Estilo que mistura rock alternativo, música eletrônica e o clima das festas raves é a nova febre das pistas de dança do planeta
Algumas destas bandas vingam e se tornam, realmente, sucesso mundial, como é o caso do Coldplay, que faz show neste mês no Brasil, e do Franz Ferdinand (aqui uma mostra do poderio do quarteto escocês, e aqui uma bela análise do primeiro dos dois álbuns da banda). Outras sucumbem ao preço do sucesso repentino e terminam sem tempo de mostrar que são mais do que um mero hype, caso do Libertines.
Pois bem. A nova modinha vindo da Inglaterra agora não é bem em torno de uma banda, mas de várias que, juntas, estão criando uma espécie de nova "cena" mundial que atende por um nome: "new rave".
Como o nome já entrega, a "new rave" mistura as guitarras do rock com o clima colorido, festivo, e chapado das festas raves. Nada que Prodigy, Chemical Brothers e outras bandas dos anos 90 já não tenham feito parecido, mas a principal diferença parece ficar no clima alternativo da coisa, seja no visual - o mais colorido e chamativo possível, com muito néon e cores berrantes nas roupas (como se percebe na foto que abriu esse post, de um show do Klaxons) – nos barulhos esquisitos nas músicas - sirenes, apitos, assovios – ou nas guitarras e melodias emprestadas do rock alternativo.
Ainda é cedo para dizer se a new rave pode vir a se tornar um “movimento” como foi o punk-rock nos final dos anos 70, o pós-punk e o gótico nos 80 ou mesmo o das primeiras festas raves no início dos anos 90. Porém, em tempos onde a complexidade e a sobreposição de estilos é a tônica da chamada “pós-modernidade”, a new rave se apresenta como mais uma genuína tradução dos anos 2000, com a diferença de que o foco agora parece apontar para a frente, quase que exclusivamente para o futuro.
O que, diga-se, é uma baita diferença, já que os estilos que predominam nas paradas atuais são eminentemente retrôs - veja o rock, por exemplo, das mesmas bandas citadas no início desse post.
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O trio inglês Klaxons (que hoje é quarteto) é o principal nome da new rave. Surgiu de mansinho, fazendo algumas festas nos arredores de Londres, e já com o primeiro single, lançado em março de 2006, chamou atenção da mídia inglesa. “Gravity’s Rainbow”, a primeira música da banda, é uma interessante mistura de rock alternativo, dance music e psicodelia, com pitadas até de punk.
Depois de mais alguns singles de sucesso lançados ano passado, eles assinaram com uma grande gravadora e preparam o seu primeiro álbum para início de fevereiro agora. Além do som, o Klaxons chama atenção também pelo visual, marcado pelas cores berrantes e os acessórios inspirados no mundo dos games dos anos 90, e o clima futurista das letras e sons, que vão contra a maré de ondas retrô que assolam a cena pop mundial.
Para escutar as músicas da banda é só acessar o espaço deles no My Space
O que pode se esperar de uma banda com o sugestivo nome de Bono Must Die? No mínimo, violência. E é mais ou menos esse o mote da banda, que representa o lado mais “dark” da new rave, com letras inspiradas em filmes de horror e uma sonoridade mais barulhenta, pesada, uma mistura de punk com a drum’bass.
Site: www.myspace.com/bonomustdie
Outra banda da cena que capricha no nome é a Hadouken, do interior da Inglaterra. Quem já jogou video game na vida sabe que o nome vem da famosa bola azul de energia soltada pelos personagens do Street Fighter, Ryu e Ken.
O diferencial da Hadouken é uma levada mais ligada ao rap, algo como uma mistura de dance-music, rock e rap.
Site: www.myspace.com/hadoukenuk
Cansei de ser Sexy
O clima festivo e fashion dos shows, a mistura inusitada de barulhos eletrônicos toscos com guitarras ainda mais toscas e as letras (em sua maioria em inglês) sarcásticas/engraçadinhas fizeram com que a mídia inglesa rapidamente os “enquadrasse” no rótulo da new rave, embora o som da banda seja bastante diferente do Klaxons, por exemplo.
Depois de um primeiro álbum elogiado (curiosidade: o disco é duplo; o primeiro contém as músicas e o segundo é virgem, para, segundo a banda, cada um que comprasse gravasse as músicas do primeiro no segundo e presenteassem para um amigo, algo que vai bem a calhar com o clima anárquico da banda), o CSS prepara álbum novo para lançamento em junho ou julho deste ano.
Site: www.myspace.com/canseidesersexy

O Bonde do Rolê é um trio curitibano que teve uma grande idéia não nova: pegar dois ritmos pra lá de divertidos - no caso, o funk carioca e o hard rock – e misturá-los. O resultado é surpreendentemente bom: riffs de bandas como AC/DC e The Darkness com o batidão e as letras bagaceiras típicas do funk carioca são um convite para até os mais alternativos rebolarem.
Por falar em letra bagaceira, uma pequena amostra do nível delas:
Melô do Vitiligo:
fui no botecao / pra tomar uma caipirinha/ espremeu limão errado/ manchou toda minha pelinha / as viada tudo loca/ já criaram confusao/ perguntaram é vitiligo/ eu disse é mancha de limao
vai vai vai vitiligo (4x)
parece vitiligo, mas é mancha de limao
Quer outra? Aí vai:
Melô do Robôróque
Cus amigu lá da frança conheci dafiti punk / Ouvi na cretinage sampriei i fiz um funk / Os gringo tudo safado já entraro nesse bonde / Om mó taime, arandeuôurdi, rárdi bédi, fésti shtrongue / Na melô do roboróque num dá pra ficá parado / As mina faiz ér guitá e os preibói fica bolado/ Capacete na cabessa, breiquidênce até o chão / Vai mexeno rebolano e olhando a luiz neom
Outras letras da banda podem ser vistas aqui.
Mas o que isso tem a ver com a new rave? Nem a banda sabe. Eles caíram dentro do rótulo por sair em turnê pelos Estados Unidos junto com o Cansei de Ser Sexy e, assim como estes, ganharem as pistas de dança das festas descoladas da Inglaterra. Preparam disco para a metade deste ano.
Site: www.myspace.com/bondedorole
-Jornal A Razão, 1 de Fevereiro de 2007 (com modificações)-
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