3.04.2007

Os melhores álbuns do século XX (7)

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O sétimo melhor álbum do século passado põe de volta a Inglaterra na lista: Exile on Main Street, dos ingleses do Rolling Stones.





Lançado em 1972, com os Stones mais do que consolidados no mundo inteiro, Exile On main Street é resultado de uma série de sessões de gravação regadas a muitas drogas, mas muita s mesmo - reza a lenda que muitos milhares de dólares foram gastos para abastecer de heroína a banda. A principal das sessões de gravação ocorreu em Nellcôte, um vilarejo perto de Nice, sul da França, que servia de casa para o guitarrista Keith Richards na época. A banda naquela época era, além de Richards numa das guitarras, Mick Jagger no vocal, Bill Wyman no baixo, Charlie Watts, na bateria e Mick Taylor na outra guitarra - este, substituto do fundador, guitarrista e mentor dos primeiros anos dos Stones, Brian Jones, morto em 1969.


O álbum foi produzido por Jimmy Miller e atingiu o topo da parada britânica e da Billboard em 1972. Abaixo, segue a resenha do disco na seção "Discoteca Básica", da revista Bizz. O texto é escrito por José Emílio Rondeau, diretor e roteirista de 1972, filme "rocker" lançado no final do ano passado. (Aqui tem mais informações sobre o filme, bem como uma entrevista com José Emílio)


Naquele tempo eles já carregavam o título de "A Maior Banda de rock'n'roll do Mundo" como um peso-pesado que exibe seu cinto de campeão. Não havia mais Beatles, não havia mais Jim Morrison, não havia mais Hendrix. A única competição real era o rock operático do Who e o então ascendente Led Zeppelin. E, mesmo assim, ao vivo, os Stones eram imbatíveis - Jagger piruetando pelo palco, comandando um rugido-rock que era afiado e perigoso como o fio de uma navalha. Em disco, passavam por seu melhor período, parindo clássico após clássico - de "Brown Sugar" a "Street Fighting Man", de "Let It Bleed" a "Simpathy for the Devil". Embora o Sr. M. tivesse levado Brian Jones - que, enamorado demais pelas possibilidades "místicas" das drogas, já se mostrava incapaz de produzir um décimo de seu input habitual na banda -, os Stones da virada dos anos 60 para 70 progrediam, artística e popularmente, como uma bola de neve. Agora, sob o comando de Mick Jagger e Keith Richards, mais do que nunca os Stones mereciam o título de "A Maior Banda de rock'n'roll do Mundo".

Com a entrada do lírico Mick Taylor no lugar de Jones, os Stones saíam de uma trilogia de álbuns absolutamente brilhantes - "Beggar's Banquet" (ainda com Brian), "Let It Bleed" e "Stick Fingers" -, mas enfrentavam um novo/velho problema: drogas. Desta vez era Keith quem flertava com a morte, via heroína. Escondera-se numa villa no sul da França, Nellcote, para poder injetar um pouco de sanidade em sua vida. Mas sanidade era difícil de achar numa atmosfera rock e, ao invés dela, Keith acabou encontrando mais rock, e mais heroína.


Jagger & Richards em show de 1972...


Como Keith não saísse de Nellcote para coisa alguma, os Stones mudaram-se para lá para poder gravar seu novo disco, cujo título balançava entre "Eat It" e "Jungle Disease". Chamaram o saxofonista Bobby Keyes, o trompetista Jim Price e os tecladistas Nicky Hopkins, Billy Preston e Dr. John. Ficaram trancados em Nellcote de julho a novembro de 1971. Quando saíram de lá para Hollywood, onde complementaram e mixaram o disco, os Stones traziam nos braços material para preencher três álbuns.

Acabaram optando por um álbum duplo e por um terceiro título - "Exile on Main Street" - e ofereceram ao mundo o disco mais denso, mais pessoal, mais intrigante e mais controverso de toda a carreira dos Stones.

Quem ouviu "Exile" em 72 amou ou odiou o disco imediatamente. A maioria odiou, reclamou de "falta de foco", "mixagem lamacenta" e "encheção de lingüiça". Erraram e acertaram. Primeiro, porque tudo isso era intencional - a massa sonora de "Exile" só podia ser penetrada a facão. Os vocais de Jagger foram enterrados mais do que o costume. Os agudos foram saturados. E, segundo, porque a maioria das músicas era uma sucessão de Polaroids rock - images de decadência, dor, perigo, desilusão. E de sobrevivência.


e a banda inteira em show do mesmo ano.


Acima de tudo, "Exile" era um portrait dos Stones no topo de sua forma - faixas como "Tumbling Dice", "Rocks Off", "Soul Survivor" e "Rip This Joint" eram o testemunho de que, quando os Stones resolviam se reunir num estúdio para fazer rock'n'roll, faziam "O Melhor Rock Rock'n'Roll". Jagger explodia suas tripas em vocais insuperáveis até mesmo por ele. Richards e Taylor trocavam riffs como guerrilheiros na selva. Bill Wyman e Charlie Watts sedimentavam uma construção crazy com uma argamassa indestrutível.

Após "Exile" tornou-se impossível reunir todos os Stones num mesmo estúdio, ao mesmo tempo. E os álbuns subseqüentes retratavam este insidioso fracionamento. Depois de "Exile", salvo faixas excepcionais, como "Start Me Up" e "Undercover", os Stones eram um arremedo dos Stones. E Exile era seu melhor testamento. E o derradeiro epitáfio.

José Emílio Rondeau



Faixas do álbum:

  1. "Rocks Off" – 4:32
    • Recorded in LA, early 1972
  2. "Rip This Joint" – 2:23
  3. "Shake Your Hips" (Slim Harpo) – 2:59
  4. "Casino Boogie" – 3:33
    • Features Richards on bass
  5. "Tumbling Dice" – 3:45
    • Features Jagger on Guitars and Mick Taylor on bass. Recordings started at Stargroves, Spring 1970, under the working title "Goodtime Women Blues"
  6. "Sweet Virginia" – 4:25
    • Recorded in mid-1970 at Stargroves
  7. "Torn & Frayed" – 4:17
  8. "Sweet Black Angel" – 2:54
  9. "Loving Cup" – 4:23
    • Recorded in LA, early 1972
  10. "Happy" – 3:04
  11. "Turd on the Run" – 2:37
    • Features Bill Plummer on upright bass
  12. "Ventilator Blues" (Jagger, Richards, Mick Taylor) – 3:24
  13. "I Just Want to See His Face" – 2:52
    • Features Bill Plummer on upright bass and Richards on piano
  14. "Let It Loose" – 5:17
  15. "All Down the Line" – 3:49
    • Features Bill Plummer on upright bass and Bill Wyman on electric bass. Recorded at Stargroves, spring 1970, and Sunset Sound, early 1972
  16. "Stop Breaking Down" (Robert Johnson) – 4:34
    • Features Jagger on rhythm guitar, Recorded at Stargroves, spring 1970
  17. "Shine a Light" – 4:14
    • Features Miller on drums and Billy Preston on organ. An early version was recorded in Spring 1970, and released in 1970, by Leon Russell as "Get a Line on You," together with Mick Jagger, Bill Wyman, Mick Taylor and Ringo Starr.
  18. "Soul Survivor" – 3:49
    • Features Richards on bass. Recorded in LA, early 1972

Participaram também da gravação:
Clique aqui para baixar o disco.

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