteiramente o seu som, e, a partir daí, quisesse levá-lo para onde bem entendesse. In rainbows, então, seria a volta ao pop levado sob a tutela da experimentação.
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"15 Step", a faixa de abertura de In Rainbows.
A música do Radiohead começou convencional, nada mais que um rock alternativo bem feito e bem tocado, como é o que se vê nos primeiros discos, Pablo Honey, de 1993, The Bends, de 1995. As melodias - e principalmente as letras - melancólicas do vocalista e guitarrista Thom Yorke chamaram atenção de muita gente, que passaram a ver Yorke como o "atormentado" da vez, carentes que estavam de um ídolo sofredor, já que Kurt Cobain acabara de morrer, em 1994. Os dois principais hits da banda à esta altura, "Creep", do primeiro disco, e "Fake Plastic Trees", do segundo, só confirmavam esta aura sofredora que cercava a banda e principalmente seu líder.
Se em The Bends o Radiohead começa a mostrar que, se era apenas uma banda de rock alternativo, era, pelo menos, a melhor do gênero na Inglaterra, Ok Computer, de 1997, vem para enfim ratificá-los como não somente uma das melhores da Inglaterra, mas também de todo o planeta. As boas melodias agora ganhavam toques experimentais, com uso de eletrônica e guitarras pesadas alternadas à violões límpidos e vocais épicos, somado a letras recheadas de (boas) metáforas sobre a relação homem X máquina, praticamente a temática do album inteiro.
Ok Computer é, para muita gente, o melhor disco da era pós-grunge. Para outros tantos, está nas cabeças dos 10 melhores dos anos 90. Com ele, enfim o Radiohead conheceu aclamação de crítica e público, ganhando respaldo para ousadias maiores, como se veria nos próximos discos.
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Kid A saiu em 200o, depois de uma extensa tour de divulgação de Ok Computer. As gravações foram tumultuadas; Thom Yorke sofreu de bloqueio criativo, e várias foram as discussões entre os integrantes da banda quanto ao rumo que o som deles estava tomando. O resultado de tudo isso foi Kid A, um disco radicalmente diferente de Ok Computer. O excesso de experimentalismo rendeu junto aos críticos a pecha de "suicídio comercial"; jazz, música erudita e elementos de eletrônica foram combinados num som que não era nada fácil de se compreender. Paradoxalmente, Kid A foi o disco mais vendido do Radiohead, sendo o primeiro da banda a ficar em primeiro lugar nas paradas americanas.
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É interessante de se observar que tudo que leva o nome Radiohead tem uma qualidade pouco vista no cenário atual. Os cuidados da banda com cada passo que dá é de se admirar; nada é feito em vão, nada é lançado sem muito se ter pensado antes. Todos as ações dos ingleses de Oxford- da estratégia inovadora de lançamento do ultimo disco ao ótimo webcast que eles fizeram para a virada de 2007-2008, quando tocou na íntegra o In Rainbows, de onde os vídeos desse post foram tirados - parecem confirmar que o Radiohead é a grande banda do nosso tempo.
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A Rolling Stone americana fez um excelente faixa-a-faixa de In Rainbows, inclusive colocando vídeos de cada música em apresentações ao vivo. Vale uma conferida.
Johnny Greenwood, o "líder" da banda ao lado de Thom Yorke, é multiinstrumentista e tem formação erudita - já foi, inclusive, compositor convidado da orquestra da BBC de Londres. É dele a excelente trilha sonora de "There will be Blood" (Sangue Negro, em português), filme de Paul Thomas Anderson que concorreu Oscar deste ano.
Johhny é irmão mais novo de Colin Greenwood, baixista do Radiohead. Completam ainda a formação da banda Phil Selway na bateria e Ed O'Brien na guitarra.
Aqui tem um link funcionando para baixar o disco.
E aqui é o site oficial da banda.
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