1.19.2007

Reportagem (18): E o disco virou literatura

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Coleção Mojo Books lança livros virtuais baseados em discos clássicos do rock’roll



Que a música, e um disco em especial, podem criar várias “imagens” em quem escuta não é novidade para ninguém; basta por um som alto, prestar atenção na letra, nas nuancias de cada instrumento, que as imagens correspondentes já são criadas em nossa cabeça. Agora, transformar essas imagens em palavras e, melhor ainda, em histórias de ficção, não é tarefa das mais fáceis – pela grande quantidade de imagens que se criam, torna-se até difícil organizá-las em formato de uma história coerente, com início, meio e fim. Pois foi partindo dessa idéia que o pessoal da revista virtual Speculum resolveu criar a coleção Mojo Books.


Lançado em dezembro do ano passado, o projeto funciona da seguinte forma: a cada mês, um autor convidado conta uma história de ficção baseada em um álbum clássico do rock’roll. Por vezes, as imagens ditam o ritmo, o ambiente e até parte dos personagens da narrativa; por outras, dão apenas o “tom” para que o autor crie a partir dali. O primeiro lançamento da coleção foi “Black Celebration” (foto), do Depeche Mode, contado por Danilo Corci, também editor da coleção. Como não poderia deixar de ser em se tratando de Depeche Mode, a história tem um tom bastante “soturno”, que, afinal, é a imagem mais “visível” quando se escuta alguma música da banda.


O segundo da coleção é “Technique”, do New Order.





Escrita por Ricardo Grasseti, a história passeia pos dúvidas existenciais e sexuais do protagonista Johnny, que não sabe se gosta de sua namorada ou se tem interesse por outros homens.
A coleção segue ainda com , “In It for the Money”, do Supergrass, por Delfin...






#1 Record”, do Big Star, por Luiz Cesar Pimentel...





e o clássico “Revolver”, dos Beatles, contado por Jota Wagner.



Veja o primeiro parágrafo deste último:

"
Eu acordei na praia. Ao meu lado, uma menina, sete casas de surfista e montanhas muito altas. O dia estava ensolarado, mas escuro. Estava quente e fresco, e as montanhas eram escuras e muito altas. Fiquei feliz e bastante intrigado por estar numa praia tão linda ao lado de uma menina, sendo que eu não sabia que lugar tão sensacional era aquele. Ela me olhava com simpatia e amizade, meu coração bateu forte; ela era legal demais. Os surfistas estavam por ali, mas a praia nem tinha onda. O mar era calmo e escuro como o dia e como as montanhas e como tudo o mais. Tudo escuro. Deitado no colchão inflável perto das pedras, olhando as montanhas, eu tinha vontade de chorar de felicidade e angústia. Ah, a menina estava sentada na pedra.
— Que praia é esta?
Não me lembro da resposta. Ela respondeu, mas não me lembro. Ela também me falou em que lugar do mapa a gente estava. As casas de surfistas eram pequenas e de madeira, e giravam apoiadas sobre uma base de ferro.

"

O resto do livro pode ser lido aqui, seguir algumas instruções, e receber o link para o arquivo que contém o texto em formato PDF. Como são histórias pequenas – em média 30 páginas - leves, recheadas de referências pop, a leitura na frente da tela do computador não chega a cansar. Mas caso queira ler em outro lugar, o leitor pode imprimi-lo – o livro sairá no exato formato de uma caixinha de CD.

Os lançamentos para este ano prevêm ainda “Thriller”, do Michael Jackson, “Pet Sounds”, dos Beach Boys, “Doolitle”, dos Pixies, entre outros discos conhecidos.


- Jornal A Razão, 18 de janeiro de 2007 -


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