3.08.2008

Os melhores releases de todos os tempos (6)

.


Enquanto aguardava baixar alguns vídeos dos shows de Bob Dylan para fazer um post para o blog, achei outra pérola de release. A banda em questão é a Moinho, e o release é escrito pelo Nando Reis.

O texto é grandinho, mas engraçadíssimo pela prolixidade sem sentido.

"E como tudo que é som e é bom, quando antes no tempo foi feito primeiro e Adão, e a Erva do chão que brotou fez seu berço e leito - tudo começou no terreiro da África. Como tudo que há no mundo, que veio pra cá como pássaro que voou, e que nesse mundo aja se asa bata abra ou faça som, será eterno só se for sempre num só segundo, mesmo que pedra, pois pedra berra e seu eco férreo faz leve o chumbo, e eco é som que o ar repete pro ar que pede tão cego e surdo, ora absurdo agora é achar que o ar não tem cor nenhuma: se o ar dá a flor, quer mais flor que o arco-iris?

E o som é igual, só não acha cor quem os olhos põe pra ver lá fora o que é seu mas assopra e mora dentro, na cova da alma que lava no claro o que se cobre no breu -- o olhar o olfato ouvido paladar assim o tato, a paisagem rara que se faz no eu, e o céu dá o tom na pauta em gás em prisma, e o olho dom focal é a voz do surdo, que lê no lábio a cor pra ouvir o mundo a chave que abre e traz o som onde ar é água, palavra é nada, voz de girafa, engarrafado mar, cabe se não acaba, vive sem nome, some se é visto, nasce bem ave, morre peixinho, carne de vagem, lunar fotosíntese, sol frio polar, centopéia sem pés com cem raízes, mapa mundi na mão na palma, napalm feito de espermas de efeito contrário - só sabe fertilizar.

O amor é adubo que vai salvar o que resta de floresta e no o cimento fazer arvores choverem do céu do chão, aos milhares e aos milhões.

O que a gente faz quando mistura tudo, som céu ar cor, flor do absurdo? Viver é ter um sonho um sopro um só socorro ser Quixote e não atacar o redemoinho, apenas ser mais um deles. Se eu fosse não um bode mas um visconde mesmo ruivo e de sabugosa, meu cabelo de milho no cano da espingarda da espiga teria a lã de LanLan, o nado de peito de Toni Costa, e seria o ele de Emanuele pra assim morar como eles no meio do nome dela; ter meu trigo no vento ocre, nascer rico pra aprender ser pobre, na garupa da sacola tá dando mó de Maurício, na estufa da minha sola guardanapos e brincos, guaraná de Nara em pó, abacate amarelo com semente de cérebro eletrônico com jeito de nós. Eu+tu=nós 2 seríamos, pois o nosso sonho único teríamos: moer o meu ser e o teu também pra sermos apenas pó, soprar as migalhas da alma pro alto, queimar todo asfalto até brotar de novo mato e fazer girar as pás do jeito que só quem faz sabe como fazer e se quiser saber é só fazer esse disco girar pra que assim girem a paz e as pás desse nobre moinho.

Fica tranqüilo nêgo, pois hoje tem ovo no ninho!"

Nando Reis, janeiro de 2008

..

Nenhum comentário: