11.24.2006

Reportagem (13): A noite dos roupas-pretas

.



Festa “Bela Lugosi is Dead”, em sua quarta edição, reúne os apreciadores dos sons góticos em Santa Maria



O amplo salão de paredes verdes escuras reverbera o som do baixo distorcido saído dos alto-falantes. A luz baixa mal ilumina os convidados que, em movimentos desconexos, no ritmo das batidas secas das músicas, vão entrando e se deixando levar pela atmosfera sombria que esperavam encontrar e encontram. A série de produtos (filmes, clipes, programas de TV) que eles estão acostumados a consumir, agora, como que num sonho, se materializa, e as fantasias com que se imaginavam diante da tela agora vestem os seus corpos sedentos por diversão e, por que não dizer, alegria. Cada um cria a atmosfera que imagina ser a mais adequada a sua memória visual; já a memória sonora é parecida entre todos, e é nela que se baseia todo o arcabouço mental que tornou possível essa materialização de idéias aparentemente desconexas em apenas uma festa, um lugar, num espírito que tem como símbolo uma cor: o preto.


O parágrafo acima poderia ser até a descrição de uma festa num hipotético filme de terror. Mas, na bem da verdade, é um exercício de imaginação de como pode ser o ambiente da festa que ocorre neste sábado, no Macondo Bar: A Bela Lugosi is Dead. Pela quarta vez no ano, Santa Maria vai ter a sua “noite dos roupas pretas”, destinada ao pessoal que curte ou deseja conhecer mais dos sons considerados góticos.

Organizado pelo estudante de química da UFSM José Neto, mais conhecido como Zé, a festa já indica suas referências desde o nome: “Bela Lugosi is Dead” é uma música da banda inglesa Bauhaus, considerada como uma das criadoras do chamado gothic-rock que, por sua vez, nomeou a música em referência ao clássico ator de filmes de terror Bela Lugosi (veja mais logo abaixo).

O som, desde a primeira edição da festa, ficou a cargo de Wandeclayt, autoridade na cidade em matéria de sons eletrônicos mais obscuros.
“Entrei para dar suporte ao Zé. Cuidaria da parte visual da divulgacão e na seleção do repertório, que tinha a idéia de fundir gothic rock com as coisas mais obscuras da cena eletrônica (como o industrial e o dark electro) com as vertentes do metal que se associam ao gótico”, diz ele.

Nesta edição, o público amante do som gótico ainda vai ter uma atração a mais: a banda paulista Dead Jump (veja mais logo abaixo) vem pela primeira vez ao sul do país, apresentando o seu novo álbum, Immortal.


*****************************

1) Banda paulista na Festa




A “animação” da quarta edição da Bela Lugosi is Dead ficará a cargo da banda paulista Dead Jump, que vem pela primeira vez ao sul do Brasil. A banda - que na verdade é de um homem só, Alexandre Ramos – é de Guarulhos, São Paulo, e faz um som na linha da Eletronic Body Music (EBM), algo como uma música eletrônica mais pesada e sombria. Estilo criado nos anos 80, o EBM flerta com o som industrial, e veio antes da chamada “popularização” da música eletrônica, que no início dos anos 90 colocou o techno, o trance e o drum'n'b ass nas pistas das raves que começavam a se espalhar mundo afora.

O responsável por trazer a banda para Santa Maria é Wandeclayt, que toca o mesmo EBM na sua banda, a Aire ‘n terre, e que também é o cara por trás dos sons da Fetish Fest, outra festa já tradicional na cidade. A Dead Jump vem a Santa Maria na tour de lançamento de seu quarto CD de estúdio, Immortal, que foi lançado pela gravadora Resistence beat e ganhou distribuição mundial. Quem quiser conhecer mais a banda ou escutar os sons pode acessar os sites www.deadjump.net ou www.myspace/deadjump.



2) “Bela Lugosi está morto”





Bela Lugosi is Dead” é o primeiro single da banda Bauhaus, lançado ainda em 1979 e considerada uma das primeiras músicas do gothic rock. O título da música faz referência à estrela dos filmes de terror da foto acima, Bela Lugosi (1882-1956), que praticamente definiu a imagem do vampiro no século XX com sua brilhante atuação em Drácula, filme de 1931 e considerado um dos grandes clássicos do gênero terror.

Muito da popularização da música, e da transformação dela em um “hino”gótico, se dá pelo seu uso no filme de 1983 “Fome de Viver”, dirigido pelo americano Tony Scott, do recente “Chamas da Vingança”. A história da película trata de um casal de vampiros (Catherine Deneuve e David Bowie) que, juntos há séculos, desperta curiosidade em uma jovem médica (Susan Sarandon), que fica “disposta” a estudar o misterioso comportamento – inclusive sexual - dos dois. A cena inicial do filme é clássica: o casal de vampiros sai a procura de carne humana em uma boate típica dos anos 80, enquanto que no alto-falante do local, “Bela Lugosi is Dead” anima a noite.

-Jornal A Razão, 23 de Novembro de 2006-


..

11.21.2006

Os melhores álbuns do século XX

.

* Abrindo um parêntese aqui no conteúdo "normal" do Cena...

Logo abaixo está a lista dos melhores álbuns do século XX.Produzida pela revista Rolling Stone americana, é provavelmente a mais "equilibrada" das listas que foram feitas por revistas e pessoas mundo afora.
Ainda assim, nesta se percebe nitidamente a preferência pelo rock'roll (basta ver os 10 melhores, por exemplo), o que está longe de ser um demérito; talvez o rock tenha realmente sido o movimento de maior expressão na música do século XX.



1.Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, The Beatles (1967)




2. Pet Sounds, The Beach Boys (1966)




3. Revolver, The Beatles (1966)




4. Highway 61 Revisited, Bob Dylan (1965)




5. Rubber Soul, The Beatles (1965)




6. What's Going On, Marvin Gaye (1971)




7. Exile on Main Street, The Rolling Stones (1972)




8. London Calling, The Clash (1979)




9. Blonde on Blonde, Bob Dylan (1966)



10. The Beatles ("The White Album"), The Beatles (1968)





***
Comentários:

_ Quatro álbuns dos Beatles não deixam dúvida da alcunha " maior banda do século XX", ou qualquer outro "the best" que eles carregam.

_ Por esse mesmo critério, não há dúvidas também de que Bob Dylan é o "grande artista americano".

_ A ausência do Pink Floyd entre os 10 mais é um pouco estranha; porém, tente tirar algun destes e colocar "Dark Side of the Moon" ou "The Wall", por exemplo. É difícil; ainda assim, eu trocaria o Rubber Soul pelo Dark Side of the Moon. Mas é apenas a minha opinião.

_ Por ser uma revista americana, é até uma surpresa que entre os 10 mais estejam apenas 3 artistas/bandas americanos: Bob Dylan, Marvin Gaye e os Beach Boys. Os outros sete são britânicos, comprovando a supremacia quase unânime do rock britânico sobre o de qualquer outro lugar do planeta.

_ Entre esses 10, não há jazz nem blues; o primeiro artista de jazz da lista aparece no 12º lugar: Miles Davis. Fora o rock/pop e suas variações mais próximas como o folk e o punk, há ainda a soul music de Marvin Gaye.

_ Só um dentre os 10 não é do período que vai da metade da década de 1960 até o início da de 1970: London Calling, do Clash, que é de 1979. O ano mais privilegiado foi 1966, com três discos entre os 10, seguido de 1965 com dois. O final da década de 1960 até o início da 1970, devido a uma série de cirscunstãncias (inclusive históricas), é realmente o período mais criativo da música do século XX.

Continuando a lista até os 50:



11. The Sun Sessions, Elvis Presley (coletânea lançada em 1976)

12. Kind of Blue, Miles Davis (1959)

13. Velvet Underground and Nico, The Velvet Underground (1967)

14. Abbey Road, The Beatles (1969)

15. Are You Experienced?, The Jimi Hendrix Experience (1967)

16. Blood on the Tracks, Bob Dylan (1975)

17. Nevermind, Nirvana (1991)

18. Born to Run, Bruce Springsteen (1975)

19. Astral Weeks, Van Morrison (1968)

20. Thriller, Michael Jackson (1982)

21. The Great Twenty-Eight, Chuck Berry (coletânea lançada em 1982)

22. Plastic Ono Band, John Lennon (1970)

23. Innervisions, Stevie Wonder (1973)

24. Live at the Apollo, James Brown (1963)

25. Rumours, Fleetwood Mac (1977)

26. The Joshua Tree, U2 (1987)

27. King of the Delta Blues Singers, Vol. 1, Robert Johnson (coletânea lançada em 1996)


28. Who's Next, The Who (1971)

29. Led Zeppelin, Led Zeppelin (1969)

30. Blue, Joni Mitchell (1971)

31. Bringing It All Back Home, Bob Dylan (1965)

32. Let It Bleed, The Rolling Stones (1969)

33. Ramones, Ramones (1976)

34. Music From Big Pink, The Band (1968)

35. The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars, David Bowie (1972)

36. Tapestry, Carole King (1971)

37. Hotel California, The Eagles (1976)

38. The Anthology, 1947 - 1972, Muddy Waters (coletânea lançada em 2001)

39. Please Please Me, The Beatles (1963)

40. Forever Changes, Love (1967)

41. Never Mind the Bollocks, Here's the Sex Pistols, The Sex Pistols (1977)

42. The Doors, The Doors (1967)

43. The Dark Side of the Moon, Pink Floyd (1973)

44. Horses, Patti Smith (1975)

45. The Band, The Band (1969)

46. Legend, Bob Marley and the Wailers

47. A Love Supreme, John Coltrane (1964)

48. It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back, Public Enemy (1988)

49. At Fillmore East, The Allman Brothers Band (1971)

50. Here's Little Richard, Little Richard (1957)



.

11.17.2006

Review (5): O primeiro mosh a gente nunca esquece

.




Dez de Novembro de 2006: data do provavelmente primeiro mosh da história do Macondo.


Na sexta-feira passada, no Macondo Bar, Santa Maria pode ver dois grandes nomes do cenário de bandas independentes do país; o primeiro com 13 anos de uma estrada que já percorreu praticamente todo o Brasil; o segundo, novato de apenas três anos de existência, percorrendo lugares desconhecidos com o vigor de um adolescente maravilhado por estar longe de casa. Walverdes e Zefirina Bomba se apresentaram na cidade mostrando mais uma vez que a distância geográfica e cultural que separa Santa Maria do centro do país pode ser muito menor do que se imagina.


Apesar da promessa de dois bons shows, o bar não estava cheio. em grande parte devido a concorrência feroz que são as boates com entrada gratuita para estudantes universitários na sexta-feira. Invertendo a ordem pré-combinada dos shows, a atração principal – pelo menos teoricamente, já que a grande maioria dos presentes estava ali para ver a outra banda - Zefirina Bomba entrou primeiro no palco. Ilson, Martin e Guga; bateria, baixo e uma viola de 12 cordas fazendo muito bem às vezes da guitarra, com distorção tamanha que só olhando para o instrumento se percebia que, realmente, não se tratava de uma guitarra.


A melhor definição para o som que a Zefirina faz é o punk-rock – na mais abrangente concepção do que pode vir a ser o punk-rock. Ora o show tinha momentos hardcore, ora era o Nirvana quem ali baixava, como na cover de “Aneurysm”, uma das mais pesadas e catárticas músicas da banda de Kurt Cobain. Os poucos presentes na linha de frente do palco pulavam e faziam uma esquálida roda-punk, que parecia estar em contato mental direto com o vocalista Ilson agitando sua cabeleira crespa e esquartejando, aos poucos, a sua viola envenenada.


Nem bem uma hora depois do início, o vocalista e violeiro (?) puxa os primeiros acordes de “Interestellar Overdrive”, canção instrumental da fase mais psicodélica do Pink Floyd. A banda o acompanha. Ilson então deixa sua viola de lado, encostada no amplificador, fazendo o tal barulho popularmente conhecido como microfonia. Ele então pega o microfone quase como um rapper, de lado, e “declama” alguns versos sob o fundo musical caótico. A roda punk da frente pára, observando; Ilson começa a fazer uns gestos para eles, como que pedindo para se juntarem. De início, ninguém parece entender; alguns segundos depois, o dito contato mental entre o público e o vocalista parece fazer efeito e a roda se junta.


Então, numa daquelas cenas que de tão improváveis parece só existir na televisão, o violeiro pula do palco em direção à roda, que o segura e depois, repetidas vezes, o joga para cima, como em uma comemoração de um time depois de ser campeão. Ilson ainda volta extasiado em direção ao palco para pegar sua viola e encerrar o show; o resto do público, incrédulo, não sabe se aplaude ou fica pensando se aquilo realmente aconteceu; na dúvida, o pessoal da roda punk puxa os aplausos.


Acabara de ocorrer ali , provavelmente, o primeiro mosh genuíno da história do Macondo; a mais sincera demonstração de comunhão banda-público encerra o show da Zefirina Bomba da melhor maneira que ninguém esperava ser possível.


E depois ainda ocorreu o show do Walverdes.

- Jornal A Razão, 16 de Novembro de 2006 (com modificações)-


..

11.13.2006

Divagações sobre um mesmo álbum (1)

.
Astral Weeks, Van Morrison






Van Morrison era jovem em 1968, ano de lançamento de "Astral Weeks": tinha 23 anos e estava ainda amargurado com o fim do Then, sua banda de blues/rock’roll junto de seus comparsas, irlandeses assim como ele. Já andava em carreira solo e também já tinha composto um de seus principais hits, “Brow eyed girl”, um ano antes, junto de mais 12 músicas presentes no seu primeiro álbum solo, Blowin' your mind . Mas na sua tão lancinante juventude, estava confuso, provavelmente por aquele que é o principal motivo de um homem estar confuso: divergências com a(s) mulher (es) amadas. E, como não poderia deixar de ser, a confusão – que quase de maneira inevitável traz o sofrimento e a amargura – o inspirou de tal forma que, em 48 horas, gravou as oito músicas de “Astral weeks”, em dezembro de 1968.


Talvez mais do que um disco, “Astral”, funciona como uma terapia, uma viagem às feridas abertas no interior de cada um. É como se fosse Van, diante de um espelho que mostra todas as coisas que o aflingiam, gritasse desesperadamente para achar uma saída, e, não encontrando nada melhor, resolvesse dar uma de kamikaze e entrasse no próprio espelho, para, chegando lá, se surpreender e ver que aquilo que o aflingia não pode ser curado nem compreendido por inteiro, seja lá qual for a força que ele suponha que o amor teria para achar a cura. O relato dessa viagem pelo espelho, e sua conseqüente redenção ao assumir a dor, seriam as oito músicas do álbum. Como poucos, o irlandês não grita, nem berra; uiva os seus lamentos, tornando cada canção uma história de confissão que parece não cansar, tal é a sinceridade com que ele emprega em cada verso. Sua voz é imponente como dos grandes cantores de blues e R&B, mas carregada de emoção como nos bons vocalistas de rock e guia de cada uma das faixas do disco, deixando a parte instrumental, predominantemente acústica ou feita por instrumentos de sopro, como um limpa-trilho que abre passagem para o vozeirão de Van invadir cenários e pessoas diferentes – quando, por vezes, o mesmo não arranca primeiro e destrói tudo pela frente, restando para a parte instrumental a ingrata tarefa de avisar aos destroçados que aquilo trata-se de apenas uma canção.


A primeira música do álbum, nomeada como o disco, começa já apresentando a questão que o cantor se pergunta na primeira vez que adentra o seu espelho:

“Se eu me aventurasse no turbilhão da hélice, entre os viadutos dos teus sonhos, onde racham os aros de aço móveis e o fosso e as ruelas acabam, você poderia me achar, você beijaria os meus olhos e me deitaria em tranqüilo silêncio para nascer de novo?”

Provavelmente de forma inconsciente, porque o irlandês dizia que não pensava (e nem teria como) em todos os significados que as suas letras despertavam nas pessoas, ele acabou já de cara fazendo a pergunta a qual não teria como encontrar resposta, porque de alguma forma, nestes casos, a resposta não vem nunca quando se pergunta, mas por livre e espontânea vontade de aparecer e dar o seu ar da graça quando menos se espera – o que é, ao natural, a melhor forma de receber uma recompensa de quando se pergunta algo às diferentes formas imbuídas no amor.



*********************

Divagações sobre um mesmo álbum (ou música, dependendo) vai ser uma "série" exatamente da forma com que o título a apresenta: divagações - um pouco diferente de "viagens", mas não me pergunte qual é a diferença - sobre um álbum, uma música.
Para ilustrar, sempre vai vir acompanhado do objeto divagado em mp3, para que todos também possam divagar juntos e buscar uma relação - provavelmente obscura, mas sempre existente - entre as diferentes imagens e idéias criadas e/ou proporcionadas pela audição do álbum/música.

Para começo de conversa, ai vão algumas músicas do "Astral Weeks", provavelmente as melhores:

1 - Astral Weeks: uma quase perfeita síntese do que é o álbum

4 - Cyprus Avenue : a mais conhecida do disco, um longo "passeio" na avenida do título.

6 - Madame George: nas palavras do clássico crítico americano, Lester Bangs:
"Madame George é o redemoinho do álbum. Possivelmente uma das mais compassivas obras musicais já feita ela monta a cena para que assistamos ao calvário de um travesti abandonado com uma simpatia tão intensa que, quando o cantor o machuca, nós também o fazemos."


********************************

Para finalizar, aí vão outras palavras de Lester Bangs, divagando também:
"Mas o lindo horror de "Madame George" e "Cyprus Avenue" é precisamente que as pessoas não estão morrendo: estamos vendo a vida em seu primor, e essas pessoas não estão sofrendo de doença, estão sofrendo da natureza - a não ser que a natureza seja uma doença."

Ah: quem quiser baixar o álbum inteiro aqui pode entrar aqui também.


..

11.09.2006

Reportagem (12): Barulheira das boas aterrisa em Santa Maria

.





Duas das mais destacadas bandas do cenário independente brasileiro tocam amanhã no Macondo: Zefirina Bomba e Walverdes



Santa Maria pode dizer, com uma ponta de orgulho e outra um tanto de surpresa, que virou passagem quase obrigatória para qualquer tour pelo Estado de bandas independentes do cenário nacional. Depois de receber bons nomes do rock mais “alternativo” como Autoramas, Pata de Elefante, Superguidis e Júpiter Maçã, amanhã é a vez do Macondo ser palco para outras duas bandas independentes: os gaúchos do Walverdes e os paraibanos do Zefirina Bomba. Os primeiros, velhos conhecidos do público local, vem à cidade mostrar o seu eficiente rock garageiro – barulhento, supersônico, punk e grunge, tudo ao mesmo tempo; já os paraibanos, um inusitado power-trio de baixo, bateria e viola amplificada, tocam pela primeira vez em Santa Maria, apresentando o álbum que no nome já apresenta o som da banda: Noisecoregroovecocoenvenenado


É mais uma chance dos santa-marienses conhecerem boas bandas que não tocam nas “rádios pop” locais. Uma rápida olhada para trás já é suficiente para valorizar ainda mais o atual momento de shows por aqui; a bem pouco, bandas de fora do RS tocavam na cidade em pequenas doses, duas ou três vezes por ano, em eventos especiais particulares ou em festas promovidas por uma rádio local. Ainda sim, os nomes que vinham se apresentar, se não eram ruins, também não eram nenhuma novidade para um público criado ouvindo rádio FM e MTV. Hoje em dia isso mudou: a cidade deixou de receber os mesmos medalhões do rock dos anos 80 e as “novidades” patrocinadas pelas rádios para recepcionar bandas novas, inovadoras, que fogem do esquema da concessão obrigatória para fazer sucesso.


O cartaz dos shows da tour do Zefirina Bomba pelo estado


******

Zefirina Bomba




Imagine um power-trio no mínimo estranho - baixo, bateria e uma viola com distorção ligada num amplificador - composto por um pernambucano, um paulista e um paraibano loucos por Stooges, Cascavalletes, Beatles, punk-rock e o poeta João Cabral de Melo Neto. Numa definição das mais simplistas, essa seria a Zefirina Bomba, formada em 2003 em João Pessoa, Paraíba, por Ilson (vocal e viola), Martin (baixo) e Guga (bateria).
_ Quando a gente se juntou pra tocar a idéia era experimentação com distorção, e desde então é isso que a gente tenta fazer, sem concessão - diz Ilson.

Depois de uma primeira demo gravada, o Zefirina começou a aparecer em todo o país com performances ensandecidas em shows de importantes festivais como o Abril Pró Rock e o Mada (Música Alimento da alma). No final de cada um, ao melhor estilo Nirvana e The Who, o vocalista despedaçava sua viola junto aos outros equipamentos.

No início deste ano, os três integrantes entraram em estúdio para gravar o primeiro álbum, produzido pelo conhecido Carlos Eduardo Miranda, descobridor dos Raimundos e também um dos jurados do programa “Ídolos”, do SBT. Lançado pelo selo da Trama, o “Noisecoregroovecocoenvenenado” vem chamando atenção pelo som inusitado: é pop e também é rock; é punk mas também pós-punk, é tosco e também sincero e despretensioso.
_ O nome do álbum é a nossa cara!- diz o vocalista.

Se alguém chegou até aqui e ainda não entendeu o porquê do nome da banda, aí vai a explicação de Ilson:
_ Zeferina era a lavadeira lá de casa, eu a chamava de zefinha bomba, por conta do barulho que ela fazia lavando roupa, quando tirava o sabão do lençol batendo no esfregador. Eu já me divertia com barulho desde pequeno!.
Quem quiser se antecipar ao show e já chegar lá cantando as músicas pode escutar no site da banda no Tramavirtual

*

Walverdes




_ Foi um bom show, mas esperamos fazer um ainda melhor dessa vez.
As palavras são de Gustavo "Mini" Bittencounrt, vocalista e guitarrista do Walverdes, sobre a última vez que a banda passou pela cidade, a cerca de quatro meses atrás, no mesmo palco onde vão tocar amanhã.
_ Eu achei o Macondo um lugar muito especial, toca bom som, reúne a galera legal da cidade. O ideal é que sempre tenha um "Macondo" em cada cidade. São os melhores lugares pra se tocar - completa.

Veteranos da cena underground gaúcha e nacional, o Walverdes está tendo um excelente ano de 2006; além da boa repercussão em todo o país do segundo álbum da banda (tirando inúmeros Eps e demos) “Playback”, lançado de forma independente pelo selo Mondo 77, o videoclipe de “Seja mais certo” foi indicado a melhor clipe independente no Vídeo Music Brasil, o tradicional VMB, organizado pela MTV. Mesmo não ganhando o prêmio, fizeram bons contatos e divulgaram ainda mais a banda, que hoje é uma das mais respeitadas do país, principalmente por músicos e amantes de uma boa barulheira de grupos como Nirvana, Mudhoney, Ramones, Sonic Youth, Sonics e The Who, dentre outros.

A banda, completada por Patrick Magalhães (baixo) e Marcos Rubenich (bateria), prepara um repertório levemente diferente do último show em Santa Maria.
_ Trocamos de ordem algumas músicas, colocamos uma diferente também. Provavelmente o show vai ser mais curto, pois a banda principal é o Zefirina - diz Mini.
O contato para a tour junto com a Zefirina Bomba ocorreu através da produtora Roque Town, que convidou os gaúchos para participarem de três dos quatro shows que os paraibanos vão fazer por aqui.
_ Ainda não conheço os caras pessoalmente, mas achei o disco deles muito bom, tosco no melhor dos sentidos - completa Mini.

Site oficial: Walverdes.com


-Jornal A Razão, 9 de novembro de 2006 (modificado)-


..

11.06.2006

Review (4): "Você sabe sim", Crema

.





Para quem não lembra, a Crema foi a primeira banda a aparecer aqui no Cenabeatnik, no já longínquo post de 2 de julho deste ano. Naquela época, cerca de dois meses deles terem feito apenas o primeiro show, a banda era pouquíssimo conhecida pela cidade – ainda assim, esses que conheciam já a consideravam bastante promissora, para dizer o mínimo. Passados quatro meses e alguns quantos shows, eles vão lançar, neste sábado no Macondo Bar, o primeiro single, “Você sabe sim” , música composta pelo vocalista, tecladista e eventual guitarrista Márcio Gomes.


Para os que não conhecem o som da banda, uma audição sem compromisso da música lembrará inevitavelmente o Coldplay – para bem ou para mal, hoje em dia qualquer rock/pop com teclado lembra a banda britânica. Mas já na segunda ou na terceira escutada se percebe que o som é mais rock’roll, e a letra, num tom reflexivo e invocativo como o dos clássicos comerciais da MTV, é talvez o maior exemplo da verve roqueira da banda, mais até do que a guitarra distorcida tocada por Cauã Johnsons, que ganha um bom destaque nos solos depois de cada refrão. Por mais simples que pareçam os versos (“Você sabe sim o que pode fazer para mudar/você sabe sim desculpas não vão te ajudar) ainda assim eles atingem o objetivo de, pelo menos, fazer com que se preste atenção na letra – mesmo que ela possa até não dizer nada para alguém, ela passa uma mensagem que é percebida facilmente por quem quiser prestar mais atenção e refletir sobre aquilo que é cantado.


É notável também que a Crema, nestes poucos meses de vida, já adquiriu entrosamento que muitas outras bandas em mais tempo não atingiram, o que faz dela, hoje, uma das mais interessantes de Santa Maria, cidade tão dividida em pólos que nunca parecem querer se misturar. É daí também que vem o maior mérito da banda: buscar, até de forma inconsciente, unir o “lado b”, nunca indulgente com as atividades de seus membros e sempre alternativo a tudo que pode ser considerado “pop”, com o “lado a”, radiofônico, pop sem vergonha de o ser, mas talvez por isso burro, sem cérebro e muito menos culhões necessários para passar qualquer mensagem que não seja a mais simples possível. Por não ter vergonha de pinçar algumas músicas do repertório em bandas boas não tão conhecidas e, principalmente, por fazer uma música assumidamente pop – ou rock - sem concessões que muitas bandas acham inevitável é que a Crema se sustenta e hoje sobrevive bem, obrigado.


************


Comunidade da banda no orkut



Baixe a música aqui .



..

Justificativa

.


Não que precise explicações, mas a justificativa pela ausência de posts novos durante cerca de uma semana no blog é devido a uma viagem do blogueiro, que esquecendo de avisar antes, o faz agora.
As atividades agora voltarão ao normal, sem expectativa de ausências por um bom tempo, quiçá até o fim deste ano.


..