12.28.2006

Reportagem (17): Retrospectiva 2006

.

Shows nacionais, bandas boas (e algumas nem tanto) surgindo, outras sendo (re) apresentadas: assim foi uma parte desse 2006 em Santa Maria mostrado pelo Cenabeatnik
.



Última semana do ano, emissoras de televisão fazendo as suas retrospectivas, revistas semanais escolhendo os personagens que se destacaram nos últimos 12 meses, jornais diários selecionando aquilo que de mais importante aconteceu em 2006 para seus cadernos especiais e, por trás de tudo, cada pessoa fazendo (ou começando a fazer) um balanço do que de bom e ruim aconteceu neste sexto ano do século 21. Nada mais natural, então, que o blog também faça a sua retrospectiva. E dá gosto de fazê-la quando uma pequena olhada para trás já é suficiente para dizer que, sim, 2006 foi bom para o cenário musical santa-mariense.


Em primeiro lugar, um ponto que muito incomodava as bandas locais, o de que a cidade não tinha lugares decentes para se tocar, hoje procede só em parte, porque muitos bares e boates dos mais variados estilos passaram a funcionar em 2006 – e alguns com as portas bem abertas para as bandas de Santa Maria. Ainda assim, se a grande maioria destes ainda continua com métodos “esdrúxulos”, para dizer o mínimo, de seleção de bandas, pelo menos outros incentivam a produção local, organizando festas e shows de qualidade sem medo de ousar e criar novos públicos.

Em segundo lugar, muitas bandas novas – e de qualidade – surgiram nos palcos santa-marienses. Com o acesso à música cada vez mais facilitado pela internet, não é mais preciso procurar tanto para se achar pessoas com “afinidades musicais”, o que torna a união destes em prol de um objetivo comum mais fácil.

Com estes dois pontos citados acima é que se cria uma “cena” musical em qualquer parte do mundo. Bares sem medo de abrir para bandas novas incentivam músicos que acabam por identificar um público mais receptivo para as suas composições, e assim está feito o espaço para a criatividade trabalhar. Não se tem como saber se a qualidade musical virá também junto dessa criatividade, mas uma coisa é certa: quanto maior a quantidade de bandas surgindo, mais provável é que algumas delas sejam realmente boas.(...)

______

1. Shows nacionais, festas originais





Pode até parecer exagero, ou então um exercício frustrado de futurologia, mas daqui a alguns anos muita gente vai passar pela rua Floriano Peixoto, nas quadras entre a rua Astrogildo de Azevedo e a avenida Presidente Vargas, e vai lembrar de 2006. O local certamente foi um dos mais movimentados na noite da cidade, e grande parte desse movimento se deve ao Macondo Bar. Visto por muita gente como um lugar “alternativo” demais, o bar se consolidou neste ano trazendo bandas conhecidas do cenário independente nacional como Autoramas (na foto acima, o vocalista Gabriel Thomaz), Walverdes, Pata de Elefante, Superguidis, Zefirina Bomba, Júpiter Maçã, dentre outros, e organizando festas para os mais variados gostos, desde para os saudosos pelos sons oitentistas aos apreciadores do fetichismo. Formou um público que se acostumou a escutar o novo e não estranhar, e de quebra se tornou também o principal palco para novas bandas santa-marienses.

Na metade deste mês, o Macondo se mudou; foi para um sobrado maior (foto ao lado) na rua Serafin Valandro, na quadra entre a Venâncio Aires e a Andradas, perto duma conhecida escola de idiomas. A previsão é que ainda no final deste ano bar já comece a funcionar.

Fica a pergunta: será que em 2007 será lembrado como o ano dessa quadra da Valandro?

Esse é novo futuro Macondo, na Valandro

_____




2. Bandas novas e a volta de velhas conhecidas




O ano de 2006 foi de surgimento de muitas bandas em Santa Maria, e algumas delas estiveram por aqui. A Crema (foto acima) apareceu lá no início do blog, no segundo post (2 de julho), como uma das promessas locais, e no decorrer dos meses acabou se confirmando como umas das boas bandas de rock’roll da cidade. Diversos shows no Macondo Bar, a maioria com boa presença do público, deram o gás necessário para o lançamento do primeiro single, “Você sabe sim”, em novembro, consolidando a banda como um “elo perdido” entre o lado b santa-mariense, mais alternativo e “diferente”, e o lado a, radiofônico, pop (ou rock) sem vergonha de o ser.
Outras bandas novas que estiveram por estas páginas neste ano foram a Consuelo, com sua inusitada mistura de rock, funk e música latina, a Sálvia, talvez a única banda local de reggae, e as vencedoras do maior festival de bandas do interior do estado, o Universo Pop: Polimorfia e Agente Six.





Mas nem só de coisa nova se fez a cena musical da cidade; algumas velhas conhecidas do público local voltaram à ativa com modificações. A Lactuca Sativa (na foto acima, três dos cinco integrantes da banda), depois de uma breve parada decorrente da saída do vocalista, voltou a tocar em Santa Maria com nova formação, divulgando o segundo disco e lembrando alguns velhos hits da banda, como “Dedo Duro” e “Gasolina”, que deixaram sua marca em boa parte da geração que hoje tem entre 18 e 20 e poucos anos.

A Sapato Vermelho, que ganhou bastante reconhecimento com a participação de sua primeira vocalista, Shirle de Moraes, no programa da TV Globo “Fama”, voltou aos palcos com uma nova vocalista, Franciele.

A T.S.F continuou perpetuando a barulheira, mas agora Brasil afora, com duas tours para além do estado e uma indicação para melhor álbum de hardcore nacional no prêmio da Revista Dynamite, além de ter lançado um DVD sobre o giro que fizeram pelo RS junto dos alemães da 54 Suicides.

Outras que fizeram 2006 o ano de volta à ativa foi a Inseto Social e a Doce Veneno, dos conhecidos Sininho e Guilherme Barros, que fez um belo show na boate Confraria na metade deste ano. Vale contar ainda o espetáculo de som e luzes que foi a apresentação da Nocet lançando seu segundo disco, “Bullets”, no Hotel Itaimbé, e a união das bandas de metal da cidade para a organização das duas edições da Hammer Fest realizadas neste ano.

- Jornal A Razão, 28 de Dezembro-

..

12.22.2006

Review (6): O "novo" disco dos Beatles

.




Recém lançado, “Love” é uma colagem de várias músicas dos fab four para um espetáculo milionário do Cirque du Soleil


Trinta e seis anos depois do fim dos Beatles , um novo disco da banda mais importante do século XX é lançado. Logo vem a pergunta: é mais um caça-níquel ou um disco de “raridades” que nunca havia sendo lançado? A resposta correta seria nenhuma das duas. Love, que acaba de ser lançado pela EMI no país, é um trabalho artesanal de colagem de trechos de mais de 130 músicas do grupo britânico feito sob encomenda pelo produtor máximo do grupo, George Martin, em parceria com o seu filho Giles, para um espetáculo do badalado Cirque du Soleil (aqui é a página oficial do espetáculo)


Os beatlemaníacos podem até virar a cara, mas os Martin fizeram um bom trabalho. Não profanaram a obra do grupo colocando elementos eletrônicos, como poderia acontecer; simplesmente misturaram trechos de diversas músicas - em sua maioria da fase mais criativa do grupo, de Revolver (1966) ao Abbey Road (1969) – e fizeram releituras que não descaracterizam as canções e sim as dão outra roupagem, juntando riffs de uma música com solos de outras de maneira tão incrível que dá até para se perguntar “mas a música original não era assim também?”. Não, não era, mas coisas como “Get Back” com o riff de “A Hard Day’s Night” parece que nasceram desta forma, juntas, tal é a maneira quase perfeita com que se encaixam. Outro exemplo: as duas faixas (talvez) mais psicodélicas da carreira dos Beatles, “Tomorrow Never Knows” e “Within You Without You” casam perfeitamente a cítara indiana da última com a batida quase eletrônica da primeira, formando um caldeirão sonoro incrivelmente coeso e poderoso.


A única gravação nova no CD é um arranjo de cordas composto por George Martin, hoje com 80 anos, para um take alternativo de “While my guitar gently weeps”, uma das poucas músicas da banda composta por George Harrison. No entanto, tudo o que se ouve nas 26 faixas soa de alguma forma novo, não como uma mera recompilação, e parte dessa sensação se dá pela turbinada que os Martin deram no som, já que a grande maioria dos discos originais dos Beatles nunca foram remasterizados e ainda tinham um som que deve bastante às gravações de hoje.



-Jornal A Razão, 21 de Dezembro de 2006-


***********
Aqui vai o link para quem quiser baixar o álbum, que tem quase 80 MB, mas vale cada espacinho que ele for ocupar no seu HD.





..

12.19.2006

Notas (8)

.


Ipod bagacero




O site promocional do Ipod, tocador de MP3 que é um dos “símbolos” do mundo moderno, divulgou recentemente um novo produto pra lá de inusitado: trata-se de um vibrador que funciona de acordo com o ritmo e a intensidade do som. O aparelho da Suki, chamado de OhMiBod, pretende “aprofundar” a experiência musical, combinando as sensações de escutar e sentir a música, literalmente.

Apesar de seguir a mesma linha de design do IPod, o OhMiBod é compatível com outros players. Além disso, o aparelho pode ser programado para funcionar de modo tradicional, sem a necessidade de música simultânea. A grosso modo, quando conectado no tocador, as vibrações oscilam em intensidade de acordo com dois fatores: volume e o gênero musical. Assim, é possível controlar os níveis de potência do vibrador apenas diminuindo o volume ou trocando de música.
Os usuários do produto já podem até desfrutar de uma comunidade virtual dedicada a troca de experiências, sugestões e discussões sobre quais são as playlists mais sexy do momento, o ClubVibe. O site oferece também compilações de DJs feitas especialmente para quem deseja tirar o maior proveito possível do OhMiBod.

O aparelho que une tecnologia, prazer e design, pode ser encontrado por U$ 69 nos EUA, ou encomendado no site do produto . No Brasil, ainda não há previsão de lançamento.


..

12.15.2006

Reportagem (16) : O novo Macondo

.





Última atividade do bar na rua Floriano Peixoto é hoje. Novo bar pretende reabrir no fim deste mês.


Depois de cerca de 20 meses de atividade, o Macondo Lugar, nome oficial da hoje conhecida “casa verde da Floriano”, vai trocar de lugar. A partir do final de dezembro, o bar vai funcionar na rua Serafin Valandro, entre a Venâncio Aires e Andradas (veja fotos).

Num espaço maior, o novo Macondo terá novidades: no primeiro andar, funcionará um bar nos moldes tradicionais que abrirá às 19h, com mesas e som ambiente. No segundo piso, interligado com o 1º, ficará o espaço para show, que vai abrir por volta das 23h. No subsolo, um conjunto de bandas associadas ao bar vai administrar um pequeno estúdio para ensaios, e o selo de roupas Rock Horrível, que em alguns shows já montava sua banquinha no local da Floriano, agora vai ganhar um lugar fixo, aberto do início da tarde até por volta das 21h.





A justificativa da mudança é contada por Jeff, um dos sócios do local:
_ Quando assinamos o contrato já sabíamos que teria de deixar o atual endereço em cerca de 20 meses. Como a gente não gosta de ficar parado, partimos para um outro lugar - diz.
O prédio atual será devolvido aos donos e, possivelmente, demolido. Desde já fica a lembrança de um lugar que, praticamente sozinho, criou uma "cena" alternativa na cidade, seja com shows de bandas interessantes do país ou mesmo festas com temáticas bastante diferente do que Santa Maria estava acostumada a sediar. O mérito do pessoal do bar também vai no sentido de não ter preconceito com festas/pessoas que praticamente toda uma sociedade "tradicional" ignora e, na tentativa de escondê-la como faz com seus ditos problemas, os trata como párias. A expectativa é de que, o bar continuando com a mesma proposta mas funcionando noutro local, Santa Maria até se acostume com esses párias e, aos poucos, vá perdendo o preconceito em categorizar em mais e melhor aqueles semelhantes da "classe" ou "grupo" a que cada um pertence.






Macondo Circus 2 - A segunda edição do Circus acontece neste final de semana no balneário Parque Serrano, em Itaara. Evento síntese das festividades do ano do Macondo, nesta edição o festival contará com shows de 12 bandas locais e uma nacional, o Bad Cock, do paulistano Hansen, ex-integrante da banda santista Harry. Além disso, haverá uma tenda com o melhor das festas mais tradicionais do bar, como a Fetish Fest, Clube da Criança Junkie (música dos anos 80 e início dos 90), Bela Lugosi is Dead (metal, gotic-rock) e Galo preto (música brasileira), dentre outras. O início do evento está marcado para o sábado à tarde e as linhas Jardim da Serra e Lourenci mantêm ônibus para o balneário até as 23 horas de sábado. O balneário fica a 300m da faixa e tem amplo espaço para estacionamento e camping.

Confira a relação das bandas santa-marienses que vão tocar no evento: TSF, Red House, Palo, Jokers, Tranze, Sapato Vermelho, Crema, Scarpast, Exumados, Sálvia, Voodoo e Daniel Rosa.

-Jornal A Razão, 14 de Dezembro de 2006-

..

12.13.2006

Notas (7): Acústicos mundo afora

.





Dois acústicos foram gravados pela MTV na semana passada, um no Brasil e outro nos Estados Unidos. O sempre rebelde Lobão, ex integrante das bandas Blitz e Vímana, gravou o seu em duas noites no Estúdio Quanta, em São Paulo.
Crítico ferrenho da estratégia das grandes gravadores e também da própria MTV, o cantor justificou a sua “traição” dizendo que o disco também é uma forma de mostrar o alcance do jabá no país:
_ Agora que eu gravei um acústico MTV quero ver se minhas músicas vão tocar nas rádios, se vai rolar uma grana da gravadora para elas tocarem - disse ele.

Com cenário dadaísta assinado por Zé Carratu, em que molduras de quadros de todos os tamanhos se harmonizam, Lobão desfilou versões unplugged de alguns de seus sucessos como "Decadance Avec Elegance", "Me Chama", "Rádio Blá" e "Corações Psicodélicos". Outros hits, como "Vida Bandida" e "Cena de Cinema", não entraram no programa. A fase independente de sua carreira teve espaço considerável, indo desde "El Desdichado" e "A Vida É Doce" até "Você e a Noite Escura", de seu último disco. O show contou ainda com uma canção composta com Lulu Santos nos tempos de Vímana, "O Mistério", e a participação de Beto Bruno, Marcelo Gross e Pedro Pelotas da Cachorro Grande em "A Gente Vai Se Amar".
(Coisa boa deve ter saído desse acústico).



***
Já nos Estados Unidos, uma dos últimas sobreviventes do falido new-metal, a banda Korn, deixou as guitarras de lado para gravar o novo Unplugged MTV no último sábado dia 9 de Dezembro, em Nova York. O show teve direção musical de Alex Coletti e os convidados Chester Bennington, do Linkin Park, Amy Lee, do Evanescence, e membros do The Cure. A previsão de lançamento do trabalho é 20 de fevereiro do ano que vem (se fosse adiado por mais um tempo, não faria falta... aliás, se nem saísse o disco, e o Korn resolvesse acabar de vez, como a tempo vem definhando junto com o new-metal, seria melhor ainda).


..

12.09.2006

Reportagem (15): O som dos Six

.




Em nove meses de atividade, a banda Agente Six já ganhou três prêmios em festivais por Santa Maria e região.



Do nome ao número de integrantes, passando pelo dia em que foi formada à hora que tocaram no Universo Pop, o número 6 acompanha a banda Agente Six. Mais do que acompanhar, o 6 talvez venha dando sorte: com apenas nove meses de atividade, a banda já ganhou três prêmios: 1º no Universo Pop (categoria Música nas Escolas), 3º no Festbanda de São Pedro Do Sul e, mais recentemente, 2º lugar num festival de bandas do Colégio Manoel Ribas – nessa última, perderam para um grupo de música nativista. Os prêmios, além de incentivar o trabalho da banda, mostram que eles são mais do que um representante do som “emo” na cidade, pecha que, através de uma reportagem sobre o estilo na cidade, acabaram ganhando:

_ Eu e o meu companheiro de banda, o Luismar (vocalista), somos emos, gostamos do estilo musical e nos identificamos, mas o resto da banda não, cada integrante tem o seu estilo, e o nosso som é uma mistura das influências de cada um - diz Rafael, 20 anos, o outro vocalista da banda. Uma audição da música com que ganharam o Universo Pop, “Destrua”, prova exatamente isso: a letra e os vocais, revezados entre Luismar e Rafael, tendem ao estilo emocore, mas a parte instrumental é variada, com uma pegada mais ligada ao rock’roll tradicional do que propriamente ao hardcore. Inclusive há um solo de guitarra, algo bastante raro de ser encontrado em músicas de bandas do estilo.
_ Fica a critério de cada um botar um rótulo na gente; se quiserem dizer que é emo, que é pop-rock, punk, que seja - completa o vocalista Luismar, 19 anos, estudante de Psicologia da UFSM.


Algo que chama atenção na Agente Six é a formação; além de ter dois vocalistas principais, algo incomum em bandas da cidade, há também uma menina no baixo, Bruna, 19 anos, estudante de Biologia na UFSM.
_ O pessoal costuma achar que ela é que canta, como normalmente acontece - brinca Luismar.
Completam a formação ainda os guitarristas Carson, estudante de Química Industrial da UFSM, e Matheus, que faz Engenharia Mecânica na mesma instituição, os dois com 20 anos, e o baterista Fernando, 19, estudante de Ciências da Computação da UFSM. Este último é o representante da veia “metal” da banda, inclusive usando pedal duplo (algo comum nos bateristas de heavy metal) em algumas músicas da banda.


O guitarrista Matheus e a baixista Bruna com o prêmio do Universo Pop



Além das seis músicas próprias que eles já tem gravado, o repertório da Agente Six conta com canções de grupos como CPM22, Raimundos, Green Day, Offspring e até mesmo Raul Seixas e Paralamas do Sucesso.
_ No último show que fizemos, no festival do colégio Maneco, resolvemos de última hora fazer um medley de “La Bamba” e “Twist and Shout” e ficou bem legal também - diz Rafael.
Com os prêmios conquistados recentemente, a banda espera tocar mais na cidade.
_ Foi uma surpresa a gente ter ganho o Universo Pop já da primeira vez em que participamos, com tanta banda boa concorrendo. O prêmio no festival do Maneco já nos rendeu um outro show, e assim, aos poucos, nós vamos indo - finaliza Luismar.


Contatos:
3221 4688/ 9119 6776 com Luismar

Site (dá para escutar algumas músicas da banda);
Fotolog




- Jornal A Razão, 7 de dezembro de 2006 -


Foto: Osvaldo Melo


..

12.04.2006

Notas (6): Nocet lança disco novo

.






Formada no já longínquo ano de 1989, a Nocet é a única banda da "velha guarda" do rock santa-mariense que está em atividade; mas não naquela "atividade" de fazer shows enquanto o pessoal não arruma outra atividade mais lucrativa, ou então como hobby - ou vício - de tocar as velhas músicas sempre: eles estão na atividade mesmo, compondo novas músicas, tocando quase toda a semana em locais de Santa Maria e região.


Tanto é que, nesta quarta-feira 6 de Dezembro, eles lançam o seu segundo CD, Bullets, em mega-show no salão de eventos do Itaimbé Palace Hotel, local em que a platéia, sentada, vai poder ver ainda melhor o espetáculo de luzes que eles planejam fazer. Os ingressos estão a venda por vários locais de Santa Maria, e mesmo com o calor infernal que faz na cidade por esta época (imagina o que virá em janeiro...), a expectativa é de lotação esgotada, afinal, como o início desse texto disse, a Nocet é a única banda da "velha guarda" do rock santa-mariense em atividade.




A atual formação da banda (na foto acima, da esquerda para a direita) inclui Marcus Molina (baixo e voz) e Fabrício Soriano (bateria), da formação original, e mais Benhur Borges (guitarra).


***
Mas quem quer lembrar de como era a Nocet das antigas - com o irmão de Marcus, Renato Molina, nos vocais e Gustavo Assis Brasil , hoje professor de jazz nos EUA, na guitarra - pode ver essa pérola em forma de videoclipe da música "It will pass by me".
Atenção especial no visual da banda, bem de acordo com a época (o clipe é de 1992) hard-roqueira que Santa Maria vivia.

No site da banda dá para escutar as músicas do disco novo, e também algumas das antigas.


******


Fotos: Daniel Petry, vulgo Fokks. (do site da banda)


..

12.01.2006

Reportagem (14) : No estúdio com a vencedora

.




Com apenas 3 meses de atividade, banda Polimorfia foi a ganhadora do Universo Pop deste ano na categoria Livre



Realizado no último fim de semana, no ginásio do Clube Dores, o festival Universo Pop reuniu cerca de 74 bandas, que disputaram os prêmios em duas categorias: Livre e Música nas Escolas, além de premiações individuais. A banda vencedora na categoria livre foi a Polimorfia, formada por quatro ex-integrantes da banda Rua XV e pelo vocalista Marcopolo Maia, que também levou o prêmio de melhor interprete do evento.


1) Ambientação

É numa terça-feira à tarde algo nublada que os cinco integrantes da Polimorfia recebem o CenaBeatnik para a entrevista. O local é o próprio estúdio da banda, que eles mantêm na casa do baterista Maurício Hoffmann, no bairro Duque de Caxias, perto da matriz do supermercado Dois Irmãos. Passado um pouco da hora marcada, o anfitrião Maurício vem à frente de casa, dá um chega para lá no seu cachorro (pequeno, mas valente como todos os pequenos) e conduz o repórter rapidamente ao estúdio no fim do pátio, onde a banda já espera sentada tranquilamente. Todos se levantam, se apresentam e, nem questionados, já começam a falar. Puxados pelo baterista, e aditivados pela ansiedade que toda entrevista parece causar, falam bastante; sobre a banda em que quatro dos cinco integrantes tocavam (a Rua XV), sobre os gostos musicais de cada um (o hard-rock predomina, mas o metal, a música clássica e o jazz estão presentes também).
Cinco pessoas falando quase ao mesmo tempo torna difícil a compreensão total do assunto, principalmente quando o interlocutor está no meio e tenta olhar para todos os lados, na tentativa de enxergar quem fala o quê. Mas o início costuma ser assim, a banda tentando causar uma boa primeira impressão e o repórter ainda entrando no contexto da situação.

2) Contexto sendo explorado

Poucos minutos depois, já se identifica os integrantes da banda. Sentados em meia lua, com o repórter no meio, estão, da esquerda para a direita: o já citado Maurício, 18 anos, o guitarrista Rafael Reis, 19, o vocalista Marcopolo Maia, 22, o baixista Adelar Martins, 19, e o também guitarrista Guilherme Marin, 20. Pergunta-se sobre o Universo Pop; Maurício responde prontamente:
_ Foi legal, tinha bastante banda de qualidade, o palco era bem grande, dos que a gente não vê pela cidade.
Marcopolo complementa:
_ Eram 10 minutos só, a gente teve que mostrar uma boa organização para ajustar os instrumentos e já começar a tocar. Mas a reação do pessoal foi boa; quando começamos a primeira, “Cochise”, do Audioslave, as pessoas vieram para a frente do palco, agitaram. Depois ainda tocamos a nossa, “Seja você".
Essa última, que já toca em uma rádio local, é a primeira de mais três músicas prontas que a Polimorfia têm, fora as que estão em fase de composição:
_ Esses dias estávamos trabalhando numa que o Rafael trouxe. Vamos ver se até o fim deste ano ou o início do ano que vem temos músicas suficiente para gravar um CD”, diz Maurício.





3) Perguntas inevitáveis

Numa entrevista com bandas ainda desconhecidas do grande público, certos questionamentos são inevitáveis; por mais batidas que sejam, são perguntas que devem ser feitas, de alguma maneira, em algum período. A primeira: Por que do nome Polimorfia? Novamente Maurício é quem esclarece:
_ Bom, poli significa várias, morfia é forma. Várias formas seria a tradução. É mais por causa das nossas influências, que são diversas, mas tende ao mesmo ponto em comum, que é o hard-rock de bandas como Van Halen, TNT, Audioslave e das santa-marienses Fuga, Doce Veneno, Feeling.
A segunda pergunta, que seria sobre as influências da banda, acaba de ser respondida. Passamos a uma terceira, que no contexto se torna inevitável: Quatro de vocês tocavam na Rua XV, por que não resolveram continuar com o mesmo nome?
_ Queríamos diferenciar o som, ser mais rock, e para isso tínhamos que trocar de nome, começar quase do zero mesmo. Antes não podíamos evoluir juntos, coisa que agora fazemos porque todos estão no mesmo nível musical, diz Maurício.


4) Audição e uma inquietação

Após a conversa, é hora da audição. A banda põe para tocar três músicas: “Seja você”, e duas covers (“Cochise” e “É Proibido Fumar”). Esta última, em versão quase heavy-metal – usar a referência altamente técnica do metal nas versões e músicas próprias é algo comum para a banda - surpreende pela excelente qualidade e pela criatividade, o que não é muito comum quando se fala em cover.
Mas quando do aparelho sai a música “Seja você”, surge um pouco de desapontamento: apesar de ser um hard-rock bem feito, com a parte instrumental muito bem tocada, os clichês de uma “música para tocar em rádio” estão todos ali, límpidos, para quem quiser ver: o solo da introdução, o refrão pegajoso, a letra com pitadas de auto-ajuda, a fórmula previsível do andamento da canção, etc.
Como a banda diz, “Seja você” é a provável carro-chefe do primeiro Cd – o que leva a uma constatação: o problema não é das bandas que repetem a mesma fórmula, mas sim das rádios que exigem essa fórmula já gasta para que as músicas toquem em sua programação.


-Jornal A Razão, 30 de Novembro de 2006-
Fotos: Paulo Pires


*******

Veja os outros vencedores do Universo Pop:

Categoria livre
1º ) Polimorfia (Santa Maria)
2º ) Advertência (São Sepé)
3º ) Nitra (Santa Maria)

Categoria música nas escolas
1º) Agente Six (Santa Maria)
2º) Púrpura (Santa Maria)
3º) Lancaster (Santa Maria)

Melhor Interprete – Marcopolo Maia – Polimorfia (Santa Maria)
Melhor Composição – Estrela da Manhã - Rastros de Sol (Santa Maria)
Música mais popular – Anestesia (Palmeiras das Missões)
Melhor Instrumentista – Trio de metais da banda Advertência (São Sepé)



..