3.13.2007

Os melhores álbuns do século XX (8)

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Escolhido como o oitavo lugar na lista dos 10 melhores álbuns do século passado pela Rolling Stone está London Calling, do The Clash.






Terceiro disco do Clash, "London Calling" é um álbum duplo, gravado na Inglaterra em 1979 e lançado no ano seguinte nos Estados Unidos. Foi um enorme marco para o rock e, principalmente, para o punk-rock, mostrando que também se pode fazer punk mesmo tocando reggae, ska, rockabilly e até jazz.

A linda foto da capa, tirada por Pennie Smith, é o baixista do Clash, Paul Simonon, quebrando o seu baixo no show de 21 de setembro de 1979, no The Palladium, em Nova York. Uma das mais conhecidas fotos de capa de disco, ela foi escolhida pela revista inglesa Q como a melhor foto de rock'roll da história.
A estética da capa do disco, das letras escritas o nome da banda e o nome do disco às cores usadas, é claramente inspirada no primeiro álbum de Elvis Presley (veja aqui a capa do álbum de Elvis).

A excelente resenha abaixo, escrita pela grande jornalista e escritora Ana Maria Bahiana (aqui tem um texto dela sobre a primeira edição da Rolling Sotne brasileira, nos anos 70, na qual ela foi Secretária de Redação) para a seção Discoteca Básica da revista Bizz, dá tantos detalhes e impressões sobre o disco que nem vou me dá ao trabalho de dizer mais alguma coisa sobre o álbum. Até para não atrapalhar o texto da Ana.


Três anos depois do verão punk, o establishiment pop ainda lambia suas feridas. Aqueles Sex Pistols de Malcoln McLaren eram uma brincadeira de mau gosto? E - impensável - se eles fossem importantes, mesmo sendo uma brincadeira de mau gosto? Aliás, se tudo aquilo fosse importante exatamente por ser uma bricadeira de mau gosto?

Desde os Beatles, os 60 e a politização/psicodelização do rock, a indústria não via questões tão profundas e tão graves ameaçando as regras do (seu ) jogo. A primeira metade dos 70 trouxe uma paz confortadora, em que bons negócios eram possíveis com um mínimo de tumultos e confrontos. A indústria tinha um produto de aceitação certa e imediata, e os consumidores pareciam felizes. Por que e de onde vinha essa insurreição?

E que momento péssimo haviam escolhido para atacar: exatamente quando, dos clubes gay underground, a disco music avançava sobre as hordas de adolescentes. Mas o pior ainda estava por vir: em 1979 , o establishiment descobriu que a rebelião tinha um cérebro além de uma voz. E foi "London Calling", do Clash, que proclamou isto.

O Clash surgira na primeira hora do verão londrino de 1976, reunindo Joe Strummer, com uma carreira de performances no metrô e à frente de uma banda de pubs (os 101'ers); Paul Simonon, um estudante de arte que jamais havia pegado num baixo: e Mick Jones, que também vinha da cena de pubs. Primeiro Tory Crimes e depois com Topper Headon na bateria (e, por pouco tempo com Keith Levene, futuro PIL, completando um quinteto) , o Clash abriu concertos dos Pistols em 1976 e, um ano depois, assinou um contrato vultoso para a época, com duzentos mil dólares de adiantamento. Os dois primeiros discos desse contrato "The Clash" ( 1977) e "Give'Em Enough Rope" (1978) - já revelavam claramente o que o Clash pretendia: de dentro da barragem alucinante de decibéis erguida por Jones, Strummer cantava articuladamente uma inquietação social e política que os Pistols conheciam, mas tratavam com um ódio brutal e amorfo. Mas, na época, a forma triunfou sobre o conteúdo, iludindo a todos, sem sequer antecipar o que seria "London Calling".

Lançado em meados do ano, London Calling foi um clarão de lucidez e coerência que nem o rock nem o Clash conheceriam depois. As 19 faixas do álbum duplo - a última, "Train In Vain", não está creditada na capa - interligam-se para formar ao mesmo tempo um painel da Inglatera sobre Thatcher - relutantemente multirracial, bacia de fermentação de ódios e frustrações - e de um mundo apenas aparentemente sob controle, mas impulsionado por armas, drogas e guerras sob encomenda. A música tem uma riqueza de texturas que o punk desconhecia: O Clash canta o ska e o reggae pesado da Londres negra (" The Guns of Brixton", "Rudie Can't Fail". "Wrong Em Boyo") e puxa o longo fio ancestral que vai até os anos 50 ( " Brand New Cadillac") e o jazz ( "Jimmy Jazz").

O impacto de "London Calling" abriu clareiras em todas as frentes. Para as platéias punk, ele disse que a fúria podia e devia ser organizada, e que a lucidez e a curiosidade eram as únicas saídas estéticas possíveis antes da caricatura e da dissolução. Para o resto do público, o álbum restaurou a fé num gênero em visível decadência, o rock. Para o próprio Clash o disco foi a bateria energética que o impulsionou freneticamente durante um inacreditável par de anos - e o álbum triplo "Sandinista" (1980) - até caírem exaustos ao chão das realidades mesquinhas do business, ícaros modernos deixando no ar o traço do seu vôo.

Ana Maria Bahiana



Como o disco é duplo, ele está divido em quatro lados. Todas as composições são de Joe Strummer e Mick Jones, os dois guitarristas e vocalistas, exceto quando assinaladas.



Lado A
  1. "London Calling" – 3:20
  2. "Brand New Cadillac" (Vince Taylor) – 2:08
  3. "Jimmy Jazz" – 3:54
  4. "Hateful" – 2:44
  5. "Rudie Can't Fail" – 3:29

Lado B

  1. "Spanish Bombs" – 3:18
  2. "The Right Profile" – 3:54
  3. "Lost in the Supermarket" – 3:47
  4. "Clampdown" – 3:49
  5. "The Guns of Brixton" (Paul Simonon) – 3:09

Lado A/ disco 2
  1. "Wrong 'Em Boyo" (Clive Alphonso; credited as "C. Alphanso") – 3:10
  2. "Death or Glory" – 3:55
  3. "Koka Kola" – 1:47
  4. "The Card Cheat" (Jones, Strummer, Simonon, Topper Headon) – 3:49

Lado B/disco 2
  1. "Lover's Rock" – 4:03
  2. "Four Horsemen" – 2:55
  3. "I'm Not Down" – 3:06
  4. "Revolution Rock" (Jackie Edwards, Danny Ray) – 5:33
  5. "Train in Vain (Stand by Me)" – 3:09

Baixe Aqui o álbum completo.

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