12.19.2008

Reformas

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O Cenabeatnik está em reformas para melhor atendê-lo. Em breve, ele estará um tanto modificado.
Obriagado!

(É assim mesmo, não escrevi errado)

Enquanto isso, fiquem com o Baixacultura.

Leonardo

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12.10.2008

Jamaica Music

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Não sou daqueles que gostavam de reggae, mais pelo preconceito e estereótipos que o gênero me traz do que qualquer outra coisa. Mas eis que gente vai crescendo, os preconceitos vão diminuindo, a nossa paciência vai aumentando e, com ela, a sensação de que nada é tão simples nesse mundo - o que nos abre um sem caminho de portas para coisas que pouco tempo atrás a nossa cabeçadurice trancaria a sete chaves.

Vestido até os dentes com esse não-preconceito, digo que comecei a gostar de reggae e outros ritmos da Jamaica que nunca soube que existiam (ou nunca soube que existiam com tamanha qualidade) como o rocksteady, o ska e o dub. Parte dessa boa vontade veio desse post aqui, de autoria de meu amigo Reuben.

Ali está a indicação de um blog que é demais de bom para se conhecer os tais ritmos jamaicanos: You And Me On A Jamboree. Que, aliás, mais do que um blog, é uma festa e um podcast. Cada edição do podcast é sobre um ritmo da Jamaica, ou sobre uma fase específica da música da ilha do Caribe mais conhecida depois da do Fidel. Foi ali que escutei sobre o tal rocksteady, ritmo intermediário entre o ska e o reggae que durou alguns poucos anos do final da década de 1960, antes da explosão do reggae para o mundo.

É surpreendente como rocksteady é bom. Simples - guitarra, baixo, bateria, vocal e piano - e com toda a lerdeza malemolente que só a maconha faz com a música. E em sua maioria com letras românticas, pueris, tão simples quanto o ritmo, que lembram bastante aquelas dos primeiros anos do rock'roll

Mais surpreedente que saber que o Rocksteady é muito bom, é notar que, no blog, há vários discos do ritmo para baixar, assim como de outros tanto ritmos jamaicanos que só conhecemos através das esterotipadas que os grupos brasileiros dão na coisa.

Mas vá lá dar uma olhada no blog, ler sobre os artistas, escutar o podcast do ritmo à sua escolha. Por acaso eu escolhi o rocksteady e gostei, mas há vários outros que são passíveis de uma boa apreciação para ouvidos curiosos.

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12.08.2008

Good Times, Bad Times (4)

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Continuando a série, desta vez a resenha é de um show. Como muita gente deve saber, o Engenheiros do Hawaii é uma das bandas mais odiadas pela crítica musical brasileira. O motivo, não se sabe ao certo. Mas, a partir de início para meados da década de 1990, virou piada certa na crítica fazer troça do Engenheiros. E Humberto Gessinger até que não se importava; pelo contrário, sempre respondia com um senso de humor apurado, ironizando a tudo e a todos.

Vou colocar dois trechos que tratam do Engenheiros. Primeiramente, uma crítica de um show no Ginásio do Ibirapuera, em 1991. Quem escreveu foi André Forastieri, que fez a resenha do disco do Faith No More publicada aqui. Depois, vem uma "matéria" publicada em 1999 onde vários críticos da mídia nacional fazem perguntas irônicas para Gessinger, que respondo com o mesmo grau de ironia. Os dois textos foram publicados na finada Bizz, e eu achei eles na Comunidade da revista no Orkut.

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Engenheiros do Hawaii, Ginásio do Ibirapuera Julho de 1991

Como os leitores desta revista sabem, os Engenheiros Do Hawaii são simultaneamente o grupo predileto do público e o mais destacado pelos jornalistas, segundo o último Melhores do Ano. É uma situação engraçada, e que faz pensar. Será que o público é cretino? Ou os jornalistas são elitistas? Por que o verso "toda forma de poder é uma forma de morrer por nada" é inferior a "você diz que seu pai não te entende? mas você não entende os seus pais"? Alguém pode dizer por que catzo de razão os Engenheiros Do Hawaii se transformaram, para a crítica, num emblema de tudo que é ridículo e chato no rock brasileiro? Por que é OK tirar sarro do cabelo "paquita" de Gessinger, mas não cai bem gozar o bigodão bolerão de Renato Russo?

Foi caraminholando estas crucialíssimas questões que encarei um show dos Engenheiros no Ibirapuera. O Ibirapuera é por definição um saco. Lembra basquete e outros esportes detestáveis. E ver os Engenheiros não é minha idéia de diversão de sábado à noite. Sábado à noite é para ficar em casa vendo filmes e comendo pipoca. Ainda mais que isso, foi nem três meses depois do Rock In Rio, e o show do Ibira foi um repeteco do concerto no Maracanã: rock simples com um leve glacê progressivo, num desfilar de hits radiofônicos - aliás, na semana do show, três das dez músicas mais tocadas nas FMs de São Paulo eram dos Engenheiros.

Não gostei do show, ando sem a menor paciência para tudo que não seja metalizado. Agora, não tenho dezesseis anos, que é a idade média do público da banda, e olhando a coisa por olhos de adolescente não dá para negar que os Engenheiros são ótimos. O talento dos moços para confeccionar melodias pegajosas é do nível de Lulu Santos e Guilherme Arantes. A isso, some a imagem de "último dos independentes" da banda, a boa guitarra de Augustinho, as letras Caetanovelosófilas de Gessinger e uma visão sofisticada, literata, do que é rock no Brasil. O mix funciona. Vende muito e, mais do que isso, é respeitado por quem interessa, o público.

Críticos maria-vai-com-as-outras talvez preferissem que o público ouvisse exclusivamente as bandinhas underground de seus amigos ou, melhor ainda, que a garotada só escutasse bandas estrangeiras e ignorasse esse cafonérrimo rock nacional. Não, não é assim que funciona, coleguinhas. Os Engenheiros são bons paca no que fazem e, salvo acidentes de percurso, Humberto Gessinger se tornará nos próximos anos a maior ameaça ao trono de Roberto Carlos. Quem não gostar que vá reclamar com o bispo.

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Um caso de "amor": Gessinger e a imprensa

Pedimos a alguns críticos que fizessem uma pergunta a Humberto Gessinger. Veja abaixo por que ainda rola um clima "Kosovo" nessa relação:

Depois de lançar dez discos, o que ainda te leva a correr os riscos dessa infinita highway do pop nacional?
Thales de Menezes (Folha de S.Paulo)
Tocar contrabaixo.

Você acha que teria feito algo diferente caso fosse um "queridinho da crítica" e tivesse a obrigação de manter essa expectativa?
Jaime Biaggio (colaborador da SHOWBIZZ)
Achar que o artista escolhe o que vai fazer é ilusão. A gente é prisioneiro da nossa arte.

Por que vocês nunca mais conseguiram produzir nenhuma grande música pop como "Cidade Em Chamas", "Infinita Highway" e "Toda Forma De Poder"?
Marcelo Janot (Jornal do Brasil)
As pessoas romantizam aquele período. As pessoas são muito preguiçosas em procurar pérolas onde elas não estão explicitamente mostradas.

Você não acha uma injustiça nenhuma música dos Engenheiros ter sido incluída no disco Clássicos Do Sul, de Kleiton & Kledir, que reivindicam um lugar para a música típica do Rio Grande do Sul junto à moderna MPB?
Silvio Essinger (Jornal do Brasil)
Ainda não escrevi meus clássicos. Concordo com o que Kleiton & Kledir falam a respeito da música gaúcha, mas agora estou bem mais desesperançado. Rola um estranhamento muito grande em relação à cultura gaúcha no resto do país.

Você tem mais de cinco discos de rock em casa?
Alvaro Pereira Jr. (Rede Globo)
Do que chamam de rock'n'roll puro, não devo ter. Mas de rock progressivo, e seus subprodutos, eu tenho mais de 500.

Após show no Hollywood Rock de 1993, uma assessora tentou sem sucesso fazer as pazes da banda com os jornalistas de São Paulo. Essas rusgas com a imprensa paulista já acabaram?
Fernando Souza Filho (Rock Brigade)
Espero que ainda existam. Quanto mais a gente incomoda, significa que a gente ainda está ocupando espaço.

Os Engenheiros Do Hawaii sobreviveriam sem o messianismo que os caracteriza?
Pedro Alexandre Sanches (Folha de S.Paulo)
Não seria Engenheiros Do Hawaii sem messianismo.

Nos últimos quinze anos, a evolução do agrobusiness tem sido maior do que a da estética do rock gaúcho. Você nunca pensou em se dedicar à pecuária, atividade mais lucrativa do que a de roqueiro?
Luís Antônio Giron (Gazeta Mercantil)
Acho que vou editar os livros que o Giron escreve. Aí sim eu vou fazer dinheiro.

Você se acha um bom letrista ou você é um cara-de-pau?
Sérgio Martins (Época)
Eu sou um bom letrista.

Por que vocês não conseguem repetir o sucesso de dez anos atrás, como é o caso do Barão Vermelho, Titãs e Paralamas?
Marcos Filippi (Jornal da Tarde)
Acho que de repente o que a gente canta não está interessando tantas pessoas, mas isso não posso mudar.

Dizem que você se tornou o Oswaldo Montenegro do rock. Você concorda?
Jotabê Medeiros (O Estado de S.Paulo)
Oswaldo Montenegro do rock? Não. Acho que ele é multimídia e eu não sou.

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12.01.2008

Good Times, Bad Times (3)


Depois de alguns meses, retomo aqui a seção de resenhas clássicas de disco igualmente clássicos (ou não). Nessa terceira parte, vai o baita texto de Emerson Gasperin - editor da Bizz na virada dos 90 para os 00, morador de Floripa e atualmente editor do blog Fancaria, dentre outras coisas - sobre Issues, cosiderado um dos melhores discos do Korn. A resenha foi publicada na Bizz de fevereiro de 2000, época tomada pelo new metal de bandas como Limp Bizkit, Deftones e o próprio Korn. Felizmente, uma época que se foi.

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Bicho estranho, este tal de novo metal. Para fugir dos estereótipos do gênero, os caras foram limando tudo que remetesse aos áureos tempos do passado. Os cabelos perderam comprimento (os que continuaram longos ganharam opções além do corte pigmaleão dos anos 80), as letras deixaram de abordar lendas medievais e diabinhos para falar de dramas psicológicos ou das mazelas da atualidade, o figurino de lycra colante foi trocado pelas últimas tendências da moda.

Em
Issues, seu quarto disco, o Korn vai além e cria o metal sem metal, o metal em que é impossível bater cabeça. Ou melhor, até dá para "quebrar" o pescoço, mas apenas durante os segundos em que os riffs pesados dominam cada música. A maioria das faixas segue o pouco criativo método Korn de composição: começo com paredes de baixo e guitarra que ruem subitamente para que a voz fraquinha de Jonathan Davis consiga aparecer, como em "Trash", "Beg For Me" ou no primeiro single, "Falling Away From Me". A exceção é "Counting", a melhor do disco, não por ser boa, mas por ser a única pesada do início ao fim - nada que o Faith No More não fizesse com mais categoria e bom humor. Mas é em "4 U" que fica evidente a falta de traquejo dos caras do Korn para com o metal. É uma balada medíocre, quando até os parafusos que apertam os captadores da guitarra de Nuno Bettencourt (aquele gajinho do Extreme) sabem que banda de metal que se preze não passa sem uma balada matadora.

Assim, ao final de
Issues, dá saudade da época em que os metaleiros faziam questão de serem alienados e de se vestirem com os trajes mais estapafúrdios. Hoje, todo mundo é consciente e fashion - e a pose só aumentou. Esse troço disforme em que se transformou a música agressiva também dá saudade de Eddie, o monstro do Iron Maiden. Pelo menos nele era fácil identificar onde ficava a bunda para dar um belo chute.
Emerson Gasperin

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